São Paulo, Terça-feira, 05 de Outubro de 1999
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UM ISRAELENSE E O PROCESSO DE PAZ

Síria é a via mais fácil, afirma ex-diplomata

JAIME SPITZCOVSKY
Editor de Mundo

Fazer a paz com a Síria ainda é a prioridade do premiê israelense, Ehud Barak, embora não tenha sido encontrada até agora a fórmula que permita retomar as negociações. A opinião é de Itamar Rabinovich, ex-embaixador de Israel nos Estados Unidos (93-96) e principal negociador com os sírios no diálogo que foi congelado em 96.
Barak exortou ontem, em discurso no Knesset (o Parlamento), o presidente da Síria, Hafez al Assad, a retomar o diálogo e disse não saber por quanto tempo estará aberta ""essa oportunidade".
O trabalhista Barak foi eleito em maio último e anunciou sua intenção de retomar e tratar como prioridade o processo de paz com a Síria, em ponto morto desde a chegada de Binyamin Netanyahu (direita) ao poder.
Para Barak, a negociação com os sírios envolve questões menos espinhosas do que com os palestinos. Damasco exige a devolução das colinas do Golã, tomadas por Israel em 67.
"Os sírios exigem mais do que uma retirada completa", disse à Folha, por telefone, Rabinovich. Segundo ele, Damasco tem uma interpretação das fronteiras pré-67 que implica um recuo israelense maior do que admitiriam limites geográficos da região reconhecidos por Israel.
Com os palestinos, a negociação envolve aspectos mais intrincados, como Jerusalém. Barak diz que Israel não abre mão de sua capital, e os palestinos reivindicam a parte oriental da cidade como centro político de seu eventual Estado.
Hoje dirigindo a Universidade de Tel Aviv, o historiador Rabinovich, que dedicou um de seus livros à memória de Itzhak Rabin (premiê trabalhista assassinado em 95 e iniciador do processo de paz), chega a São Paulo na quinta-feira, onde vai assinar convênios na área de educação, por exemplo, com a Universidade de São Paulo.

Folha - Como o sr. avalia a atuação de Barak na condução do processo de paz?
Itamar Rabinovich -
Muito positiva. Ele está determinado a seguir de acordo com suas opções e vontades. Sua preferência era ter grandes avanços na questão síria, mas não podia deixar os palestinos sem ter algo. Por isso, teve de fechar acordo com eles no mês passado, para retomar o processo de Wye Plantation (acordo entre Israel e palestinos feito em 98). Ou seja, taticamente, leva bem o processo.

Folha - Ehud Barak ainda quer manter a prioridade dada às negociações com os sírios?
Rabinovich -
Ele deseja manter essa opção, mas não tem ainda garantias de que será possível. Ainda não foi encontrada a fórmula para retomar o diálogo com Damasco, mas, quando essa fórmula for encontrada, a questão síria deverá então avançar mais rapidamente.

Folha - Qual é o principal obstáculo para a retomada?
Rabinovich -
Os sírios exigem mais do que uma retirada completa das colinas do Golã. Eles querem o recuou israelense para os limites de junho de 67 de acordo com a interpretação deles, o que implica a entrega de mais território.

Folha - O fato de Al Assad ter problemas de saúde aumenta sua disposição para fechar um acordo, a fim de deixar importante herança política?
Rabinovich -
Em teoria, deveria estar mais ansioso. Pareceu estar mais ansioso na eleição de Barak, mas isso não se traduziu em fatos. Por isso, não vejo problemas de saúde influenciando.

Folha - Para Israel, será mais fácil encontrar uma fórmula para a paz definitiva com os palestinos ou com os sírios?
Rabinovich -
Com os sírios poderia ser mais fácil.


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