São Paulo, sábado, 06 de janeiro de 2007

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Pentágono criará comando só para a África

ERIC LESER
DO "MONDE", EM NOVA YORK

O Pentágono pretende criar este ano um sexto e novo comando regional específico para a África, a ser intitulado US Africa Command, ou Africom.
"O objetivo é evitar o surgimento de novo Afeganistão", explica Joe Carpenter, porta-voz do Departamento da Defesa norte-americano. O Chifre da África é de importância crescente para a administração americana. A região é considerada estratégica, tanto para conter o terrorismo islâmico quanto para evitar que "Estados falidos", como a Somália, se tornem santuários para a Al Qaeda e, de maneira mais clássica, para controlar a região próxima ao Golfo Pérsico e proteger as rotas petrolíferas.

Memória sangrenta
Os EUA já sofreram vários ataques nessa região e guardam uma lembrança dolorosa da intervenção de cunho humanitário na Somália, batizada de "Restore Hope" (restaurar a esperança). Lançada em 9 de dezembro de 1992 com muita fanfarra, diante das câmeras de televisão, ela terminou em 31 de março de 1994 com a retirada das forças americanas sob o fogo de milícias tribais.
Em 7 de agosto de 1998, a Al Qaeda lançou ataques sangrentos contra as embaixadas dos EUA em Nairóbi (Quênia) e Dar es Salaam (Tanzânia), deixando um saldo de 257 mortos. Em 12 de outubro de 2000, em Aden, o contratorpedeiro USS Cole foi atingido por uma embarcação carregada de explosivos, num atentado suicida, e 17 marinheiros foram mortos. O cérebro da operação, Khaled Sheikh Mohammed, seria o mesmo dos ataques de 11 de setembro de 2001.
A importância do Chifre da África para Washington é ilustrada pelas centenas de milhões de dólares fornecidos aos aliados dos Estados Unidos na região (Etiópia, Iêmen e Quênia) e pelo aumento da presença militar americana, por intermédio da Força-Tarefa Conjunta Chifre da África. Estacionada no campo Lemonnier, antiga base da Legião Estrangeira, essa força foi criada em outubro de 2002 pelo Comando Central americano para, em suas palavras, "conduzir operações, treinar e assistir os países anfitriões a combater o terrorismo, para assegurar um ambiente seguro e a estabilidade regional".
Auxiliados por vários países aliados, entre eles a França, 1.500 soldados americanos operam a partir dessa base. Eles organizam a "guerra contra o terrorismo" no Quênia, na Somália, no Sudão, na Eritréia, na Etiópia, no Iêmen e até mesmo em Uganda e na Tanzânia. Fuzileiros navais americanos intervieram em Somalilândia (norte da Somália) e no norte do Quênia.

"Policial"
No plano diplomático, a administração Bush se aproximou da Etiópia (74 milhões de habitantes), procurando fazer desse país seu principal aliado e "policial" da região. Cem militares americanos treinam as tropas etíopes, e Washington dá pleno apoio à incursão armada etíope na Somália, que os EUA teriam apoiado com aviões de reconhecimento.
O general John Abizaid, chefe demissionário do Comando Central, viajou a Adis Abeba em dezembro e se reuniu com o primeiro-ministro etíope, Meles Zenawi. Duas semanas mais tarde, a Etiópia oficializou sua entrada em guerra com a Somália.


TRADUÇÃO DE CLARA ALLAIN


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