São Paulo, #!L#Domingo, 06 de Fevereiro de 2000


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PERFIL
Líder cresceu em ambiente conservador e nostálgico
Pai de Haider era admirador de Hitler

DANIEL VERNET
do "Le Monde"

Simon Wiesenthal não é um homem vingativo. Ele acha que Joerg Haider não representa um perigo. Alguns anos atrás se felicitou pelo fato de o chefe do Partido da Liberdade da Áustria (PL) nunca ter dito uma palavra contra Israel. Mas, a acreditarmos na mais recente biógrafa de Haider, uma jornalista do semanário vienense "Profil", se Haider não o fez, foi por pouco.
Em seu livro, Christa Zoechling conta como, em 1996, Haider preparou um discurso criticando a política do chanceler Franz Vranitzky, que, segundo ele, desperdiçava o dinheiro austríaco em ajuda a Israel. Por sorte, um de seus amigos estava sentado na primeira fileira: o deputado europeu de origem judaica Peter Sichrovsky. Com um gesto de sua cabeça, Sichrovsky convenceu Haider a voltar sua crítica contra os palestinos. Justamente Sichrovsky, autor de um livro sobre o genocídio que virou "cult": "Nascer culpado, nascer vítima".
Quando o pequeno Joerg era criança, divertia-se atirando flechas num boneco batizado de Wiesenthal. A brincadeira continuou mais tarde quando, já estudante de segundo grau, Haider integrava uma organização cujos integrantes treinavam esgrima, tendo como adversário um boneco em tamanho natural também batizado com o nome do célebre caçador de nazistas.
Haider nasceu em 26 de janeiro de 1950 numa família modesta, fortemente marcada pelo nacional-socialismo. Quando seu pai, Robert, tinha 15 anos (depois de uma fase em que foi aprendiz de sapateiro), entrou para a Juventude Hitlerista. Depois, atuou em forças nazistas.
Filha de família burguesa, sua mãe, Dorothea, era nacional-socialista fervorosa. A fortuna de Joerg Haider veio do lado materno da família.
Em 1986, no mesmo ano em que assumiu o controle do Partido da Liberdade, Haider herdou de seu tio-avô uma propriedade familiar em Barental, na Província da Caríntia. Wilhelm Webhofer adquirira a propriedade "arianizada" em 1941.
Foi nesse ambiente conservador e nostálgico do passado que cresceu o pequeno Joerg, aluno modelo. Quando foi estudar direito em Viena, em 1969, era apenas natural que se voltasse às organizações estudantis nas quais ainda se luta esgrima. Por meio de sua família, fez contato com Friedrich Peter, líder do FPO.
Ingressou na Juventude Liberal, onde ganhou ascendência graças à revista "Tangente", para a qual conseguiu financiamento com um industrial do papel, Harald Prinzhorn, pai de Thomas Prinzhorn, cuja chapa liderou nas últimas eleições.

Nacional-socialismo
Joerg Haider mistura críticas acirradas ao sistema partidário austríaco, elogios à democracia direta e críticas à direção do FPO, que estaria envelhecendo. Ele se distingue por sua declarações no mínimo ambíguas sobre o nacional-socialismo e o Holocausto, vistos como "acontecimentos trágicos".
Na condição de líder do segundo partido da coalizão, Haider esperava tornar-se vice-chanceler. Assim que o social-democrata Vranitzky ficou sabendo da eleição de Joerg Haider, no entanto, denunciou o acordo com o FPO. Seus escrúpulos não foram compartilhados por Wolfgang Schuessel, atual chanceler (premiê) da Áustria.


Tradução de Clara Allain









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