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ÁSIA
Manobra de Musharraf foi negociada com os militares
Ditador do Paquistão "perdoa" cientista que vazou segredo nuclear
DA REDAÇÃO
O ditador do Paquistão, general
Pervez Musharraf, anunciou ontem ter "perdoado" o cientista
Abdul Qadeer Khan, considerado
o "pai" da bomba atômica produzida por seu país em 1998, que
confessou na TV, anteontem, ter
entregado tecnologia nuclear para Líbia, Irã e Coréia do Norte.
Musharraf procurou, com o
perdão, dar o episódio por encerrado. Disse em entrevista que não
entregaria documentos relativos à
proliferação nuclear à AIEA
(Agência Internacional de Energia Atômica), ligada à ONU.
Segundo a agência de notícias
Reuters, a aparição de Khan na
TV, sua audiência com Musharraf
e a decisão de perdoá-lo fazem
parte de um roteiro negociado
com lideranças islâmicas e com as
Forças Armadas.
Os militares teriam exigido que
nenhum oficial graduado fosse
publicamente implicado no contrabando de componentes nucleares. O tráfico só pode ter ocorrido com a cumplicidade deles.
Em Viena, o diretor da AIEA,
Mohamed El Baradei, disse ontem que Khan só agiu com a cumplicidade simultânea de muitas
pessoas em diversos países. Dentro do próprio Paquistão "ele não
agiu sozinho", o que faz dele
"apenas a ponta de um imenso
iceberg", declarou.
Os EUA tendem a não criticar
Musharraf, um aliado capital nas
tentativas de desmantelar a Al
Qaeda e prender Osama bin Laden, que estaria refugiado dentro
do Paquistão ou em suas imediações, em território afegão.
O "Washington Post" disse ontem em editorial que Musharraf
ameaçou bem mais os EUA e a segurança mundial em termos de
armas de destruição de massa que
a Al Qaeda ou Saddam Hussein.
"O Paquistão deve se sujeitar a
inspeções internacionais como
garantia de que não praticará
mais a proliferação", diz o "Post".
Conclui que "promessas de bom
comportamento no futuro nada
valem quando partem de um general pouco confiável".
O ditador e o cientista Khan disseram que o tráfico ocorreu sem o
conhecimento do governo. Musharraf chegou ao poder por meio
de um golpe em outubro de 1999.
Mas, até 2002, segundo o "New
York Times", a Coréia do Norte
continuava recebendo peças nucleares do Paquistão.
Com agências internacionais
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