São Paulo, quinta, 6 de fevereiro de 1997.

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ORIENTE MÉDIO
Lamia Maruf, detida desde 1986 pela morte de um soldado, está novamente na iminência de ser solta
Brasileira pode ser libertada em Israel

IGOR GIELOW
da Reportagem Local

Está tudo pronto para a libertação da amazonense Lamia Maruf Hassan, 32, a única presa política entre os cerca de 900 brasileiros detidos no exterior.
Lamia está presa desde 1986 em Israel, tendo sido condenada à prisão perpétua por cumplicidade no assassinato de um soldado israelense dois anos antes. Como nas outras vezes em que sua libertação parecia iminente, o atraso devido a imprevistos já está ocorrendo.
A última vez foi em agosto do ano passado, quando a ``iminência'' durou quase dez dias.
`Visitei Lamia na cadeia e ela está confiante'', afirmou o advogado da brasileira, Airton Soares, que se encontra em Tel Aviv.
A confiança vem do acordo em que Israel cedeu à Autoridade Nacional Palestina 80% do controle de Hebron, que prevê solução rápida para a questão das prisioneiras. O imprevisto, constante no caso Lamia, desta vez foi o acidente com os helicópteros militares (leia texto nesta página).
Para a opinião pública do país, seria complicado digerir a libertação de condenadas por ligação com assassinatos de soldados no momento em que são enterrados sete dezenas de militares. Com isso, a previsão da libertação para hoje à noite ficou em suspenso.
A libertação das prisioneiras palestinas é um dos fundamentos dos acordos de Oslo, que delinearam o processo de paz entre palestinos e israelenses a partir de 1994.
No segundo artigo do anexo 7º do acordo referente à Cisjordânia ocupada desde 1967, é pedida a soltura de todas as prisioneiras. Sob o governo trabalhista de Yitzhak Rabin e, depois, Shimon Peres, as libertações começaram.
No ano passado, com a eleição do governo conservador do premiê Binyamin Netanyahu, o processo de libertação foi congelado.
Sobraram presas cinco mulheres, envolvidas em assassinatos.
Em julho passado, Israel mandou soltar as duas condenadas pela Justiça Civil. Uma voltou à cadeia em solidariedade às outras três presas pela Justiça Militar, por terem sido detidas em território ocupado -uma delas Lamia.
Em 1984, morando em Ramallah (Cisjordânia), Lamia usou seu passaporte brasileiro para alugar um carro com placas israelenses.
Dirigindo, deu carona para um soldado judeu, que foi dominado pelo marido de Lamia e outro palestino escondidos no carro.
A negociação entre sequestradores, sem Lamia, e Israel falhou e eles mataram o soldado. Dois anos depois, o governo localizou os envolvidos. Grávida, Lamia foi presa.

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