São Paulo, Domingo, 05 de Setembro de 1999
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DEPOIS DO RESULTADO
Grupos armados contrários à independência atacam civis e observadores internacionais
Violência toma ruas de Timor Leste

RENATO FRANZINI
enviado especial a Timor Leste

Sob os olhos da polícia e do Exército indonésios, grupos armados reagiram ontem violentamente ao resultado do referendo que decidiu pela separação da ex-colônia portuguesa de Timor Leste em relação à Indonésia.
A ONU teve de retirar seus funcionários de duas cidades, Los Palos e Same, onde grupos estavam atirando aleatoriamente.
Em outras cidades, incluindo a capital, Dili, pessoas pró-independência tiveram suas casas queimadas e milhares delas, ameaçadas de morte, tiveram de procurar abrigo nas montanhas ou em instalações da ONU.
Em Liquiça (30 km a oeste de Dili), um policial civil norte-americano levou um tiro no estômago. A ONU mandou dois helicópteros ao local para resgatá-lo.
Em Maliana, cidade dominada por grupos pró-Jacarta, na fronteira com Timor Oeste, os ataques causaram várias mortes, segundo um funcionário da ONU disse à agência "Reuters". A ONU retirou sua equipe de Maliana há dois dias, por falta de segurança.
Em Dili, milícias invadiram o hotel onde está hospedada a maioria dos jornalistas.
No momento da invasão, estavam no prédio o líder pró-independência Leandro Isaac e o chefe do escritório do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) na cidade, Christian Koch-Castro. Ninguém saiu ferido.
A onda de violência aumentou logo após o anúncio, às 9h10 (22h10 de anteontem em Brasília), do resultado do referendo realizado na última segunda.
Segundo a ONU, que organizou o plebiscito, dos 451.792 eleitores registrados (a região tem cerca de 800 mil habitantes), 78,5% votaram pela independência. Milícias pró-Indonésia a acusam de ter sido parcial e de ter feito campanha pelo resultado que prevaleceu.
Segundo os acordos acertados em Nova York, que garantiram a realização do plebiscito, a Indonésia se compromete a permitir um processo de transição para a independência no território depois que o resultado for ratificado pelo Parlamento do país, o que deve ocorrer em novembro.
O presidente indonésio, B.J. Habibie, disse que aceitará o resultado. O chefe das Forças Armadas, o general Wiranto, deve chegar hoje à região e se reunir com líderes dos grupos pró-Jacarta.
O principal líder pró-independência, Xanana Gusmão, em prisão domiciliar em Jacarta, capital indonésia, deve ser libertado na quarta-feira. "Nós prevemos um genocídio em Timor Leste e uma total destruição numa tentativa desesperada dos generais e políticos indonésios de negar a liberdade ao povo de Timor Leste", disse Gusmão, que pediu que a ONU envie uma força de paz à região para acompanhar a transição até a independência.
Timor Leste foi invadido pelo Exército indonésio em dezembro de 1975 e anexado pelo país no ano seguinte. Nos primeiros anos de domínio indonésio, organizações de direitos humanos dizem que mais de 200 mil pessoas foram assassinadas ou morreram de fome ou de doenças.


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