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PERFIL
Líder cresceu em ambiente conservador e nostálgico
Pai de Haider era admirador de Hitler
DANIEL VERNET
do "Le Monde"
Simon Wiesenthal não é um homem vingativo. Ele acha que
Joerg Haider não representa um
perigo. Alguns anos atrás se felicitou pelo fato de o chefe do Partido
da Liberdade da Áustria (PL)
nunca ter dito uma palavra contra
Israel. Mas, a acreditarmos na
mais recente biógrafa de Haider,
uma jornalista do semanário vienense "Profil", se Haider não o
fez, foi por pouco.
Em seu livro, Christa Zoechling
conta como, em 1996, Haider preparou um discurso criticando a
política do chanceler Franz Vranitzky, que, segundo ele, desperdiçava o dinheiro austríaco em
ajuda a Israel. Por sorte, um de
seus amigos estava sentado na
primeira fileira: o deputado europeu de origem judaica Peter Sichrovsky. Com um gesto de sua cabeça, Sichrovsky convenceu Haider a voltar sua crítica contra os
palestinos. Justamente Sichrovsky, autor de um livro sobre o
genocídio que virou "cult": "Nascer culpado, nascer vítima".
Quando o pequeno Joerg era
criança, divertia-se atirando flechas num boneco batizado de
Wiesenthal. A brincadeira continuou mais tarde quando, já estudante de segundo grau, Haider integrava uma organização cujos
integrantes treinavam esgrima,
tendo como adversário um boneco em tamanho natural também
batizado com o nome do célebre
caçador de nazistas.
Haider nasceu em 26 de janeiro
de 1950 numa família modesta,
fortemente marcada pelo nacional-socialismo. Quando seu pai,
Robert, tinha 15 anos (depois de
uma fase em que foi aprendiz de
sapateiro), entrou para a Juventude Hitlerista. Depois, atuou em
forças nazistas.
Filha de família burguesa, sua
mãe, Dorothea, era nacional-socialista fervorosa. A fortuna de
Joerg Haider veio do lado materno da família.
Em 1986, no mesmo ano em que
assumiu o controle do Partido da
Liberdade, Haider herdou de seu
tio-avô uma propriedade familiar
em Barental, na Província da Caríntia. Wilhelm Webhofer adquirira a propriedade "arianizada"
em 1941.
Foi nesse ambiente conservador
e nostálgico do passado que cresceu o pequeno Joerg, aluno modelo. Quando foi estudar direito
em Viena, em 1969, era apenas
natural que se voltasse às organizações estudantis nas quais ainda
se luta esgrima. Por meio de sua
família, fez contato com Friedrich
Peter, líder do FPO.
Ingressou na Juventude Liberal,
onde ganhou ascendência graças
à revista "Tangente", para a qual
conseguiu financiamento com
um industrial do papel, Harald
Prinzhorn, pai de Thomas Prinzhorn, cuja chapa liderou nas últimas eleições.
Nacional-socialismo
Joerg Haider mistura críticas
acirradas ao sistema partidário
austríaco, elogios à democracia
direta e críticas à direção do FPO,
que estaria envelhecendo. Ele se
distingue por sua declarações no
mínimo ambíguas sobre o nacional-socialismo e o Holocausto,
vistos como "acontecimentos trágicos".
Na condição de líder do segundo partido da coalizão, Haider esperava tornar-se vice-chanceler.
Assim que o social-democrata
Vranitzky ficou sabendo da eleição de Joerg Haider, no entanto,
denunciou o acordo com o FPO.
Seus escrúpulos não foram compartilhados por Wolfgang
Schuessel, atual chanceler (premiê) da Áustria.
Tradução de Clara Allain
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