São Paulo, Domingo, 05 de Setembro de 1999
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Hotel de jornalistas é invadido

do enviado especial

Membros do grupo pró-Indonésia Aitarak invadiram ontem por duas vezes o Hotel Mahkota Timor, no centro da capital, Dili. Dispararam tiros e ameaçaram matar jornalistas.
Por mais de quatro horas, o quarteirão do hotel ficou cercado por membros do grupo. Os hóspedes foram avisados para não sair do hotel. Os ataques causaram correria e pânico, mas ninguém ficou ferido.
As duas invasões ocorreram na presença de policiais e militares indonésios, que estão encarregados de garantir a segurança no território e têm ordens explícitas, mas não cumpridas, de apreender armas dos grupos.
O hotel é visado pelas milícias porque se tornou centro de operações da Unamet (Missão das Nações Unidas para o Timor Leste). Além disso, ontem estavam hospedados nele a maioria dos jornalistas estrangeiros que estão cobrindo o referendo, inclusive o enviado especial da Folha.
Foi no auditório do Hotel Mahkota que o chefe da Unamet, Ian Martin, divulgou, às 9h10 de ontem, o resultado do referendo.
Cerca de 50 soldados e militares faziam a segurança do local no momento.
Com a divulgação do resultado, as milícias iniciaram uma série de ataques na cidade. Por volta do meio-dia, um caminhão carregado de membros da Aitarak chegou às proximidades do hotel.
Um homem em uma moto disparou dois tiros para o ar, parado na esquina do quarteirão do hotel, a cerca de 100 m da porta principal. Enquanto isso, outros membros tentavam invadir os fundos do hotel.
Dois fotógrafos portugueses que tentaram registrar a cena, um do chão e outro do telhado, tiveram armas apontadas para eles.
Os militares conseguiram conter os homens armados. Mas, cerca de duas horas depois, um membro da milícia passou o bloqueio da polícia e, com um facão, quebrou o vidro da porta do hotel. As pessoas correram para os andares de cima.
O homem entrou no saguão principal, gritou algumas palavras em tetum, a língua local, e saiu. Na saída, deixou seu facão cair no chão. Um policial que estava na porta, em vez de apreender a arma, a entregou de volta ao membro da milícia.
As pessoas foram para seus quartos. Uma hora depois, quatro homens, com armas caseiras, abriram fogo contra a fachada de vidro do hotel.
Entraram correndo no prédio e subiram ao primeiro andar. O prédio tem dois andares.
Bateram em várias portas e saíram. De novo, a polícia não agiu.
Nesse momento, após reforço do Exército, já havia mais de uma centena de policiais e soldados cercando o prédio.
O tenente-coronel Leo Pardede, chefe da polícia local, que chegou ao hotel às 16h50, negou que sua tropa tivesse sido negligente.
Disse que seus homens conseguiram segurar muitos membros das milícias e deixaram escapar apenas alguns.
Para aumentar a segurança, chamou 30 atiradores para guardar o prédio durante a noite.


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