São Paulo, quinta, 5 de novembro de 1998

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COMENTÁRIO
Oposição perdeu o rumo

ANDREW MARSHALL
do "The Independent", em Washington

A primeira regra para políticos norte-americanos desde a Segunda Guerra tem sido: nunca subestime um político habilidoso que esteja em dificuldades. Veja Richard Nixon e Ronald Reagan. Após a derrota que os republicanos sofreram anteontem, está se tornando cada vez mais claro que o governo de Clinton se aproxima da mesma legitimidade.
Aos democratas pode-se creditar o sucesso por deter os republicanos. Eles ficaram unidos apesar dos problemas enfrentados pelo presidente, saíram à cata de votos e venceram. O presidente desempenhou um papel-chave, ao mobilizar, especificamente, o voto dos negros e, genericamente, o eleitorado do país, que talvez preferisse não comparecer às urnas numa terça-feira chuvosa.
Mas aos republicanos cabe grande parte da culpa por seu desempenho nas eleições. Eles podem argumentar que a bonança econômica não os ajudou e que seu sucesso consistiu em ter mantido o controle das duas casas do Congresso, fato inédito nos últimos 70 anos.
A realidade, porém, é que uma eleição que parecia caminhar na direção dos republicanos de repente mudou de rumo e pousou no colo dos democratas. Os líderes governistas esperam agora os louros da vitória. Os republicanos terão de lidar com uma questão bem menos agradável.
O republicano Newt Gingrich, presidente da Câmara dos Representantes (deputados) e principal líder republicano, não é muito popular, como indicam as pesquisas de opinião. Daí justifica-se o ar de satisfação estampado nos rostos democratas quando Gingrich se envolveu com o processo de impeachment, assim que este chegou ao Congresso. Surgia, finalmente, um alvo para ataques públicos até então dirigidos ao promotor independente Kenneth Starr.
Os democratas imediatamente mobilizaram-se para colocar Gingrich sob os holofotes. O líder oposicionista não reagiu bem. Durante a campanha eleitoral, evitou tocar no assunto do impeachment e atacar o presidente (ele próprio tem uma história pessoal bastante interessante). Então, na última semana antes das eleições, os republicanos lançaram anúncios que questionavam a ética pessoal de Clinton, um tiro que saiu pela culatra. Gingrich parece nunca ter sabido para que lado deveria caminhar.
Mas o problema é maior que o líder republicano. O partido oposicionista vê-se dividido entre facções. Alguns querem aprofundar o viés religioso. Outro defendem que isso é algo prejudicial ao conservadorismo. De todo modo, os vencedores foram os democratas. E, se os republicanos não conseguirem retomar o eixo -com ou sem Gingrich-, os democratas podem sair vencedores também no ano 2000.
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Tradução de Rodrigo Castro


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