São Paulo, quinta-feira, 05 de outubro de 2006

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entrevista

Para porta-voz do Hamas, união é única opção

MARCELO NINIO
DA REDAÇÃO

Há pouco mais de um mês, um artigo publicado no jornal palestino "Al Ayyam" chamou a atenção pelo conteúdo incomum e pela autoria. Com um tom de autocrítica raro entre autoridades políticas palestinas, o texto causou ainda mais estranheza por ter sido escrito por Ghazi Hamad, porta-voz do governo do grupo radical Hamas. Sem meias palavras, Hamad exortava os palestinos a buscar os motivos de seus infortúnios em seus próprios erros, em vez de culpar somente Israel. Em conversa com a Folha por telefone de Gaza, Hamad reiterou, porém, que o Hamas só reconhecerá Israel quando acabar a ocupação. Leia trechos da entrevista.

 

FOLHA - Qual o risco de uma guerra civil?
GHAZI HAMAD
- Não estamos em guerra civil. Houve choques esporádicos, mas a situação já está bem mais calma. Todas as facções sabem que é preciso parar a violência e promover a união.

FOLHA - O presidente Abbas disse que não há mais diálogo com o Hamas. Por que é tão difícil formar um governo de união?
HAMAD
- Acho que o que o presidente Abbas quis dizer foi que o caminho continua aberto para um governo de união. Todos sabem que não há alternativa.

FOLHA - O ponto central da divergência é a recusa do Hamas em reconhecer Israel. Há alguma chance de essa posição mudar?
HAMAD
- Temos feito avanços. Aceitamos um acordo de cessar-fogo [com Israel] que tem sido respeitado. Mas é muito difícil reconhecer Israel quando nossos direitos continuam sendo desrespeitados. Israel continua a construir um muro que demarca ilegalmente as fronteiras, a ampliar seus assentamentos na Cisjordânia, a cometer execuções e a negar nossos direitos em Jerusalém.

FOLHA - A comunidade internacional exige o reconhecimento para suspender o embargo financeiro. Como o Hamas pretende sair desse impasse?
HAMAD
- O mundo precisa entender que ainda vivemos sob ocupação. Quando Israel falar francamente sobre o fim da ocupação nós também poderemos falar sobre o reconhecimento. Não é justo que a pressão mundial recaia só sobre os palestinos, enquanto Israel tem carta branca para cometer crimes contra os palestinos.

FOLHA - O sr. escreveu um artigo exortando os palestinos a parar de culpar Israel. Mas Israel continua a ser o principal acusado.
HAMAD
- O que eu pretendi foi fazer um alerta aos palestinos. A ocupação é a ocupação, lutamos contra ela como podemos. Mas para isso é preciso acabar com os confrontos internos e formar uma frente única.


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