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Governo espanhol quer barrar ilegais
Neste ano, quase 22 mil africanos chegaram às Ilhas Canárias, cinco vezes mais que em 2005; 40% morrem na travessia
Parlamento Europeu pede a membros da UE que ajudem a controlar fronteira; para oposição, governo socialista é culpado pelo maior fluxo
Santiago Ferrero/Reuters
![](../images/e0509200601.jpg) |
Imigrantes chegam ao porto de Los Cristianos, na ilha de Tenerife; travessias levam sete dias, em média, e passageiros bebem até água do mar para sobreviver |
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
Nos últimos cinco dias, quase
3.000 imigrantes africanos ilegais desembarcaram nas Ilhas
Canárias, arquipélago espanhol
localizado na costa ocidental da
África. "Não vamos tolerar que
continuem chegando ilegais,
estamos dispostos a agir com
firmeza", disse ontem a vice-premiê espanhola, María Teresa Fernández de la Vega.
O governo socialista espanhol é acusado pela oposição de
direita de ter transformado o
país em "paraíso para os ilegais". Entre 2004 e 2005, a Espanha regularizou a situação de
milhares de imigrantes, e quase
1 milhão deles obteve o visto de
permanência.
Apenas de janeiro a agosto, as
Canárias receberam quatro vezes mais imigrantes que em todo 2005. Na semana passada,
De la Vega esteve em Bruxelas
para pedir ajuda à União Européia para aumentar a vigilância
entre África e Espanha.
A Comissão de Liberdade,
Justiça e Interior do Parlamento Europeu exortou ontem os
países-membros da UE a adotarem "medidas concretas" para ajudar a Espanha na prevenção da imigração ilegal.
Discurso mais duro
Em reunião com todos os
embaixadores espanhóis no exterior, De la Vega pediu empenho ao corpo diplomático para
convencer os países de origem
a cumprir sua parte na tentativa de controlar o fluxo ilegal.
A jurista De la Vega é considerada braço direito do premiê
José Luis Rodríguez Zapatero e
fez diversas viagens ao continente africano como vice-premiê. Sua mudança de discurso
indica uma reviravolta na política de imigração espanhola.
"Que fique bem claro: todo
mundo que entrar na Espanha
de forma irregular terá que deixar o país, mais cedo ou mais
tarde", disse. Nos últimos 12
meses, mais de 54 mil imigrantes foram repatriados.
Estima-se que 40% dos que
embarcam morram em naufrágios. Nas últimas semanas, vários cadáveres têm chegado às
praias de Nuadibú e Nuakchott,
na Mauritânia.
Perigo maior
A periculosidade da travessia
dos imigrantes africanos ilegais
rumo à Espanha aumentou nos
últimos anos. Com mais vigilância e a assinatura de acordos
bilaterais com os principais
países emissores, os imigrantes
estão partindo de portos cada
vez mais distantes e viajando
em alto-mar.
O controle mais presente no
litoral marroquino, de onde os
ilegais precisavam atravessar
poucas dezenas de quilômetros
rumo à Andaluzia, no Sul da Espanha, transformou as mais
distantes Ilhas Canárias no
destino mais visado.
Até o início do ano, a maioria
das embarcações partia de portos na Mauritânia, a 800 quilômetros das Canárias. Com o aumento da vigilância também lá,
as viagens estão começando no
Senegal, a 1.700 quilômetros do
arquipélago. Quase a mesma
distância entre o porto de Santos e Salvador, na Bahia.
A viagem leva cerca de sete
dias, quando não acontecem
imprevistos -comuns para tripulações inexperientes.
A Espanha possui 3 milhões
de imigrantes legalizados e, estima-se, 1 milhão de ilegais.
Desde 2003, o país tem recebido uma média de 500 mil novos
imigrantes por ano, a maioria
deles latino-americanos.
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