|
Próximo Texto | Índice
AMÉRICA LATINA
Washington denuncia suposto plano conjunto contra EUA e democracias e diz que vizinhos estão "preocupados"
Fidel e Chávez ameaçam região, dizem EUA
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O governo norte-americano
considera que Venezuela e Cuba
estejam fomentando um sentimento anti-EUA em vários países
da América Latina.
Para o Departamento de Estado
dos EUA, a estratégia conjunta
dos dois países estaria "preocupando os vizinhos na região" e seria financiada com dinheiro do
petróleo venezuelano, treinamentos em Cuba e "doutrinação política" popular orquestrada pelo
presidente venezuelano, Hugo
Chávez, e pelo ditador cubano, Fidel Castro.
Embora a forte oposição de Venezuela e Cuba aos EUA seja conhecida, o Departamento de Estado considera que os dois países
agora estejam se organizando para "trocar experiências" e eventualmente infiltrar pessoas e militares em outros países da região.
"Os laços estreitos entre os governos de Venezuela e Cuba têm
preocupado de forma crescente
os governos vizinhos democraticamente eleitos", disse ontem o
porta-voz do Departamento de
Estado Adam Ereli.
Os EUA consideram, por exemplo, que o dinheiro e a influência
política da Venezuela foram decisivos para a queda, em outubro,
do então presidente da Bolívia,
Gonzalo Sánchez de Lozada, conhecido por suas posições pró-mercados e pró-EUA.
Segundo Washington, pouco
antes de sua deposição por movimento popular, Lozada ordenou
a expulsão de um adido militar
venezuelano que estaria financiando as atividades de oposição
do líder cocaleiro boliviano Evo
Morales.
Venezuela e Cuba também são
suspeitos pelos EUA de dar apoio
à guerrilha terrorista colombiana
Farc e de financiar atividades que
desembocariam no aumento do
narcotráfico em solo americano.
Na semana passada, Roger Noriega, secretário-assistente de Estado para as Américas, acusou
formalmente Fidel de querer "desestabilizar governos eleitos democraticamente" na América Latina e disse que as atuais atividades do ditador seriam "cada vez
mais provocadoras".
Como resposta a esse suposto
movimento cubano e como parte
da estratégia eleitoral deste ano, o
governo de George W. Bush deve
anunciar nos próximos meses um
relatório detalhando como os
EUA pretendem "acelerar a transição de Cuba para um regime democrático". O relatório, supervisionado pelo secretário de Estado,
Colin Powell, envolverá vários líderes cubanos exilados na Flórida, Estado onde Bush teve uma
vitória decisiva e apertada em
2000 contra o democrata Al Gore.
Os EUA afirmam ainda que Havana teria enviado centenas de
médicos, professores e treinadores de atividades esportivas para a
Venezuela com o duplo objetivo
de ajudar o governo de Chávez e
promover doutrinação política.
Ontem, o chefe da comissão de
Relações Exteriores do Congresso
venezuelano, Tarek Saab, qualificou as novas insinuações contra
Chávez como sendo "falsas, irresponsáveis e covardes".
Consultado pela Folha, um funcionário do Departamento de Estado afirmou que, apesar da aproximação entre o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e
Fidel Castro e da simpatia do petista por Chávez, o Brasil não é
visto como conivente com a suposta ação os dois países.
Para o funcionário, a oposição
brasileira aos EUA é "pontual e
diplomática", como na questão
das negociações da Alca (Área de
Livre Comércio das Américas) e
no posicionamento do Brasil contrário à Guerra do Iraque.
Em abril do ano passado, os
EUA chegaram a insinuar que
Chávez estaria dando apoio a
uma base da rede terrorista Al
Qaeda na ilha Margarita, na Venezuela. Reportagens publicadas
na época em jornais britânicos
afirmavam que a ilha, um balneário que abriga uma grande comunidade muçulmana, seria um
centro de lavagem de dinheiro e
de levantamento de fundos para
atividades terroristas.
Mais recentemente, o general
James Hill, chefe de operações do
Comando Sul dos EUA, voltou a
citar a ilha Margarita e afirmou
que Chávez tornou-se "mais um
problema". Bush e Chávez devem
se encontrar na semana que vem,
no México, durante reunião de
cúpula da OEA (Organizações
dos Estados Americanos).
Próximo Texto: Boliviano exige prova "em 48 horas" Índice
|