São Paulo, Quinta-feira, 06 de Janeiro de 2000


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FIM DO CONFLITO
Menino cubano que sobreviveu a naufrágio deve retornar para seu pai, em Havana, até o dia 14
EUA vão devolver garoto Elián a Cuba

France Presse
Comunidade cubana em Miami protesta contra decisão dos EUA


MALU GASPAR
de Nova York

O governo norte-americano vai enviar de volta ao seu país o garoto cubano Elián Gonzáles, 6, que foi encontrado na costa da Flórida no final de novembro passado. Elián é o único sobrevivente de um naufrágio em que morreram sua mãe e outras 9 pessoas que fugiam de Cuba para os EUA numa balsa improvisada.
A decisão, anunciada ontem pelo INS (Immigration and Naturalization Service, órgão que cuida da imigração), põe fim a uma crise diplomática que azedou as já normalmente complicadas relações entre os dois países.
Cuba e EUA estão rompidos diplomaticamente desde 1961, dois anos após o início do regime de Fidel Castro. Nesse ano os EUA lançaram um embargo econômico contra a ilha, que dura até hoje.
Desde que Elián foi resgatado boiando agarrado a uma câmara de ar, em novembro, tornou-se o pivô de uma disputa entre os parentes de sua mãe, exilados cubanos que pertencem a grupos de oposição ao regime de Castro, e o pai do menino, que vive em Havana pediu a sua volta, fortemente apoiado pelo governo de Cuba.
Fidel Castro chegou a acusar os EUA de terem sequestrado Elián e convocou várias manifestações em Cuba pela volta do menino. Aulas foram suspensas, e a população, convocada a ir às ruas.
Enquanto isso, Elián ganhou uma festa de aniversário, apareceu em todas as TVs dos EUA, visitou a Disney World, em Orlando, ganhou cachorro de um político e já havia começado a frequentar uma escola em Miami.

Vínculos fortes
"Este pequeno menino, que passou por tanta coisa, pertence a seu pai", afirmou ontem Doris Meisser, representante do INS, que estabeleceu o próximo dia 14 de janeiro como o prazo máximo para Elián estar de volta.
Segundo Meisser, ficou claro nas entrevistas feitas em Cuba com Juan Miguel Gonzáles, pai de Elián, que seus vínculos com o menino são muito fortes.
A decisão provocou a revolta da comunidade cubana em Miami. Durante toda a tarde, grupos de pessoas protestavam em frente à sede do INS e na casa dos parentes de Elián. Os parentes de Elián pretendem recorrer à Justiça norte-americana para impedir que ele seja devolvido.
Já os porta-vozes do presidente dos EUA, Bill Clinton, divulgaram nota ontem em que a Casa Branca diz considerar a decisão "apropriada".
Apesar de o governo cubano ter anunciado que não promoverá qualquer outra manifestação pública para receber Elián e que tentará devolver o menino a sua rotina normal, acredita-se que Fidel Castro usará o episódio para fortalecer o seu regime.
A lei norte-americana estabelece que qualquer cidadão cubano que desembarcar na costa do país deverá ser aceito pela imigração. A partir de então, inicia-se um processo no qual, no prazo médio de um ano, o cubano ganha um visto de permanência no país.


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