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Chefe do Exército renuncia por escândalo na Colômbia
General Montoya, próximo a Uribe, era pressionado por execuções sumárias de civis
Oposição pede saída do ministro da Defesa; caso de jovens de Bogotá mortos por militares trouxe à tona prática de forjar baixas
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ponte entre o Pentágono e as
Forças Armadas da Colômbia,
o comandante do Exército colombiano, general Mario Montoya, renunciou ao cargo ontem
pressionado pelo escândalo dos
"falsos positivos" -o assassinato de civis inocentes para inflar
o número de baixas inimigas
obtidas pelos militares.
Montoya, 59, anunciou sua
saída horas antes de comparecer a uma comissão do Senado
onde, ao lado do ministro da
Defesa, Juan Manuel Santos,
prestaria explicações sobre a
crise que começou em setembro com a divulgação de 19 casos de "falsos positivos" -jovens do entorno de Bogotá recrutados para morrer.
A Procuradoria Geral da Colômbia investiga mais de mil
casos de execuções sumárias de
civis por militares. A prática foi
descrita como "sistemática"
pela alta comissária da ONU
para Direitos Humanos, Navi
Pillay, no fim de semana e foi
apontada em relatórios de
ONGs de Bogotá e do exterior.
O presidente Álvaro Uribe
aceitou a renúncia e nomeou
no posto o general Oscar González, que liderava o comando
Caribe Nº 1 (norte). Por conta
do escândalo, Uribe já havia
afastado 27 oficiais e suboficiais na semana passada, após
realizar uma investigação interna. Montoya, que disse não
saber sobre a apuração interna,
já havia se antecipado ao presidente e dispensado três coronéis dias antes.
O volume de casos de falsas
baixas inimigas divulgados na
imprensa somado à pressão da
oposição para que o Montoya e
Santos assumissem a responsabilidade política pela crise aumentaram os rumores de que o
general cairia -até para conter
os ataques ao ministro, um dos
homens-fortes de Uribe. Os relatos, chocantes, falam de recrutamento até de doentes
mentais para a prática, numa
operação que combinava "limpeza social" e proteção de paramilitares aliados.
"A queda do general era esperada porque eram cada vez
mais fortes as críticas de vários
setores políticos, principalmente da oposição, e também
da sociedade", disse à Folha
Alejo Velázquez, cientista político da Universidade Nacional
da Colômbia. "Mas os casos
não são novos, de modo que é
preciso valorizar a decisão de
afastar envolvidos desta vez."
Ponte com EUA
A saída de Montoya ocorre
no momento em que Uribe ainda tenta fazer lobby em
Washington para aprovar o
acordo de livre-comércio bilateral. Os democratas, que tendem a ampliar o domínio que já
têm no Congresso, apontam as
violações de direitos humanos
praticadas por Bogotá como
motivo tanto para votar contra
o tratado como para reduzir a
ajuda militar bilionária ao país.
Montoya é um homem conhecido em Washington. Foi
um dos negociadores dos pacotes de ajuda dos EUA. Sob seu
comando desde 2006, e com
ajuda financeira e tecnológica
americana, os militares acossaram as Farc (Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia)
como nunca. Ele também colheu os louros da "Operação
Xeque", que liberou a refém Ingrid Betancourt em julho.
Se a operação foi criticada,
depois, por usar símbolo da
Cruz Vermelha para enganar os
guerrilheiros, o general, que conhece Uribe desde os anos 90,
tem sobre si acusações graves.
Em setembro, o "Washington
Post" publicou trechos de depoimentos de um paramilitar
preso que acusava Montoya de
agir com grupos ilegais em Medellín no comando de execuções. Líderes de ONGs da região fazem as mesmas acusações, citadas também num relatório da CIA vazado em 2007.
Com agências internacionais
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