São Paulo, terça-feira, 05 de setembro de 2006

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Governo espanhol quer barrar ilegais

Neste ano, quase 22 mil africanos chegaram às Ilhas Canárias, cinco vezes mais que em 2005; 40% morrem na travessia

Parlamento Europeu pede a membros da UE que ajudem a controlar fronteira; para oposição, governo socialista é culpado pelo maior fluxo

Santiago Ferrero/Reuters
Imigrantes chegam ao porto de Los Cristianos, na ilha de Tenerife; travessias levam sete dias, em média, e passageiros bebem até água do mar para sobreviver


RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL

Nos últimos cinco dias, quase 3.000 imigrantes africanos ilegais desembarcaram nas Ilhas Canárias, arquipélago espanhol localizado na costa ocidental da África. "Não vamos tolerar que continuem chegando ilegais, estamos dispostos a agir com firmeza", disse ontem a vice-premiê espanhola, María Teresa Fernández de la Vega.
O governo socialista espanhol é acusado pela oposição de direita de ter transformado o país em "paraíso para os ilegais". Entre 2004 e 2005, a Espanha regularizou a situação de milhares de imigrantes, e quase 1 milhão deles obteve o visto de permanência.
Apenas de janeiro a agosto, as Canárias receberam quatro vezes mais imigrantes que em todo 2005. Na semana passada, De la Vega esteve em Bruxelas para pedir ajuda à União Européia para aumentar a vigilância entre África e Espanha.
A Comissão de Liberdade, Justiça e Interior do Parlamento Europeu exortou ontem os países-membros da UE a adotarem "medidas concretas" para ajudar a Espanha na prevenção da imigração ilegal.

Discurso mais duro
Em reunião com todos os embaixadores espanhóis no exterior, De la Vega pediu empenho ao corpo diplomático para convencer os países de origem a cumprir sua parte na tentativa de controlar o fluxo ilegal.
A jurista De la Vega é considerada braço direito do premiê José Luis Rodríguez Zapatero e fez diversas viagens ao continente africano como vice-premiê. Sua mudança de discurso indica uma reviravolta na política de imigração espanhola.
"Que fique bem claro: todo mundo que entrar na Espanha de forma irregular terá que deixar o país, mais cedo ou mais tarde", disse. Nos últimos 12 meses, mais de 54 mil imigrantes foram repatriados.
Estima-se que 40% dos que embarcam morram em naufrágios. Nas últimas semanas, vários cadáveres têm chegado às praias de Nuadibú e Nuakchott, na Mauritânia.

Perigo maior
A periculosidade da travessia dos imigrantes africanos ilegais rumo à Espanha aumentou nos últimos anos. Com mais vigilância e a assinatura de acordos bilaterais com os principais países emissores, os imigrantes estão partindo de portos cada vez mais distantes e viajando em alto-mar.
O controle mais presente no litoral marroquino, de onde os ilegais precisavam atravessar poucas dezenas de quilômetros rumo à Andaluzia, no Sul da Espanha, transformou as mais distantes Ilhas Canárias no destino mais visado.
Até o início do ano, a maioria das embarcações partia de portos na Mauritânia, a 800 quilômetros das Canárias. Com o aumento da vigilância também lá, as viagens estão começando no Senegal, a 1.700 quilômetros do arquipélago. Quase a mesma distância entre o porto de Santos e Salvador, na Bahia.
A viagem leva cerca de sete dias, quando não acontecem imprevistos -comuns para tripulações inexperientes.
A Espanha possui 3 milhões de imigrantes legalizados e, estima-se, 1 milhão de ilegais. Desde 2003, o país tem recebido uma média de 500 mil novos imigrantes por ano, a maioria deles latino-americanos.


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