São Paulo, sexta-feira, 06 de fevereiro de 2004

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ELEIÇÃO NOS EUA

Antes favorito para ser o desafiante de Bush, pré-candidato diz que só continua se vencer em Wisconsin, no dia 17

Dean admite deixar a disputa democrata

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Howard Dean admitiu pela primeira vez ontem que pode desistir de concorrer à indicação do Partido Democrata para enfrentar o republicano George W. Bush na eleição presidencial de novembro. Dean, que há menos de dois meses liderava pesquisas nacionais entre os democratas, estabeleceu a primária de Wisconsin, no próximo dia 17, como "crucial" para a sua campanha.
"Precisamos vencer em Wisconsin. Uma vitória nos levará às grandes primárias [em dez Estados] de 2 de março e fechará a corrida em dois candidatos. Algo diferente disso e estaremos fora da disputa", disse Dean em e-mail enviado a partidários.
O aparente ultimato veio no dia em que nova pesquisa mostrou Dean 37 pontos atrás do pré-candidato John Kerry em Michigan, que vota amanhã. Há dois dias, Dean disse que "viraria".
Das nove prévias disputadas até agora, Kerry venceu sete. Para Dean, o antes favorito ex-governador de Vermont, o melhor resultado foi um distante segundo lugar em New Hampshire.
Agora, Dean estaria sob pressão do próprio partido para estabelecer um limite para sua permanência como candidato. Os democratas crêem que uma disputa interna mais longa afetará as chances do partido de duas formas: os pré-candidatos terão de se atracar, com custos à imagem, e o preço da campanha queimará fontes de recursos antes que o embate direto com Bush tenha começado.

Pouco dinheiro
Kerry chegou a hipotecar uma casa no final do ano passado para continuar na campanha. Hoje, é quem mais recebe apoio político e dinheiro -cifras modestas comparadas ao cofre republicano.
Bush já tem mais de US$ 130 milhões e começará a gastar no médio prazo, com foco na propaganda nacional de TV, que é paga nos EUA, e nas viagens.
Entre os democratas, Dean ontem apelou a doações de US$ 50 pela internet e os funcionários de Wesley Clark concordaram em não receber US$ 240 mil em atrasados para que o general possa aparecer na TV do Tennessee.
Já o senador John Edwards teria recebido US$ 300 mil, principalmente em cifras modestas pela internet, depois de ter vencido a primária da Carolina do Sul.
Edwards está gastando o seu dinheiro no Tennessee, que vota no dia 10. Uma vitória sua no Estado poderá prolongar por mais algumas semanas a indefinição do nome do candidato democrata.
Logo após as primeiras duas prévias, em Iowa e New Hampshire, Terry McAuliffe, presidente do Comitê Democrata Nacional, havia recomendado aos pré-candidatos perdedores que abandonassem rapidamente a corrida.
Richard Gephardt e Joe Lieberman já atenderam ao pedido, e Dean estaria agora reconhecendo a sua última chance. A rede de TV CBS, citando fontes próximas ao deputado, disse que Gephardt deve anunciar hoje seu apoio Kerry.
Embora os democratas tenham divisões, há um reconhecimento da necessidade de guardar forças para a verdadeira campanha eleitoral, a partir do meio do ano.
Todos os cruzamentos de votos saídos dos Estados que fizeram prévias mostram Kerry consistente em todos os tipos de eleitorado, o que acentuou o consenso democrata popular e partidário em torno do seu nome.
Nas prévias de Carolina do Sul, Missouri e Arizona, por exemplo, Kerry obteve saldos de 40% a 50% dos votos de negros e latinos, minorias que muitos julgavam estar fora do seu alcance.
Agora, o próprio Kerry é quem usa sua vantagem em trabalho de bastidores para que os chamados "superdelegados" democratas passem para o seu lado.
Os "superdelegados" são figuras proeminentes do partido que, juntas, podem representar 40% dos 2.162 votos necessários para escolher o candidato na Convenção Nacional. Howard Dean, por exemplo, diz que mais de uma centena de "superdelegados" estaria do seu lado.


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