|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SEGURANÇA DE VÔO
Ex-inspetora do Departamento dos Transportes diz que governo ocultou dado sobre crescimento de desastres
Livro acusa EUA de `maquiar' acidentes
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington
A ex-inspetora geral do Departamento dos Transportes dos EUA,
Mary Schiavo, diz que o governo
dos EUA tinha em 1996 dados que
previam "um dramático aumento
de acidentes aéreos" a partir de
1999, mas os escondeu do público.
Esta é apenas uma das denúncias
contra as autoridades responsáveis pela segurança na aviação civil
norte-americana feitas por Schiavo em seu livro "Flying Blind,
Flying Safe" (Voando às Cegas,
Voando com Segurança, Avon
Books, US$ 25), que chegou na semana passada às livrarias e já está
na lista dos mais vendidos do país.
Schiavo ficou famosa em maio
do ano passado, após o acidente
com um DC-9 da Valujet em que
morreram 110 pessoas, incluindo
dois brasileiros. O vôo 592 de
Atlanta a Miami caiu depois que a
cabine se encheu de fumaça, causada porque o avião transportava
botijões de gás -carga proibida.
Ela apareceu em programas de
TV e contradisse seus superiores,
inclusive o secretário Federico Pe¤a, que afirmavam que a Valujet
era uma empresa segura.
Após esses incidentes, Schiavo
renunciou ao cargo. Agora, leciona na Ohio State University. Ela
denuncia que, após sua demissão,
os funcionários da Inspetoria Geral foram proibidos de dar entrevistas e diversos projetos em andamento para aumentar a segurança
dos vôos pararam.
Schiavo acusa a Administração
Federal de Aviação (FAA, em inglês) de fazer inspeções relaxadas,
permitir que a segurança nos aeroportos seja frouxa e aceitar o uso
de peças adulteradas em aviões. Os
exames de pilotos, segundo ela,
são feitos apenas "pro forma", e
os sistemas de controle de tráfego
aéreo estão antiquados.
"Só depois de um grande acidente, com pessoas mortas e sobreviventes chorando nas telas de
TV, é que a FAA resolve fazer mudanças", afirma Schiavo.
Após o acidente com a Valujet, o
Congresso dos EUA reformulou os
objetivos da FAA, que agora só é
responsável pela segurança da
aviação civil. Até 1996, era também
encarregada de promover a indústria aeronáutica, o que, segundo
Schiavo, é incompatível com a melhoria das condições de segurança.
A FAA respondeu ao livro de
Schiavo com uma declaração curta: "O sistema de aviação norte-americano é o mais seguro do mundo, transportando 1,6 milhão de
passageiros a cada dia. Este ano, a
FAA está gastando US$ 4,4 bilhões
para melhorar as suas inspeções, e
no ano que vem esta quantia será
de US$ 4,9 bilhões, com o objetivo
de atender ao aumento do tráfego
aéreo e para assegurar que o céu
sobre este país continue a ser o
mais seguro do mundo".
Schiavo defende com vigor no livro sua tese de que a FAA deveria
divulgar periodicamente uma
classificação das empresas aéreas
com base em critérios de segurança, como faz em relação a cumprimento de horários e perda de bagagem. "Se essa informação for
tornada pública, as empresas vão
se tornar mais e mais competitivas
em relação a critérios de segurança", argumenta Schiavo no livro.
Ela afirma que os últimos dados
a que teve acesso quando no governo demonstravam que a Southwest é a companhia aérea, entre as
grandes, com menores índices de
acidentes e quase-acidentes nos
EUA, seguida pela America West e
US Airways. Continental, Delta e
American são as três com índices
mais elevados, seguidos por
Northwest, TWA e United.
Entre as empresas mais criticadas por Schiavo estão: Carnival,
Kiwi, America West, a nova Pan
Am, Tower ("tem taxa de acidentes e quase acidentes seis vezes pior
do que a Valujet") e a própria Valujet ("se você não se convenceu
até agora, talvez nada possa convencê-lo"). Todas são empresas
que oferecem tarifas baixas.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|