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depoimento
Chilenos são gentis com quem cobre catástrofe
DA ENVIADA A CONCEPCIÓN
"Silvana, por aqui!" É o estudante de medicina Carlos
Canales quem grita indicando a rota de fuga, no momento em que um terremoto de
magnitude 6,6 faz tudo tremer na casa em que estamos,
em Concepción.
Os chilenos são experts em
como se comportar em caso
de terremoto. Ensinam que a
primeira coisa a fazer é correr para o principal pilar de
sustentação da casa -supõe-se que ele não cairá- e esperar ali até o fim do tremor.
Também convém ter à
mão um kit de sobrevivência
-água, alimentos, agasalhos- para esperar a etapa
seguinte, que é ficar do lado
de fora da construção até ter
certeza de que não cederá.
O tom da voz de Canales e
o som do chacoalhar do teto,
do chão e da parede não deixam dúvidas sobre o perigo.
A casa em que estamos, da
mãe de Canales, Nurya Palma, tem uma área seriamente afetada pelo terremoto do
último sábado. O chão se desestruturou, e paredes exibem grandes rachaduras.
Para chegar ao ponto de
fuga, Canales e eu teríamos
de atravessar esse trecho
"condenado", ou seja, não
havia tempo a perder.
Quando chegamos ao refúgio, já estavam no local dom
Carlos, o motorista e guia
que me trouxe de Santiago, e
a cunhada que vive em Concepción, além da irmã e da
mãe de Canales.
Quando chegamos a Concepción, dom Carlos e eu encontramos hotéis superlotados por jornalistas e por outros profissionais que trabalham na reconstrução.
Nurya me abriu as portas
da sua casa em um dos múltiplos gestos de gentileza que
os chilenos dedicam aos jornalistas estrangeiros que cobrem sua catástrofe.
Passado o susto, parentes e
amigos da família telefonam
para saber se todos estão
bem. Canales nos descontrai
com uma piada:
"Acho que no Chile ninguém nunca mais vai usar o
telefone no modo de vibração [cujo ruído lembra o de
um terremoto médio, como
aquele que acabávamos de
vivenciar]".
Pouco depois toca o celular de dom Carlos. É o encarregado do hotel em que me
hospedei em Santiago, onde
ontem pela manhã não houve sustos com réplicas do terremoto. Quer saber se dom
Carlos e eu precisamos de
ajuda.
Sinto meus olhos inundarem e "adapto mentalmente"
o poema de Carlos Drummond de Andrade: "Esse terremoto, esses gestos botam a
gente comovido como o
quê".
(SILVANA ARANTES)
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