São Paulo, domingo, 06 de fevereiro de 2011 |
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Fiel da balança egípcia, Exército tem atuação ambígua Para analistas, militares não "forçam a barra" na perspectiva de manter posição privilegiada no poder SAMY ADGHIRNI ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO Na praça Tahrir, principal palco da revolta contra o ditador Hosni Mubarak, os canhões de muitos tanques ainda apontam para os manifestantes instalados no local há 12 dias. Mas nenhum tiro foi disparado até agora contra a multidão de rebeldes. O Exército disse que não usará violência contra o povo. A cordialidade em Tahrir entre os militantes antigoverno e os soldados, teoricamente submetidos à palavra final do ditador, expõe as contradições e ambiguidades de uma força cotada para ser o fiel da balança na crise. O Exército está nas ruas das principais cidades egípcias desde o início da revolta, Mas suas intervenções foram raras e contidas, mesmo quando 250 mil pessoas protestaram contra o governo na semana passada, num possível sinal de desobediência a ordens de Mubarak para reprimir manifestações. O Exército se absteve de reagir em larga escala até mesmo quando o centro do Cairo se tornou palco de uma sangrenta batalha entre militantes anti e pró-Mubarak nos últimos dias. A escalada da tensão dissipou a atmosfera romântica da chegada das tropas nas ruas, quando manifestantes enfeitavam tanques com flores e entregavam água e comida aos soldados. Hoje o Exército tem mais homens armados nas ruas e controla cordões de isolamento para manter afastadas as duas facções. Manifestantes formaram ontem uma barreira humana para impedir tanques de sair de Tahrir. O tom das negociações para romper o impasse no Egito deixa claro que não haverá desfecho sem levar em conta os militares, que formam um corpo dividido mas atuante em todas as esferas, até a economia. EUA e União Europeia defendem abertamente a possibilidade de um governo de transição pós-Mubarak sob controle militar. O Exército é tido como o único guardião da estabilidade no Egito. Um dos líderes com mais apoio interno e externo é o general Omar Suleiman, chefe de Inteligência recém-promovido a vice-presidente. Analistas dizem que os sinais ambíguos do comando militar sobre sua lealdade ao regime enviam a mensagem de que o Exército está acima das rixas políticas e busca manter influência em qualquer futuro governo. Um especialista que não quis se identificar diz que os militares não querem dar a impressão de "forçar a barra" para se manter no poder. Em vez disso, "querem ser convidados". Especula-se ainda que o Exército deixou a crise estourar como forma de manifestar repúdio a Gamal, o filho não militar que Mubarak queria emplacar como seu sucessor. Desde a queda da monarquia, em 1952, o Egito só teve militares no comando -Mohamed Naguib, Gamal Abdel Nasser, Anuar Sadat e Mubarak, um ex-comandante da Força Aérea. Ao contrário da polícia, vista como corrupta e a serviço do regime, o Exército é tido como uma instituição honesta que defende o povo. Apesar das derrotas para Israel, militares gozam da imagem de bons serviços prestados à nação. Entrar no Exército ainda é um dos melhores meios de ascensão social no país onde 40% da população vive com menos de US$ 2 ao dia. Texto Anterior: Negociação de transição cresce no Egito Próximo Texto: Diretor da rede árabe Al Jazeera no Cairo é preso Índice | Comunicar Erros |
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