São Paulo, Terça-feira, 05 de Outubro de 1999
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CRISE NO CÁUCASO

Conflito na Tchetchênia é "assunto interno", dizem russos, que estariam a 30 km da capital

Rússia rejeita mediação para guerra

das agências internacionais

O governo russo rejeitou ontem "qualquer mediação" para resolver o conflito armado com a Tchetchênia, por considerar que se trata de "um assunto interno".
O presidente da Tchetchênia, Aslan Maskhadov, pediu anteontem a atuação de observadores estrangeiros e de uma força de paz internacional na região, para conter os ataques realizados pela Rússia, sob a alegação de atacar grupos separatistas islâmicos.
O governo tchetcheno pediu ainda que o presidente da Geórgia, Eduard Shevardnadze, tentasse organizar uma reunião entre Boris Ieltsin, presidente da Rússia, e Maskhadov.
"Moscou não precisa de mediadores", disse o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Ievguêni Gusarov. "A Tchetchênia é um assunto interno russo."
Apesar de pertencer à Rússia, a Tchetchênia tem estado fora do controle de Moscou desde o final da guerra separatista (1994 a 96), que matou ao menos 40 mil.
A Rússia continuou a promover ataques aéreos e por terra na região ontem. Desde o início do mês passado, a ação aérea russa causou a morte de cerca de 600 tchetchenos, segundo autoridades da Tchetchênia, e um êxodo de mais de 100 mil pessoas em direção à vizinha Inguchétia.
Tchetchênia, Daguestão e Inguchétia fazem parte da Rússia e ficam no Cáucaso, região montanhosa que também engloba países independentes, como Geórgia e Azerbaijão.
Tchetchenos derrubaram um bombardeio russo ontem, segundo a agência de notícias russa "Interfax". Um piloto teria morrido.
"As tropas federais se encontram a certa distância do rio Terek", que atravessa o norte da Tchetchênia, disse o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin. Ele não deu detalhes sobre a posição dos russos, mas, segundo a agência de notícias "France Presse", as tropas russas estariam a 30 km da capital tchetchena, Grozni.
Dois soldados russos morreram e sete ficaram feridos em enfrentamentos no nordeste da Tchetchênia, de acordo com a Rússia.
A Organização para Segurança e Cooperação na Europa ofereceu ajuda humanitária às vítimas dos recentes atentados que deixaram cerca de 300 mortos na Rússia. O governo acusa tchetchenos de participação nos ataques e de ajuda a separatistas islâmicos no Daguestão. "Não pedimos essa ajuda, mas, já que eles nos oferecem, nós a aceitamos", disse Putin.
Estrategistas afirmam que a Rússia pretende formar uma zona de segurança em território tchetcheno, um "cordão sanitário", para evitar que extremistas islâmicos entrem no resto do território russo. A intenção seria isolar as guerrilhas nas montanhas, onde enfrentariam bombardeios e frio.


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