São Paulo, sexta-feira, 06 de abril de 2001

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JUSTIÇA

Imigrantes morreram sem ar

Holandês é condenado por tráfico humano

LEONARDO CRUZ
DE LONDRES

A Justiça britânica condenou o holandês Perry Wacker, 33, a 14 anos de prisão por seu envolvimento na morte de 58 imigrantes chineses, em Dover, no sul do Reino Unido, em junho de 2000.
Wacker dirigia o caminhão carregado com tomates onde estavam escondidos os imigrantes, que tentavam entrar ilegalmente no Reino Unido. O veículo havia saído da Bélgica, atravessado o canal da Mancha em uma balsa e chegado ao porto de Dover.
Para que os chineses não fossem localizados por oficiais da imigração britânica, o motorista holandês fechou a única saída para circulação de ar do contêiner, e 58 dos 60 asiáticos que estavam no veículo morreram asfixiados.
Wacker foi sentenciado a oito anos de prisão pela tentativa de contrabandear imigrantes ilegais e a mais seis anos pelo homicídio culposo dos chineses.
Ying Guo, chinês radicado no Reino Unido que atuava com Wacker como intérprete, foi condenado a seis anos pela tentativa de contrabando.
Ao proferir sua sentença, o juiz Alan Moses disse que o holandês tratou os imigrantes como "carga". "Essa sentença não reflete a dimensão da tragédia dessas mortes", afirmou Moses.
Durante o julgamento, Ke Shi Guang, 22, um dos dois únicos sobreviventes da viagem, contou que as pessoas dentro do caminhão entraram em pânico cerca de três horas após a saída de ar ter sido fechada. "Alguns tentaram chutar a porta do caminhão, outros gritaram, mas ninguém apareceu para ajudar", disse Guang.
Ele e Su Di Ke, 20, o outro sobrevivente, só escaparam com vida por terem sido os últimos imigrantes a entrar no contêiner. Eles tiveram de deitar no chão, perto de um pequena fresta, pela qual um pouco de ar ainda circulava. Quando o caminhão foi inspecionado pelas autoridades portuárias em Dover, e os corpos, encontrados, eles foram retirados inconscientes.



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