Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
entrevista
Para porta-voz do Hamas, união é única opção
MARCELO NINIO
DA REDAÇÃO
Há pouco mais de um mês,
um artigo publicado no jornal palestino "Al Ayyam"
chamou a atenção pelo conteúdo incomum e pela autoria. Com um tom de autocrítica raro entre autoridades
políticas palestinas, o texto
causou ainda mais estranheza por ter sido escrito por
Ghazi Hamad, porta-voz do
governo do grupo radical Hamas. Sem meias palavras,
Hamad exortava os palestinos a buscar os motivos de
seus infortúnios em seus
próprios erros, em vez de
culpar somente Israel. Em
conversa com a Folha por
telefone de Gaza, Hamad reiterou, porém, que o Hamas
só reconhecerá Israel quando acabar a ocupação. Leia
trechos da entrevista.
FOLHA - Qual o risco de uma
guerra civil?
GHAZI HAMAD - Não estamos
em guerra civil. Houve choques esporádicos, mas a situação já está bem mais calma. Todas as facções sabem
que é preciso parar a violência e promover a união.
FOLHA - O presidente Abbas disse que não há mais diálogo com o
Hamas. Por que é tão difícil formar um governo de união?
HAMAD - Acho que o que o
presidente Abbas quis dizer
foi que o caminho continua
aberto para um governo de
união. Todos sabem que não
há alternativa.
FOLHA - O ponto central da divergência é a recusa do Hamas
em reconhecer Israel. Há alguma
chance de essa posição mudar?
HAMAD - Temos feito avanços. Aceitamos um acordo de
cessar-fogo [com Israel] que
tem sido respeitado. Mas é
muito difícil reconhecer Israel quando nossos direitos
continuam sendo desrespeitados. Israel continua a construir um muro que demarca
ilegalmente as fronteiras, a
ampliar seus assentamentos
na Cisjordânia, a cometer
execuções e a negar nossos
direitos em Jerusalém.
FOLHA - A comunidade internacional exige o reconhecimento
para suspender o embargo financeiro. Como o Hamas pretende
sair desse impasse?
HAMAD - O mundo precisa
entender que ainda vivemos
sob ocupação. Quando Israel
falar francamente sobre o
fim da ocupação nós também
poderemos falar sobre o reconhecimento. Não é justo
que a pressão mundial recaia
só sobre os palestinos, enquanto Israel tem carta
branca para cometer crimes
contra os palestinos.
FOLHA - O sr. escreveu um artigo exortando os palestinos a parar de culpar Israel. Mas Israel
continua a ser o principal acusado.
HAMAD - O que eu pretendi
foi fazer um alerta aos palestinos. A ocupação é a ocupação, lutamos contra ela como
podemos. Mas para isso é
preciso acabar com os confrontos internos e formar
uma frente única.
Texto Anterior: Presidente da ANP ameaça dissolver governo palestino Próximo Texto: Escolas americanas precisam de segurança eficaz, diz especialista Índice
|