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REINO UNIDO
Segundo a imprensa britânica, a rede pública deverá demitir 6 mil pessoas, quase um quarto de seus funcionários
BBC prepara a maior reestruturação de sua história
ÉRICA FRAGA
DE LONDRES
A BBC (British Broadcasting
Corporation) -um dos maiores
grupos de mídia do mundo- ganhou destaque na imprensa britânica nas últimas semanas. A rede,
que oferece serviço de televisão,
rádio e internet, prepara uma
grande revisão de suas operações
que será anunciada na próxima
terça e resultará em demissões.
Jornais como o "Observer" e o
"Times" têm dito que 6 mil pessoas serão demitidas, quase um
quarto do total de 28 mil funcionários. Se os números forem confirmados, essa será a maior reestruturação da história da BBC.
A empresa diz que as estimativas referentes a demissões divulgadas pela mídia britânica são pura especulação. Mas não nega que
haverá cortes. Pelo contrário: "Seria errado se eu dissesse que não
ocorrerão cortes", disse uma porta-voz da BBC à Folha na sexta.
No mercado, comenta-se que a
grande preocupação da BBC é
que o governo inicie um processo
gradual de desregulamentação da
empresa, que tem concessão pública e é financiada, principalmente, por meio de uma licença
compulsória cobrada dos detentores de aparelhos de rádio e tevê.
"Parece que o governo está adotando uma postura mais voltada
para o mercado", diz Daya Thussu, especialista em mídia e professor da University of Westminster.
Segundo a porta-voz da BBC, a
corporação vem fazendo quatro
grandes revisões internas, cujos
resultados preliminares serão
anunciados pelo diretor-geral da
rede, Mark Thompson, depois de
amanhã. Os cortes de pessoal poderão não ocorrer imediatamente, mas as recomendações iniciais,
resultantes das revisões darão, para a porta-voz, "uma clara idéia
das mudanças que serão feitas".
O objetivo da revisão principal é
analisar se os recursos que a BBC
recebe da população britânica estão sendo bem aproveitados.
Além disso, a empresa analisa a
qualidade dos programas, o retorno do braço comercial do grupo -o serviço mundial de rádio e
Internet- e a perspectiva de
transferir algumas operações de
Londres para outras cidades.
O principal motivo alegado pela
BBC para a reestruturação é a mudança que ocorrerá no sistema televisivo britânico daqui a oito
anos, quando haverá completa
migração da tecnologia analógica
para a digital. A empresa diz que
precisa começar a adaptar sua estrutura para essa transformação.
Para especialistas, a explicação é
factível, mas não pode ser vista
isoladamente. O principal pano
de fundo da reestruturação seriam dúvidas quanto a seu futuro
como empresa pública, subsidiada pelo Estado e pela população.
A maior fonte de renda da BBC
é a licença anual, 121 libras (cerca
de R$ 635) para detentores de
aparelhos de TV e 40,5 libras (R$
213) para os que possuem rádio.
Em 2003, a receita total da empresa com os pagamentos dessas tarifas chegou a 2,8 bilhões de libras.
Mas a cada dez anos a licença
concedida à BBC é renovada. O
próximo prazo vence em 2006, e
especula-se que o governo pode
mudar as regras do jogo.
Os custos de operação da empresa têm sido muito altos e, apesar do aumento constante das receitas, em 2003, a BBC teve déficit
de 249 milhões de libras. Em 2002,
a empresa também registrara déficit operacional. A empresa diz
em seu balanço que, como não
possui acionistas, seu objetivo
não é ter lucros, que os prejuízos
tendem a ser revertidos e são fruto de novos investimentos em
programas e serviços. Mas a questão levantada pelo mercado é se
esses resultados não indicam que
a população está arcando com
custos elevados demais.
O diretor-geral da empresa aparenta preocupação com esse assunto. Segundo a imprensa local,
Thompson teria dito a executivos
da BBC que pretende deixar a empresa o mais enxuta possível.
Recentes choques políticos com
o governo alimentam as preocupações. Os problemas pioraram
durante a guerra do Iraque, quando um repórter da BBC disse no
rádio, com base em informações
passadas por uma fonte, que o governo do premiê Tony Blair havia
inflado seu dossiê sobre armas de
destruição em massa do Iraque,
tornando-o "mais sexy", a fim de
justificar a invasão do país.
Mais tarde vazou a informação
de que a fonte da matéria era o
cientista David Kelly, que acabou
se suicidando. O caso deu origem
a uma investigação, que concluiu
que a acusação da BBC não tinha
fundamento. Depois disso, o presidente da BBC Gavyn Davies e o
diretor-geral da corporação Greg
Dyke pediram demissão.
O incêndio causado pela guerra
foi apagado, mas, para a imprensa, o governo mantém a linha crítica. Segundo o "Observer", a ministra da Cultura, Tessa Jowell, teria dito a parlamentares que a
BBC deve reforçar o compromisso com a imparcialidade, focando-se mais na precisão da notícia
do que em comentários e análises.
Tessa é quem vai dar a palavra
final sobre a renovação da licença
da BBC e, para analistas, irá considerar todos esses aspectos na hora
de tomar a decisão final.
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