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DEPOIS DO RESULTADO
Grupos armados contrários à independência atacam civis e observadores internacionais
Violência toma ruas de Timor Leste
RENATO FRANZINI
enviado especial a Timor Leste
Sob os olhos da polícia e do
Exército indonésios, grupos armados reagiram ontem violentamente ao resultado do referendo
que decidiu pela separação da ex-colônia portuguesa de Timor Leste em relação à Indonésia.
A ONU teve de retirar seus funcionários de duas cidades, Los Palos e Same, onde grupos estavam
atirando aleatoriamente.
Em outras cidades, incluindo a
capital, Dili, pessoas pró-independência tiveram suas casas
queimadas e milhares delas,
ameaçadas de morte, tiveram de
procurar abrigo nas montanhas
ou em instalações da ONU.
Em Liquiça (30 km a oeste de
Dili), um policial civil norte-americano levou um tiro no estômago. A ONU mandou dois helicópteros ao local para resgatá-lo.
Em Maliana, cidade dominada
por grupos pró-Jacarta, na fronteira com Timor Oeste, os ataques
causaram várias mortes, segundo
um funcionário da ONU disse à
agência "Reuters". A ONU retirou
sua equipe de Maliana há dois
dias, por falta de segurança.
Em Dili, milícias invadiram o
hotel onde está hospedada a
maioria dos jornalistas.
No momento da invasão, estavam no prédio o líder pró-independência Leandro Isaac e o chefe
do escritório do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas
para Refugiados) na cidade,
Christian Koch-Castro. Ninguém
saiu ferido.
A onda de violência aumentou
logo após o anúncio, às 9h10
(22h10 de anteontem em Brasília), do resultado do referendo
realizado na última segunda.
Segundo a ONU, que organizou
o plebiscito, dos 451.792 eleitores
registrados (a região tem cerca de
800 mil habitantes), 78,5% votaram pela independência. Milícias
pró-Indonésia a acusam de ter sido parcial e de ter feito campanha
pelo resultado que prevaleceu.
Segundo os acordos acertados
em Nova York, que garantiram a
realização do plebiscito, a Indonésia se compromete a permitir
um processo de transição para a
independência no território depois que o resultado for ratificado
pelo Parlamento do país, o que
deve ocorrer em novembro.
O presidente indonésio, B.J. Habibie, disse que aceitará o resultado. O chefe das Forças Armadas,
o general Wiranto, deve chegar
hoje à região e se reunir com líderes dos grupos pró-Jacarta.
O principal líder pró-independência, Xanana Gusmão, em prisão domiciliar em Jacarta, capital
indonésia, deve ser libertado na
quarta-feira. "Nós prevemos um
genocídio em Timor Leste e uma
total destruição numa tentativa
desesperada dos generais e políticos indonésios de negar a liberdade ao povo de Timor Leste", disse
Gusmão, que pediu que a ONU
envie uma força de paz à região
para acompanhar a transição até
a independência.
Timor Leste foi invadido pelo
Exército indonésio em dezembro
de 1975 e anexado pelo país no
ano seguinte. Nos primeiros anos
de domínio indonésio, organizações de direitos humanos dizem
que mais de 200 mil pessoas foram assassinadas ou morreram
de fome ou de doenças.
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