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A TERRA DE HAIDER
Província da Caríntia se
considera bastião germânico
LUCAS DELATTRE
do "Le Monde", em Klagenfurt
Um clima de desconfiança e intimidação se instalou na pequena
Província da Caríntia. "Arrependo-me de ter aberto as portas da
política a Joerg Haider", disse na
última terça-feira o político de 68
anos que foi o primeiro a vislumbrar os dons do novo homem forte austríaco.
Foi em 1976 que Mario Ferrari-Brunnenfeld, então presidente do
Partido da Liberdade na Caríntia,
chamou Joerg Haider para ser seu
segundo em comando. O "padrinho" se tornou uma das primeiras vítimas de seu jovem protegido, que tomou seu lugar em 1986.
Desde então, Haider não parou
mais de aumentar seu poder.
Essa pequena Província de 520
mil habitantes e que faz fronteira
com a Eslovênia é a base política
de Haider. Em Klagenfurt, a capital, as pessoas não entendem as
reações de toda a Europa pela
chegada ao poder de um partido
de extrema direita. A opinião majoritária é que a experiência vivida
com Haider não justifica as acusações contra ele vindas do exterior.
Eleito governador da Província
pela primeira vez em 1989, ele foi
obrigado a renunciar em 1991, depois de elogiar a política de emprego adotada no Terceiro Reich.
Reeleito no ano passado, Haider
hoje dirige a Caríntia à frente de
um governo no qual são representados os dois outros partidos
tradicionais, o Social Democrata e
o Partido Popular.
Por enquanto, a Caríntia ainda
não é um miniestado totalitário.
O Estado de Direito é respeitado,
e os direitos humanos também,
ao menos formalmente. Um dos
anúncios de Haider -o de que
iria dotar estrangeiros de um documento de identidade diferente
do usado pelos austríacos, com
lugar para a impressão digital do
portador- não se concretizou.
A minoria eslovena (cerca de
2% da população da Caríntia) não
se sente à vontade na região. As
escolas mistas, com aulas em alemão e esloveno, são desfavorecidas, e os pais são fortemente incitados a escolher uma ou outra língua para os filhos. Na prática, a
política favorece escolas alemãs.
O que mudou com a chegada ao
poder da extrema direita foi sobretudo o clima geral. "Quando
você diz em público que discorda
de alguma coisa, as pessoas
olham feio", explica Elizabeth
Steiner, correspondente em Klagenfurt do jornal liberal "Der
Standard". "Às vezes me acusam
de trabalhar para um jornal judeu
(o dono do 'Standard", Oskar
Bronner, é judeu)."
O Holocausto não é um tema do
qual se fala. Não existe comunidade judaica, e os dirigentes de todos os partidos costumam admitir certa admiração pelo Terceiro
Reich. "Tenho orgulho de ter participado da Juventude Hitlerista",
disse o social-democrata Leopold
Wagner, um dos antecessores de
Haider no governo da Província.
Vista de Klagenfurt, a história
parou em 1920. Nesse ano os habitantes da Caríntia decidiram,
após referendo popular, que a região faria parte da Áustria, e não
da Iugoslávia. Até hoje a Caríntia
se vê como bastião avançado da
cultura germânica nos confins do
mundo eslavo, como se a luta armada dos anos 1918-1920 nunca
tivesse terminado. Todo ano, em
10 de outubro, o aniversário do
referendo é comemorado, com a
presença de veteranos da SS, tropa de elite nazista.
"Viena nos abandonou em
1918" -é esse o refrão da política
na Caríntia. A Província desconfia da capital do país e odeia seu
cosmopolitismo elegante. Hoje,
em nome de um provincianismo
militante, é fácil para Haider denunciar a arrogância de Bruxelas.
Apesar disso, deve agir com prudência: no referendo de 1994 que
decidiu pela entrada da Áustria
na União Européia, 70% dos eleitores da Caríntia votaram a favor.
Tradução de Clara Allain
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