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Fanático do câmbio fixo quer dolarização argentina
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O fanático do ""currency board",
regime monetário que a Argentina decidiu abandonar, voltou
atrás. Mas não completamente.
Steve Hanke, 57, economista da
Johns Hopkins University (EUA),
que desenhou o modelo introduzido pelo ministro Domingo Cavallo, em 1991, na Argentina, afirma que em 1999 havia preparado
um informe para o então presidente Carlos Menem recomendando que o país ""saísse de seu
não-ortodoxo sistema de câmbio
fixo e dolarizasse a economia".
Hanke é o mesmo que, em 1995,
durante o Fórum Econômico
Mundial, em Davos, previu que o
real estava condenado a fracassar.
""O real está condenado a fracassar. Só o "currency board" ata as
mãos dos políticos e impede que
possam fazer o que quiserem. Nenhum "currency board", como o
da Argentina, desvalorizou sua
moeda", disse Hanke, à época. Na
sexta-feira, o novo presidente argentino, Eduardo Duhalde, admitia que ""a desvalorização do peso
já é um fato".
Em entrevista que concedeu à
Folha, por e-mail, antes do anúncio do plano de Duhalde, Hanke
insiste que não errou na avaliação
do modelo cambial argentino. Pelo contrário: enumerou o que teriam sido ""asneiras" (em suas palavras), cometidas pelas autoridades do país vizinho desde 1995 e
que teriam provocado o fracasso
do regime. O economista sustentou que a eventual adoção de um
sistema de câmbio flutuante na
Argentina, seguindo o caminho
que o Brasil optou em 1999, ""será
um desastre".
""A dolarização ainda me parece
a melhor alternativa para a Argentina", afirma Hanke.
Folha - O senhor errou em suas
análises sobre o sistema de câmbio
argentino? O senhor havia dito que
o ""currency board" ata as mãos dos
políticos e impede que façam o que
quiserem e que nenhum país que o
adotou, como a Argentina, desvalorizou sua moeda...
Steve Hanke - Não errei. Desde
1991, quando a Argentina adotou
seu não-ortodoxo ""currency
board", Kurt Schuler (economista
norte-americano especialista em
modelos monetários) e eu escrevemos artigos em que concluímos
que, para evitar um desastre, a Argentina deveria tornar seu currency board ortodoxo ou dolarizar a economia. Infelizmente, nenhuma das recomendações foi
implementada e nossas previsões
se realizaram.
Folha - O senhor ainda acredita
que eles deveriam ter mantido esse
modelo por uma década, como fizeram?
Hanke - Eu não acredito nisso há
algum tempo. Em fevereiro de
1999, preparamos um relatório
para o [ex" presidente Carlos Menem, em que recomendávamos
que saíssem daquele sistema não-ortodoxo e dolarizassem a economia. A dolarização ainda me parece ser a melhor alternativa para
o país. Depois da moratória e da
crise do sistema financeiro, o
Equador anunciou, em 2000, a
dolarização de sua economia.
Os resultados têm sido muito
bons. A fuga de recursos internos
e externos foi revertida rapidamente, e o país obteve um choque
de confiança, que se reflete nos indicadores. Eu já preparei um relatório (""Como fazer a dolarização
na Argentina") mostrando os últimos passos que eles devem tomar para dolarizar sua economia.
Folha - Quais foram os grandes
erros das autoridades argentinas?
Hanke - A agudização da crise
política e econômica do país é resultado de uma sequência interna
de asneiras (""blunders").
1) Desde 1995, as principais reformas econômicas foram interrompidas. Consequentemente, os
sistemas fiscais, de mercado de
trabalho, seguridade social e saúde permanecem sem reformas e
precisam de modernização;
2) Em 1999, a Argentina elegeu
um frágil governo esquerdista.
Esse governo era liderado pelo
presidente De la Rúa. Apesar de
ser um homem decente, ele permaneceu distante e afastado da
realidade política e econômica da
Argentina;
3) Em 2000 e 2001, o governo De
la Rúa anunciou três planos com
aumento de impostos seguindo
recomendação do FMI. Levou os
impostos da Argentina a níveis altíssimos. Não surpreendentemente, os pacotes pararam a economia e a arrecadação entrou em
colapso. Como resultado, a Argentina ficou sem condições de
pagar suas dívidas;
4) Em março último, Cavallo foi
nomeado ministro da Economia.
Os princípios de Cavallo são tão
instáveis quanto o patrimônio de
um banco. Isso, combinado com
sua hiperatividade, resultou em
um coquetel mortal;
5) Em junho, a Argentina introduziu um sistema múltiplo de taxa de câmbio [a cesta de moeda,
com a média da cotação do dólar
e do euro, válida para os exportadores". Foi o começo do fim porque a Argentina abandonou seu
sistema de "currency board". Como consequência, a fuga de capitais e de reservas se acelerou;
6) Em dezembro, a Argentina
impôs um teto para as taxas de juros para as operações em pesos.
Consequência: acelerou a corrida
aos bancos;
7) Na tentativa de diminuir o
ritmo da saída de capitais do sistema financeiro, o governo impôs
controle de câmbio.
Folha - O câmbio flutuante não
seria a melhor opção para a Argentina?
Hanke - O câmbio flutuante na
Argentina será um desastre. Basta
monitorar o ritmo da corrida aos
bancos nos próximos dias.
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