São Paulo, Terça-feira, 05 de Outubro de 1999
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TIMOR LESTE

Presença de soldados brasileiros é vista como tentativa de evitar que tropas indonésias destruam instalação

Brasil e Indonésia dividem quartel

RICARDO BONALUME NETO
enviado especial a Timor Leste

Os militares brasileiros iniciaram ontem suas atividades na Interfet (Força Internacional da ONU para Timor Leste) apesar de estar se acomodando em um local particularmente delicado: um quartel ainda ocupado pelo Exército indonésio.
O pelotão de Polícia do Exército de Brasília, com 51 homens, inclui 8 membros especializados em perícias criminais, e 5 brasileiros foram empregados ontem nessa atividade. Mas a Interfet, liderada pelos australianos, não divulgou mais detalhes da missão.
Os militares brasileiros estão compartilhando as instalações com soldados indonésios que ainda não abandonaram a ilha.
O Exército indonésio é acusado de auxiliar os paramilitares antiindependência e de participar da destruição de instalações das Forças Armadas e prédios públicos. A presença dos brasileiros no quartel tem sido vista como uma forma de impedir que pelo menos essas edificações sejam destruídas quando os indonésios se forem.
"Estamos tendo toda a cooperação dos indonésios e toda atividade que fazemos é feita conjuntamente com dois brasileiros e dois indonésios", disse o comandante do destacamento brasileiro, major Fernando Fernandes.
Referendo organizado pela ONU em 30 de agosto terminou com a vitória de partidários pró-independência, com 78,5% dos votos, o que fez com que os paramilitares antiindependência começassem a perseguir seus rivais e a destruir cidades timorenses.
Ainda existem cadáveres não enterrados em Díli. Era possível ver ontem -e cheirar também- os corpos em decomposição, aparentemente de uma família, na carroceria de uma camionete perto do aeroporto. Curiosos faziam uma espécie de turismo macabro em torno dos restos mortais.
Outros prédios e casas abandonados, que não chegaram a ser queimados, como a maior parte de Díli, são usados para acomodar tropas, jornalistas e membros de organizações humanitárias.
As tropas indonésias só deixarão Timor Leste depois de o Parlamento de seu país aprovar a independência da ex-colônia portuguesa, cuja anexação não foi reconhecida pela grande maioria da comunidade internacional. A votação deve ocorrer em novembro.
Até então as tropas internacionais pisarão em ovos para conseguir a colaboração dos indonésios. Ainda mais porque a guerrilha pró-independência continua armada.
O comandante da força da ONU, o general australiano Peter Cosgrove, não quis revelar detalhes sobre o posicionamento das tropas, mas a maioria está em torno de Díli e Baucau, com destacamentos patrulhando as cidades mais distantes, como Los Palos, a leste, e Balibu, a oeste, na "fronteira" com a Indonésia.
O general disse que as tropas estão tomando precauções para proteger o bispo timorense Carlos Ximenes Belo, Prêmio Nobel da Paz em 1996, que deve provavelmente chegar a Timor amanhã.


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