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SUCESSÃO NOS EUA / ÍDOLO DOS CONSERVADORES
Sarah Palin injeta ânimo novo na base republicana
Candidata a vice tenta reposicionar tema dos valores morais como divisor de águas
Alta exposição na mídia da governadora surpreende equipe de Obama, mas desafios para parceira de McCain ainda estão por vir
ANDREW WARD E EDWARD LUCE
DO "FINANCIAL TIMES", EM ST. PAUL
Foi o mais prolongado e ruidoso aplauso ouvido desde que
Barack Obama subiu ao palanque em Denver, na semana passada. Depois de diversos ciclos
noticiosos e inumeráveis debates sobre sexismo, a candidata a
vice de John McCain, Sarah Palin, se viu lançada a um papel de
destaque em uma Convenção
Republicana revigorada.
Dada a natureza fluida da
atual campanha presidencial, a
maioria dos analistas afirma
que é cedo demais para dizer se
o muito elogiado discurso de
Palin, na noite de quarta-feira,
realmente "virou o jogo", como
muitos republicanos alegavam.
Mas, em curto prazo, o discurso
realizou três coisas.
Primeiro, revigorou a base
conservadora do Partido Republicano. Eleitores que se definem como evangélicos respondem por cerca de um terço dos
votos do partido e um alto comparecimento entre eles pode
representar um importante fator de vitória em Estados ainda
não decididos, como o Ohio.
Até recentemente, muitos
dos eleitores mais conservadores em termos sociais vinham
oferecendo apoio morno a
John McCain, e alguns continuavam hostis à sua candidatura. Mas o pronunciamento de
McCain em agosto de que a vida humana começa na concepção, e sua seleção de Palin, oponente do aborto, atraíram a
adesão do bloco religioso.
Alta exposição
Em segundo lugar, a seleção
de Palin apanhou de surpresa o
comando da campanha de Obama. Em seu discurso, ela zombou do discurso de Obama em
Denver, na semana passada.
"Mas quando a nuvem da retórica se vai, quando o rugido
da multidão desaparece, quando os holofotes do estádio se
apagam, e quando as colunas
gregas de isopor são recolhidas
a um depósito, qual é exatamente o plano de nosso oponente?", ela perguntou.
A fascinação da mídia por Palin permitiu que a campanha de
McCain dominasse as notícias.
O efeito foi roubar de Obama o
ímpeto que ele esperava conquistar com a bem-sucedida
convenção democrata.
O terceiro benefício trazido
por Palin é sua capacidade de
ajudar os republicanos a fazer
com que a eleição gire em torno
de cultura e de valores, e não da
economia. A noite de quarta seria inicialmente dedicada à
"prosperidade". Mas a economia mal foi mencionada.
"Caso essa eleição gire em
torno de cultura, ganhamos; se
girar em torno da economia,
eles ganham", disse um congressista republicano.
A popularidade de Palin entre os republicanos deriva em
larga medida de seu conservadorismo social e, em termos
mais amplos, de seus valores
rústicos, representados por seu
entusiasmo pela caça e a pesca.
Na quarta-feira, ela tentou ampliar ainda mais esse apelo aos
valores simples, ao se definir
como "uma mãe comum" e como defensora dos eleitores médios contra uma elite de centro-esquerda supostamente representada por Obama.
Palin vem sendo supostamente auxiliada pelo que algumas pessoas acreditam tenha
sido o tratamento quase sexista
que recebeu da mídia. Isso permitiu que ela se posicionasse
como uma pessoa pronta a lutar contra as elites privilegiadas. "E aprendi rapidamente,
nos últimos dias, que, se você
não for um membro bem aceito
da elite de Washington, há pessoas na mídia que podem considerá-lo como desqualificado
apenas por isso", ela disse.
Palin terá de enfrentar testes
bem mais severos ao iniciar seu
trabalho no traiçoeiro mundo
das campanhas eleitorais em
Estados indecisos. O debate
que realizará na televisão contra o senador Joe Biden, o experiente candidato democrata à
Vice-Presidência, no dia 2 de
outubro, pode se tornar um
momento decisivo. Mas ela não
parece mais ser o peso morto
que muitos democratas esperavam quando do anúncio de seu
nome, uma semana atrás.
(Tradução de PAULO MIGLIACCI)
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