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Aiatolá é o maior obstáculo político para os EUA
DO "INDEPENDENT"
Aos 75 anos, o recluso aiatolá
Ali al Sistani é hoje o homem mais
poderoso do Iraque. Os fatos desta semana mostraram claramente
a importância desse clérigo que,
em janeiro, levou mais de 100 mil
manifestantes às ruas de cinco cidades iraquianas para exigir eleições diretas -e, mais importante, orientou-os a voltar pacificamente para casa, com a facilidade
de um estalar de dedos, quando
conseguiu o que queria dos EUA.
A morte de 181 peregrinos xiitas
em atentados na última terça-feira poderia ter detonado uma
guerra civil, mas o aiatolá rapidamente abafou qualquer desejo de
retaliação. Com a mesma facilidade, boicotou ontem a assinatura
da Constituição interina.
O que fica claro após esses episódios é que Al Sistani é o maior
obstáculo político encontrado pelos EUA no país até agora. Em
pouco tempo, o aiatolá já forçou
Washington a redesenhar duas
vezes seus planos para o país.
É por causa dele que a Constituição permanente será escrita
por uma Assembléia eleita democraticamente, não promulgada às
pressas antes da transição. Também é por causa dele que a ONU
foi chamada para avaliar a viabilidade de realizar eleições diretas
no país e assumiu um maior papel
na reconstrução.
Com sua longa barba branca e
seu turbante preto -que indica
descendência de Muhammad-,
ele pode trazer aos americanos a
lembrança do aiatolá Khomeini,
que liderou a Revolução Islâmica
(1979) no Irã, reintroduziu a teocracia no Oriente Médio e se tornou, na época, um dos maiores
inimigos dos EUA. Mas, embora
os dois tenham nascido no Irã e
estudado juntos em Najaf (sul do
Iraque), ninguém espera que Al
Sistani siga Khomeini.
Um dos únicos cinco grandes
aiatolás ainda vivos no mundo
-nos últimos meses, outros clérigos iraquianos poderosos acabaram mortos-, Al Sistani é
adepto da discrição. Afinal, foi em
silêncio e longe da política que ele
passou os 24 anos da ditadura de
Saddam Hussein.
Nos primeiros meses da ocupação, esse período parecia ter lhe
dado certa maleabilidade: sua resposta inicial à invasão foi que "os
crentes não devem atrapalhar as
forças libertadoras, mas ajudá-las
a combater o tirano". O que os
americanos não perceberam é
que ele também recomendou aos
iraquianos que, após essa luta,
perguntassem às forças libertadoras quando elas deixariam o país.
Mais atenção os faria perceber
que Al Sistani recebe milhões de
dólares em doações, controla escolas, mesquitas, clínicas e outras
instituições de assistência social e
que, logo após a invasão, sua crítica aos saques fez com que eles
acabassem nas regiões xiitas.
Outro sinal de que o aiatolá se
planejava para o longo prazo: embora recebesse com freqüência o
Conselho de Governo Iraquiano e
o representante da ONU no país,
o brasileiro Sérgio Vieira de Mello
(morto em um atentado), ele
sempre recusava encontros com
autoridades dos EUA.
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