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A HISTÓRIA SE REPETE
Ex-presidente provocou isolamento
LUC ROSENZWEIG
do "Le Monde"
Durante seis anos, de 1986 a
1992, o mais alto personagem do
Estado austríaco -o presidente
da República- foi alvo do ostracismo da quase totalidade
dos países democráticos, conseguindo ser recebido oficialmente apenas em alguns países árabes e pelo papa João Paulo 2º.
É essa a história singular de
Kurt Waldheim, cuja eleição à
Presidência de seu país deveria
representar o ponto culminante
de uma carreira diplomática e
política brilhante.
A descoberta de seu passado
nas organizações nazistas, no
entanto, o reduziu à condição
de pária internacional durante
toda a duração de seu mandato.
Apesar de não oficialmente filiado ao partido conservador austríaco, foi escolhido para derrotar os socialistas que ocupavam
o cargo havia mais de 15 anos.
Em 1985 Kurt Waldheim possuía todos os trunfos necessários para convencer seus compatriotas a lhe confiarem o cargo supremo, numa democracia
em que o presidente não exerce
o poder -que é reservado ao
chanceler-, mas exerce uma
magistratura moral e representa
o Estado no exterior.
Seu passado de diplomata, de
ministro das Relações Exteriores e, sobretudo, de secretário-geral da ONU de 1971 a 1981 lhe
conferia uma estatura internacional. "Kurt Waldheim, um
homem no qual o mundo confia", diziam os cartazes eleitorais de 1986.
O escândalo explodiu algumas semanas após o início da
campanha presidencial: a revista vienense "Profil" publicou
cópias de documentos indicando que, na época em que estudou na academia diplomática
de Viena, Waldheim tinha sido
inscrito num grupo de equitação ligado a nazistas e fizera parte da liga de estudantes nacional-socialistas.
A imprensa internacional tomou conta do assunto. Quando
fora eleito secretário-geral da
ONU, Waldheim tinha informado que fora liberado do
Exército em 1942, depois de ter
sido ferido na frente russa. Na
realidade, o tenente Kurt Waldheim só deixou de lado o uniforme no momento da derrota
de 1945, depois de ocupar diversos cargos nos Bálcãs.
Diante da enxurrada de revelações, Waldheim reagiu retratando sua participação como
mínima, lembrando as posições
católicas e antinazistas de sua
família e dizendo que, como os
bons austríacos de sua geração,
"não fizera mais que seu dever".
Denunciou, sobretudo, a
"campanha" que estaria sendo
movida contra ele por certos
"lobbies internacionais", afirmações que não deixaram de
despertar o anti-semitismo latente de muitos eleitores. Com
sucesso, já que, em junho de
1986, Waldheim foi eleito presidente, derrotando seu adversário social-democrata com quase
54% dos votos.
O repúdio internacional à dissimulação, pelo novo presidente, dos elementos sombrios de
seu passado se intensificou.
Em abril de 1987, o secretário
norte-americano da Justiça inscreveu Waldheim na lista de
suspeitos criminosos de guerra
nazistas com ingresso proibido
no território dos EUA.
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