São Paulo, domingo, 6 de abril de 1997.

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SEGURANÇA DE VÔO
Ex-inspetora do Departamento dos Transportes diz que governo ocultou dado sobre crescimento de desastres
Livro acusa EUA de `maquiar' acidentes

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington

A ex-inspetora geral do Departamento dos Transportes dos EUA, Mary Schiavo, diz que o governo dos EUA tinha em 1996 dados que previam "um dramático aumento de acidentes aéreos" a partir de 1999, mas os escondeu do público.
Esta é apenas uma das denúncias contra as autoridades responsáveis pela segurança na aviação civil norte-americana feitas por Schiavo em seu livro "Flying Blind, Flying Safe" (Voando às Cegas, Voando com Segurança, Avon Books, US$ 25), que chegou na semana passada às livrarias e já está na lista dos mais vendidos do país.
Schiavo ficou famosa em maio do ano passado, após o acidente com um DC-9 da Valujet em que morreram 110 pessoas, incluindo dois brasileiros. O vôo 592 de Atlanta a Miami caiu depois que a cabine se encheu de fumaça, causada porque o avião transportava botijões de gás -carga proibida.
Ela apareceu em programas de TV e contradisse seus superiores, inclusive o secretário Federico Pe¤a, que afirmavam que a Valujet era uma empresa segura.
Após esses incidentes, Schiavo renunciou ao cargo. Agora, leciona na Ohio State University. Ela denuncia que, após sua demissão, os funcionários da Inspetoria Geral foram proibidos de dar entrevistas e diversos projetos em andamento para aumentar a segurança dos vôos pararam.
Schiavo acusa a Administração Federal de Aviação (FAA, em inglês) de fazer inspeções relaxadas, permitir que a segurança nos aeroportos seja frouxa e aceitar o uso de peças adulteradas em aviões. Os exames de pilotos, segundo ela, são feitos apenas "pro forma", e os sistemas de controle de tráfego aéreo estão antiquados.
"Só depois de um grande acidente, com pessoas mortas e sobreviventes chorando nas telas de TV, é que a FAA resolve fazer mudanças", afirma Schiavo.
Após o acidente com a Valujet, o Congresso dos EUA reformulou os objetivos da FAA, que agora só é responsável pela segurança da aviação civil. Até 1996, era também encarregada de promover a indústria aeronáutica, o que, segundo Schiavo, é incompatível com a melhoria das condições de segurança.
A FAA respondeu ao livro de Schiavo com uma declaração curta: "O sistema de aviação norte-americano é o mais seguro do mundo, transportando 1,6 milhão de passageiros a cada dia. Este ano, a FAA está gastando US$ 4,4 bilhões para melhorar as suas inspeções, e no ano que vem esta quantia será de US$ 4,9 bilhões, com o objetivo de atender ao aumento do tráfego aéreo e para assegurar que o céu sobre este país continue a ser o mais seguro do mundo".
Schiavo defende com vigor no livro sua tese de que a FAA deveria divulgar periodicamente uma classificação das empresas aéreas com base em critérios de segurança, como faz em relação a cumprimento de horários e perda de bagagem. "Se essa informação for tornada pública, as empresas vão se tornar mais e mais competitivas em relação a critérios de segurança", argumenta Schiavo no livro.
Ela afirma que os últimos dados a que teve acesso quando no governo demonstravam que a Southwest é a companhia aérea, entre as grandes, com menores índices de acidentes e quase-acidentes nos EUA, seguida pela America West e US Airways. Continental, Delta e American são as três com índices mais elevados, seguidos por Northwest, TWA e United.
Entre as empresas mais criticadas por Schiavo estão: Carnival, Kiwi, America West, a nova Pan Am, Tower ("tem taxa de acidentes e quase acidentes seis vezes pior do que a Valujet") e a própria Valujet ("se você não se convenceu até agora, talvez nada possa convencê-lo"). Todas são empresas que oferecem tarifas baixas.

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