São Paulo, #!L#Domingo, 06 de Fevereiro de 2000


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A HISTÓRIA SE REPETE
Ex-presidente provocou isolamento

LUC ROSENZWEIG
do "Le Monde"

Durante seis anos, de 1986 a 1992, o mais alto personagem do Estado austríaco -o presidente da República- foi alvo do ostracismo da quase totalidade dos países democráticos, conseguindo ser recebido oficialmente apenas em alguns países árabes e pelo papa João Paulo 2º.
É essa a história singular de Kurt Waldheim, cuja eleição à Presidência de seu país deveria representar o ponto culminante de uma carreira diplomática e política brilhante.
A descoberta de seu passado nas organizações nazistas, no entanto, o reduziu à condição de pária internacional durante toda a duração de seu mandato. Apesar de não oficialmente filiado ao partido conservador austríaco, foi escolhido para derrotar os socialistas que ocupavam o cargo havia mais de 15 anos.
Em 1985 Kurt Waldheim possuía todos os trunfos necessários para convencer seus compatriotas a lhe confiarem o cargo supremo, numa democracia em que o presidente não exerce o poder -que é reservado ao chanceler-, mas exerce uma magistratura moral e representa o Estado no exterior.
Seu passado de diplomata, de ministro das Relações Exteriores e, sobretudo, de secretário-geral da ONU de 1971 a 1981 lhe conferia uma estatura internacional. "Kurt Waldheim, um homem no qual o mundo confia", diziam os cartazes eleitorais de 1986.
O escândalo explodiu algumas semanas após o início da campanha presidencial: a revista vienense "Profil" publicou cópias de documentos indicando que, na época em que estudou na academia diplomática de Viena, Waldheim tinha sido inscrito num grupo de equitação ligado a nazistas e fizera parte da liga de estudantes nacional-socialistas.
A imprensa internacional tomou conta do assunto. Quando fora eleito secretário-geral da ONU, Waldheim tinha informado que fora liberado do Exército em 1942, depois de ter sido ferido na frente russa. Na realidade, o tenente Kurt Waldheim só deixou de lado o uniforme no momento da derrota de 1945, depois de ocupar diversos cargos nos Bálcãs.
Diante da enxurrada de revelações, Waldheim reagiu retratando sua participação como mínima, lembrando as posições católicas e antinazistas de sua família e dizendo que, como os bons austríacos de sua geração, "não fizera mais que seu dever".
Denunciou, sobretudo, a "campanha" que estaria sendo movida contra ele por certos "lobbies internacionais", afirmações que não deixaram de despertar o anti-semitismo latente de muitos eleitores. Com sucesso, já que, em junho de 1986, Waldheim foi eleito presidente, derrotando seu adversário social-democrata com quase 54% dos votos.
O repúdio internacional à dissimulação, pelo novo presidente, dos elementos sombrios de seu passado se intensificou.
Em abril de 1987, o secretário norte-americano da Justiça inscreveu Waldheim na lista de suspeitos criminosos de guerra nazistas com ingresso proibido no território dos EUA.


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