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São Paulo, domingo, 06 de abril de 2003

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Guerra já é recordista em uso de armas "inteligentes"

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

O total de armas "inteligentes" usadas contra o Iraque já supera o que foi usado nos conflitos de Kosovo em 1999, do Afeganistão de 2001 a 2002 e, nesse ritmo, poderá em uma semana ultrapassar mesmo o total usado na Guerra do Golfo de 1991 (veja números no quadro ao lado).
"Inteligente" significa alguma forma de guiagem que torna a arma mais precisa. Pode ser um feixe de laser que o míssil segue no caminho ao alvo, pode ser um receptor de sinal de satélite que identifica latitude e longitude.
A doutrina do "Choque e Pavor" pode não ter causado a rendição imediata dos iraquianos, mas sem dúvida foi responsável por alguns dos ataques aéreos mais concentrados da história.
Em alguns itens a guerra atual já é recordista.
Durante os 43 dias da Guerra do Golfo foram lançados 296 mísseis Tomahawk -dos quais 122 no primeiro dia-, cada um custando em torno de US$ 1 milhão. Também contra o Iraque, na operação Raposa do Deserto, em 1998, foram lançados mais 330 Tomahawks. No ano seguinte, os sérvios receberam 218 mísseis.
Mas somente nos primeiros 17 dias do atual conflito já foram lançados 750 mísseis Tomahawk.
O Tomahawk (o nome é o de um machado de guerra indígena) é usado contra os alvos mais difíceis, contra os quais seria arriscado empregar um avião.
A principal novidade do castigo aéreo que sofre o Iraque é o uso quase exclusivo dessas "PGM", sigla em inglês para "munições de guiagem precisa".
Na Guerra do Golfo de 1991 a esmagadora quantidade das bombas eram "burras", sem nenhuma guiagem. Dependiam totalmente da pontaria do piloto. Apenas 7% a 8% das bombas tinham alguma forma de guiagem, pois esse mecanismo aumentava muito o seu preço.
Com a invenção de "kits" relativamente baratos de guiagem que podem ser adaptados às bombas comuns ficou bem mais prático usar somente armas "inteligentes".
Como cada avião leva várias bombas desse tipo ele pode atingir vários alvos em uma mesma saída, o que ajuda a explicar por que agora o número delas é menor do que em 1991. São necessários menos aviões para acertar um determinado alvo.
Curiosamente, nesses quatro conflitos o avião que mais bombas lançou é um veterano de meio século, o bombardeiro B-52. Na guerra de 91 eles eram 4% das aeronaves enviadas, mas lançaram 32% do total de bombas em toneladas.
Trata-se do maior avião de combate existente, com um peso máximo na decolagem de 210 toneladas e capaz de transportar 18 bombas guiadas de 900 kg.
No período de 7 de outubro a 23 de dezembro de 2001 os bombardeiros B-52 e B-1 lançaram 11,5 mil bombas contra alvos no Afeganistão, das 17,5 mil lançadas, ou 65% do total.
Esses números mostram a evolução da doutrina americana de bombardeio estratégico. A precisão permite economizar na tonelagem das bombas.
Mesmo no seu auge, na guerra de 91 os EUA lançavam por dia o correspondente a 85% da tonelagem de bombas empregadas diariamente no bombardeiro do Japão e da Alemanha na Segunda Guerra. Em 1968, no auge da Guerra do Vietnã, os EUA lançavam mais bombas por mês do que em todos os 43 dias da Guerra do Golfo.
As mudanças tecnológicas também afetaram o número de aeronaves perdidas em combate. Se em 43 dias de combate em 1991 os EUA perderam 38 aeronaves, no conflito de Kosovo foram apenas duas perdas em combate, e nenhuma no Afeganistão.
No atual conflito um caça-bombardeiro F/A-18 Hornet da Marinha foi derrubado, provavelmente por "fogo amigo" de uma bateria de mísseis antiaéreos Patriot. Pelo menos um helicóptero Apache foi derrubado por fogo de armas portáteis como fuzis e lança-granadas, demonstrando mais uma vez a vulnerabilidade desse tipo de aeronave quando se aproxima demais do inimigo.
A aviação é um dos principais trunfos dos planejadores militares americanos, a principal jóia do arsenal dos EUA. Mas, como todo camafeu, custa caro. Um Apache vale em torno de US$ 25 milhões. Um bombardeiro B-2 custa mais de meio bilhão de dólares cada.
Mas, no final das contas, quem tomará Bagdá serão as tropas terrestres. As tropas iraquianas em torno da capital são como placas dentárias: removê-las leva tempo, mas não causaria dano aos dentes.
Se essas tropas penetram na cidade tornam-se como cáries, cuja remoção envolve perfurar o dente com uma broca -e no pior dos casos, fazer um longo tratamento de canal ou mesmo arrancá-lo.




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