São Paulo, sexta-feira, 06 de fevereiro de 2004

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ÁSIA

Manobra de Musharraf foi negociada com os militares

Ditador do Paquistão "perdoa" cientista que vazou segredo nuclear

DA REDAÇÃO

O ditador do Paquistão, general Pervez Musharraf, anunciou ontem ter "perdoado" o cientista Abdul Qadeer Khan, considerado o "pai" da bomba atômica produzida por seu país em 1998, que confessou na TV, anteontem, ter entregado tecnologia nuclear para Líbia, Irã e Coréia do Norte.
Musharraf procurou, com o perdão, dar o episódio por encerrado. Disse em entrevista que não entregaria documentos relativos à proliferação nuclear à AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), ligada à ONU.
Segundo a agência de notícias Reuters, a aparição de Khan na TV, sua audiência com Musharraf e a decisão de perdoá-lo fazem parte de um roteiro negociado com lideranças islâmicas e com as Forças Armadas.
Os militares teriam exigido que nenhum oficial graduado fosse publicamente implicado no contrabando de componentes nucleares. O tráfico só pode ter ocorrido com a cumplicidade deles.
Em Viena, o diretor da AIEA, Mohamed El Baradei, disse ontem que Khan só agiu com a cumplicidade simultânea de muitas pessoas em diversos países. Dentro do próprio Paquistão "ele não agiu sozinho", o que faz dele "apenas a ponta de um imenso iceberg", declarou.
Os EUA tendem a não criticar Musharraf, um aliado capital nas tentativas de desmantelar a Al Qaeda e prender Osama bin Laden, que estaria refugiado dentro do Paquistão ou em suas imediações, em território afegão.
O "Washington Post" disse ontem em editorial que Musharraf ameaçou bem mais os EUA e a segurança mundial em termos de armas de destruição de massa que a Al Qaeda ou Saddam Hussein.
"O Paquistão deve se sujeitar a inspeções internacionais como garantia de que não praticará mais a proliferação", diz o "Post". Conclui que "promessas de bom comportamento no futuro nada valem quando partem de um general pouco confiável".
O ditador e o cientista Khan disseram que o tráfico ocorreu sem o conhecimento do governo. Musharraf chegou ao poder por meio de um golpe em outubro de 1999. Mas, até 2002, segundo o "New York Times", a Coréia do Norte continuava recebendo peças nucleares do Paquistão.


Com agências internacionais


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