|
Próximo Texto | Índice
Presidente da ANP ameaça dissolver governo palestino
Abbas cogita ato radical diante de impasse político que suscitou risco de guerra civil
Diálogo com Hamas para
formar governo de união foi
suspenso devido à recusa do grupo em reconhecer Israel; Rice promete ajuda dos EUA
DA REDAÇÃO
O presidente da Autoridade
Nacional Palestina (ANP),
Mahmoud Abbas, ameaçou ontem dissolver o gabinete controlado pelo Hamas e afirmou
que as negociações com o grupo
islâmico, que deram a impressão de estar perto de chegar a
um governo de união, estão
suspensas. Depois que a mais
grave onda de violência interna
em dez anos deixou 12 mortos
no início desta semana, os territórios palestinos tiveram ontem um dia de relativa calma.
As declarações de Abbas foram feitas durante visita a Ramallah (Cisjordânia) da secretária de Estado americana,
Condoleezza Rice, que prometeu ajuda dos EUA para amenizar a grave situação humanitária nos territórios palestinos.
Em comentários feitos a repórteres antes do encontro
com Rice, Abbas sugeriu que
poderia usar os "poderes constitucionais" que a legislação palestina lhe concede "no momento apropriado", referência
à dissolução do governo e à realização de novas eleições.
Sobre a negociação que vinha
conduzindo com o Hamas para
formar um governo de união
com sua facção, o secular Fatah, Abbas foi sucinto: "O diálogo no momento não existe". Há
meses ele vem tentando obter
do grupo islâmico, responsável
no passado por atos terroristas
contra civis israelenses, concessões em sua posição em relação a Israel, de forma a convencer a comunidade internacional a suspender o boicote financeiro que mergulhou os territórios palestinos em uma grave crise.
Impaciência
As negociações, que pareciam estar adiantadas -o gabinete atual chegou a apresentar
sua renúncia para abrir caminho para um acordo-, foram
interrompidas pelo mesmo
obstáculo que persiste desde
que o Hamas venceu as eleições
legislativas de janeiro: a recusa
do grupo em aceitar as exigências americanas e européias para a retomada da ajuda. Elas são
o reconhecimento do direito de
existência de Israel, a renúncia
à violência e a aceitação dos
acordos com o Estado judeu.
Abbas demonstrou estar ficando sem paciência com o Hamas e deu a entender que a
perspectiva de um acordo voltou a ser mínimas. "Se não
acontecer no futuro próximo,
todas as opções estão abertas",
disse Abbas em entrevista conjunta com Rice. "A única opção
que eu rejeito é a guerra civil."
Segundo o chefe de gabinete
de Abbas, o presidente da ANP
deu à secretária de Estado americana um "documento de trabalho" para ser apresentado a
Israel, com formas de retomar
o processo de paz e reduzir as
restrições israelenses ao movimento a partir dos territórios
palestinos. Rice, que em sua visita atual à região já esteve no
Egito e na Arábia Saudita, jantou ontem com o premiê de Israel, Ehud Olmert.
Além de suspender o repasse
dos impostos palestinos à ANP,
Israel tem mantido as passagens de fronteira de Gaza fechadas na maior parte do tempo desde que militantes ligados
ao Hamas capturaram um militar israelense em junho. A libertação do cabo Gilad Shalit
estava na pauta de negociação
entre o Fatah e o Hamas.
Rice disse que discutiu com
Abbas maneiras de "tornar possível uma vida para os palestinos que não esteja sujeita às
humilhações diárias que estão
associadas com a ocupação".
"Estamos muito preocupados
com as condições humanitárias
nos territórios palestinos e com
a situação econômica", disse a
secretária americana, que estaria exercendo "pressão moderada" sobre Israel para que reduza o bloqueio. "Entendemos
que parte das dificuldades econômicas é causada pela falta de
mobilidade, e eu verei o que
posso fazer para que essas passagens fiquem abertas mais
tempo para que a atividade econômica possa retornar."
Segundo um político palestino que participou do encontro,
Abbas disse a Rice que deu prazo de duas semanas para que o
Hamas aceite uma plataforma
política que satisfaça as três
exigências. No entanto, o premiê Ismail Haniyeh, considerado um moderado entre os líderes do Hamas, acusou Rice de
estar a serviço dos interesses
americanos e israelenses. Haniyeh exortou Abbas a evitar o
uso "da espada do tempo" para
pressionar o Hamas.
"Existe um governo palestino eleito, que expressa a vontade do eleitor palestino. Entretanto, nós já dissemos que não
temos problema em retomar o
diálogo para formar um governo de união", disse Haniyeh.
Carter e Major
O grupo de análise de conflitos International Crisis Group
publicou ontem uma declaração assinada por 135 ex-dirigentes, entre eles o britânico
John Major e o americano
Jimmy Carter, em que pede
"novo pensamento" e "nova
vontade política" para resolver
o conflito entre israelenses e
palestinos. "Enquanto prosseguir, o conflito gerará instabilidade e violência na região e
além dela", diz o documento.
Com agências internacionais
Próximo Texto: Entrevista: Para porta-voz do Hamas, união é única opção Índice
|