São Paulo, quinta-feira, 05 de outubro de 2006

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Presidente da ANP ameaça dissolver governo palestino

Abbas cogita ato radical diante de impasse político que suscitou risco de guerra civil

Diálogo com Hamas para formar governo de união foi suspenso devido à recusa do grupo em reconhecer Israel; Rice promete ajuda dos EUA

DA REDAÇÃO

O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, ameaçou ontem dissolver o gabinete controlado pelo Hamas e afirmou que as negociações com o grupo islâmico, que deram a impressão de estar perto de chegar a um governo de união, estão suspensas. Depois que a mais grave onda de violência interna em dez anos deixou 12 mortos no início desta semana, os territórios palestinos tiveram ontem um dia de relativa calma.
As declarações de Abbas foram feitas durante visita a Ramallah (Cisjordânia) da secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, que prometeu ajuda dos EUA para amenizar a grave situação humanitária nos territórios palestinos.
Em comentários feitos a repórteres antes do encontro com Rice, Abbas sugeriu que poderia usar os "poderes constitucionais" que a legislação palestina lhe concede "no momento apropriado", referência à dissolução do governo e à realização de novas eleições.
Sobre a negociação que vinha conduzindo com o Hamas para formar um governo de união com sua facção, o secular Fatah, Abbas foi sucinto: "O diálogo no momento não existe". Há meses ele vem tentando obter do grupo islâmico, responsável no passado por atos terroristas contra civis israelenses, concessões em sua posição em relação a Israel, de forma a convencer a comunidade internacional a suspender o boicote financeiro que mergulhou os territórios palestinos em uma grave crise.

Impaciência
As negociações, que pareciam estar adiantadas -o gabinete atual chegou a apresentar sua renúncia para abrir caminho para um acordo-, foram interrompidas pelo mesmo obstáculo que persiste desde que o Hamas venceu as eleições legislativas de janeiro: a recusa do grupo em aceitar as exigências americanas e européias para a retomada da ajuda. Elas são o reconhecimento do direito de existência de Israel, a renúncia à violência e a aceitação dos acordos com o Estado judeu.
Abbas demonstrou estar ficando sem paciência com o Hamas e deu a entender que a perspectiva de um acordo voltou a ser mínimas. "Se não acontecer no futuro próximo, todas as opções estão abertas", disse Abbas em entrevista conjunta com Rice. "A única opção que eu rejeito é a guerra civil."
Segundo o chefe de gabinete de Abbas, o presidente da ANP deu à secretária de Estado americana um "documento de trabalho" para ser apresentado a Israel, com formas de retomar o processo de paz e reduzir as restrições israelenses ao movimento a partir dos territórios palestinos. Rice, que em sua visita atual à região já esteve no Egito e na Arábia Saudita, jantou ontem com o premiê de Israel, Ehud Olmert.
Além de suspender o repasse dos impostos palestinos à ANP, Israel tem mantido as passagens de fronteira de Gaza fechadas na maior parte do tempo desde que militantes ligados ao Hamas capturaram um militar israelense em junho. A libertação do cabo Gilad Shalit estava na pauta de negociação entre o Fatah e o Hamas.
Rice disse que discutiu com Abbas maneiras de "tornar possível uma vida para os palestinos que não esteja sujeita às humilhações diárias que estão associadas com a ocupação". "Estamos muito preocupados com as condições humanitárias nos territórios palestinos e com a situação econômica", disse a secretária americana, que estaria exercendo "pressão moderada" sobre Israel para que reduza o bloqueio. "Entendemos que parte das dificuldades econômicas é causada pela falta de mobilidade, e eu verei o que posso fazer para que essas passagens fiquem abertas mais tempo para que a atividade econômica possa retornar."
Segundo um político palestino que participou do encontro, Abbas disse a Rice que deu prazo de duas semanas para que o Hamas aceite uma plataforma política que satisfaça as três exigências. No entanto, o premiê Ismail Haniyeh, considerado um moderado entre os líderes do Hamas, acusou Rice de estar a serviço dos interesses americanos e israelenses. Haniyeh exortou Abbas a evitar o uso "da espada do tempo" para pressionar o Hamas.
"Existe um governo palestino eleito, que expressa a vontade do eleitor palestino. Entretanto, nós já dissemos que não temos problema em retomar o diálogo para formar um governo de união", disse Haniyeh.

Carter e Major
O grupo de análise de conflitos International Crisis Group publicou ontem uma declaração assinada por 135 ex-dirigentes, entre eles o britânico John Major e o americano Jimmy Carter, em que pede "novo pensamento" e "nova vontade política" para resolver o conflito entre israelenses e palestinos. "Enquanto prosseguir, o conflito gerará instabilidade e violência na região e além dela", diz o documento.


Com agências internacionais


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