São Paulo, sexta-feira, 05 de setembro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / ÍDOLO DOS CONSERVADORES

Sarah Palin injeta ânimo novo na base republicana

Candidata a vice tenta reposicionar tema dos valores morais como divisor de águas

Alta exposição na mídia da governadora surpreende equipe de Obama, mas desafios para parceira de McCain ainda estão por vir

ANDREW WARD E EDWARD LUCE DO "FINANCIAL TIMES", EM ST. PAUL

Foi o mais prolongado e ruidoso aplauso ouvido desde que Barack Obama subiu ao palanque em Denver, na semana passada. Depois de diversos ciclos noticiosos e inumeráveis debates sobre sexismo, a candidata a vice de John McCain, Sarah Palin, se viu lançada a um papel de destaque em uma Convenção Republicana revigorada. Dada a natureza fluida da atual campanha presidencial, a maioria dos analistas afirma que é cedo demais para dizer se o muito elogiado discurso de Palin, na noite de quarta-feira, realmente "virou o jogo", como muitos republicanos alegavam. Mas, em curto prazo, o discurso realizou três coisas. Primeiro, revigorou a base conservadora do Partido Republicano. Eleitores que se definem como evangélicos respondem por cerca de um terço dos votos do partido e um alto comparecimento entre eles pode representar um importante fator de vitória em Estados ainda não decididos, como o Ohio. Até recentemente, muitos dos eleitores mais conservadores em termos sociais vinham oferecendo apoio morno a John McCain, e alguns continuavam hostis à sua candidatura. Mas o pronunciamento de McCain em agosto de que a vida humana começa na concepção, e sua seleção de Palin, oponente do aborto, atraíram a adesão do bloco religioso.
Alta exposição Em segundo lugar, a seleção de Palin apanhou de surpresa o comando da campanha de Obama. Em seu discurso, ela zombou do discurso de Obama em Denver, na semana passada. "Mas quando a nuvem da retórica se vai, quando o rugido da multidão desaparece, quando os holofotes do estádio se apagam, e quando as colunas gregas de isopor são recolhidas a um depósito, qual é exatamente o plano de nosso oponente?", ela perguntou. A fascinação da mídia por Palin permitiu que a campanha de McCain dominasse as notícias. O efeito foi roubar de Obama o ímpeto que ele esperava conquistar com a bem-sucedida convenção democrata. O terceiro benefício trazido por Palin é sua capacidade de ajudar os republicanos a fazer com que a eleição gire em torno de cultura e de valores, e não da economia. A noite de quarta seria inicialmente dedicada à "prosperidade". Mas a economia mal foi mencionada. "Caso essa eleição gire em torno de cultura, ganhamos; se girar em torno da economia, eles ganham", disse um congressista republicano. A popularidade de Palin entre os republicanos deriva em larga medida de seu conservadorismo social e, em termos mais amplos, de seus valores rústicos, representados por seu entusiasmo pela caça e a pesca. Na quarta-feira, ela tentou ampliar ainda mais esse apelo aos valores simples, ao se definir como "uma mãe comum" e como defensora dos eleitores médios contra uma elite de centro-esquerda supostamente representada por Obama. Palin vem sendo supostamente auxiliada pelo que algumas pessoas acreditam tenha sido o tratamento quase sexista que recebeu da mídia. Isso permitiu que ela se posicionasse como uma pessoa pronta a lutar contra as elites privilegiadas. "E aprendi rapidamente, nos últimos dias, que, se você não for um membro bem aceito da elite de Washington, há pessoas na mídia que podem considerá-lo como desqualificado apenas por isso", ela disse. Palin terá de enfrentar testes bem mais severos ao iniciar seu trabalho no traiçoeiro mundo das campanhas eleitorais em Estados indecisos. O debate que realizará na televisão contra o senador Joe Biden, o experiente candidato democrata à Vice-Presidência, no dia 2 de outubro, pode se tornar um momento decisivo. Mas ela não parece mais ser o peso morto que muitos democratas esperavam quando do anúncio de seu nome, uma semana atrás.
(Tradução de PAULO MIGLIACCI)



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