São Paulo, sábado, 06 de janeiro de 2007

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Lavagna se lança candidato à Presidência

Ex-ministro da Economia de Duhalde e de Kirchner pode se tornar o mais forte adversário do atual presidente argentino

Presidenciável, que também é peronista, não diz que forças políticas o apóiam; anúncio ofusca dados econômicos de Kirchner

Guillermo Rodriguez Adami-30.jun.2006/Clarín
O ex-ministro Roberto Lavagna, que agora é presidenciável


BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES

O ex-ministro da Economia argentino Roberto Lavagna pôs fim a meses de especulações e anunciou que será candidato à Presidência nas eleições de outubro deste ano, apesar de não deixar claro quais forças políticas sustentam sua postulação.
Com o anúncio, "roubou" ontem de Néstor Kirchner a capa dos dois principais jornais da Argentina -"La Nación" e "Clarín"- no dia em que o presidente argentino esperava brilhar por ter atingido a meta de fechar 2006 com taxa de inflação de apenas um dígito.
Os dois anúncios aconteceram anteontem. O da inflação anual, que ficou em 9,8% (contra 12,3% em 2005), foi amplamente difundido. O de Lavagna aconteceu discretamente, em seu escritório, no centro de Buenos Aires, apenas nos dois mais influentes diários do país.
Lavagna, que foi ministro de Eduardo Duhalde e do próprio Kirchner até novembro de 2005, é apontado por analistas como o único com cacife para vencer o presidente -ou a senadora e primeira-dama Cristina Fernández de Kirchner, que, segundo pessoas próximas ao presidente, será a candidata.
"Tenho uma [pesquisa] que me dá dois pontos atrás de Cristina", disse Lavagna. Seu desempenho nas pesquisas já divulgadas, porém, é irrisório.

Semelhanças
O ex-ministro pode vir a ameaçar Kirchner justamente por ter com ele vários pontos em comum, a começar pelo fato de ser peronista. Com partidos enfraquecidos, as duas chapas de mais força devem ser formadas por peronistas com vices do partido radical.
Com aprovação acima de 70%, Kirchner é favorito para ganhar mais um mandato na Casa Rosada -ou, se desistir mesmo de concorrer, a eleger a mulher como sua sucessora.
Lavagna insistiu que não se preocupa com quem enfrentará. "Já tenho a decisão tomada", declarou. "Essa decisão é independente de ser Kirchner ou a senadora. É independente de qualquer candidato."
Embora condene o que chama de "guinada à esquerda" e o alto grau de intervenção do governo Kirchner na economia, o ex-ministro não apresentou alternativas concretas. Quando esteve no governo, valeu-se de muitos dos instrumentos que agora critica. No esboço de seu plano de governo, fala em erradicar a indigência em quatro anos -mas não explica como.

Unidos contra Kirchner
Nas pesquisas, Lavagna aparece atrás de Mauricio Macri, líder da coalizão de centro-direita PRO e presidente do clube de futebol Boca Juniors. Segundo analistas, sem aliar-se com Macri, Lavagna teria suas chances reduzidas.
A aproximação, porém, parece difícil. "O PRO não se preocupa com o que anuncia Lavagna", disse Macri. Já o ex-ministro afirmou que "seria um erro" a oposição se fragmentar. Sua intenção seria convencer Macri a concorrer ao governo da cidade de Buenos Aires.
Lavagna não revela a conformação da frente política que lançaria sua candidatura, mas seus colaboradores admitem que há apoio de radicais e de governadores peronistas. Ontem, o presidente da UCR, Gerardo Morales, disse que o ex-ministro é "a alternativa mais séria para as próximas eleições".
Ao buscar atrair o apoio de governadores radicais, Kirchner desagradou a setores do peronismo que antes lhe eram fiéis. Há outros dois grupos do peronismo contrários a ele -os ligados aos ex-presidentes Duhalde e Carlos Menem (que também se lançou candidato). Se a candidata for Cristina, o peronismo pode se afastar ainda mais do governo.


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