|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELEIÇÃO NOS EUA
Antes favorito para ser o desafiante de Bush, pré-candidato diz que só continua se vencer em Wisconsin, no dia 17
Dean admite deixar a disputa democrata
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Howard Dean admitiu pela primeira vez ontem que pode desistir de concorrer à indicação do
Partido Democrata para enfrentar o republicano George W. Bush
na eleição presidencial de novembro. Dean, que há menos de dois
meses liderava pesquisas nacionais entre os democratas, estabeleceu a primária de Wisconsin, no
próximo dia 17, como "crucial"
para a sua campanha.
"Precisamos vencer em Wisconsin. Uma vitória nos levará às
grandes primárias [em dez Estados] de 2 de março e fechará a
corrida em dois candidatos. Algo
diferente disso e estaremos fora
da disputa", disse Dean em e-mail
enviado a partidários.
O aparente ultimato veio no dia
em que nova pesquisa mostrou
Dean 37 pontos atrás do pré-candidato John Kerry em Michigan,
que vota amanhã. Há dois dias,
Dean disse que "viraria".
Das nove prévias disputadas até
agora, Kerry venceu sete. Para
Dean, o antes favorito ex-governador de Vermont, o melhor resultado foi um distante segundo
lugar em New Hampshire.
Agora, Dean estaria sob pressão
do próprio partido para estabelecer um limite para sua permanência como candidato. Os democratas crêem que uma disputa interna mais longa afetará as chances
do partido de duas formas: os pré-candidatos terão de se atracar,
com custos à imagem, e o preço
da campanha queimará fontes de
recursos antes que o embate direto com Bush tenha começado.
Pouco dinheiro
Kerry chegou a hipotecar uma
casa no final do ano passado para
continuar na campanha. Hoje, é
quem mais recebe apoio político e
dinheiro -cifras modestas comparadas ao cofre republicano.
Bush já tem mais de US$ 130 milhões e começará a gastar no médio prazo, com foco na propaganda nacional de TV, que é paga nos
EUA, e nas viagens.
Entre os democratas, Dean ontem apelou a doações de US$ 50
pela internet e os funcionários de
Wesley Clark concordaram em
não receber US$ 240 mil em atrasados para que o general possa
aparecer na TV do Tennessee.
Já o senador John Edwards teria
recebido US$ 300 mil, principalmente em cifras modestas pela internet, depois de ter vencido a primária da Carolina do Sul.
Edwards está gastando o seu dinheiro no Tennessee, que vota no
dia 10. Uma vitória sua no Estado
poderá prolongar por mais algumas semanas a indefinição do nome do candidato democrata.
Logo após as primeiras duas
prévias, em Iowa e New Hampshire, Terry McAuliffe, presidente
do Comitê Democrata Nacional,
havia recomendado aos pré-candidatos perdedores que abandonassem rapidamente a corrida.
Richard Gephardt e Joe Lieberman já atenderam ao pedido, e
Dean estaria agora reconhecendo
a sua última chance. A rede de TV
CBS, citando fontes próximas ao
deputado, disse que Gephardt deve anunciar hoje seu apoio Kerry.
Embora os democratas tenham
divisões, há um reconhecimento
da necessidade de guardar forças
para a verdadeira campanha eleitoral, a partir do meio do ano.
Todos os cruzamentos de votos
saídos dos Estados que fizeram
prévias mostram Kerry consistente em todos os tipos de eleitorado, o que acentuou o consenso
democrata popular e partidário
em torno do seu nome.
Nas prévias de Carolina do Sul,
Missouri e Arizona, por exemplo,
Kerry obteve saldos de 40% a 50%
dos votos de negros e latinos, minorias que muitos julgavam estar
fora do seu alcance.
Agora, o próprio Kerry é quem
usa sua vantagem em trabalho de
bastidores para que os chamados
"superdelegados" democratas
passem para o seu lado.
Os "superdelegados" são figuras proeminentes do partido que,
juntas, podem representar 40%
dos 2.162 votos necessários para
escolher o candidato na Convenção Nacional. Howard Dean, por
exemplo, diz que mais de uma
centena de "superdelegados" estaria do seu lado.
Texto Anterior: Líder xiita iraquiano escapa de atentado Próximo Texto: Análise: Republicanos vão acusar Kerry de "esquerdismo" Índice
|