São Paulo, terça-feira, 06 de abril de 2004

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QUEM É

Jovem clérigo usa discurso radical e milícia armada

DA REUTERS

Moqtada al Sadr, jovem herdeiro de uma dinastia religiosa importante no Iraque, não fala em nome de todos os muçulmanos xiitas do país, mas seu discurso inflamado, que agrada aos mais pobres, e sua milícia armada podem vir a causar muita dor-de-cabeça às forças de ocupação dos EUA.
Ao qualificá-lo como um "fora-da-lei" e ameaçar prendê-lo, a administração americana parece agir com o apoio de outros líderes xiitas, que, embora critiquem a ocupação publicamente, têm adotado uma atitude mais moderada à espera da transferência de soberania e de futuras eleições.
"Nós temos um só objetivo: remover as forças ocupantes do país", disse Al Sadr em entrevista no ano passado em Najaf, cidade sagrada xiita no sul do país.
Al Sadr, que tem cerca de 30 anos, herdou a autoridade de seu pai, o aiatolá Mohammed Sadeq al Sadr, assassinado durante a ditadura de Saddam Hussein.
Desde a queda do ex-ditador iraquiano, há um ano, ele adotou, com uma violenta retórica contra o Conselho de Governo Iraquiano escolhido pelos EUA, uma posição bem mais radical do que a de outros importantes líderes xiitas. E criou a milícia Exército Mehdi, que pode ter milhares de integrantes.
Há denúncias de que seus seguidores ameaçam comerciantes que vendem bebida alcoólica ou mulheres cujo comportamento consideram inadequado.
A principal liderança da maioria xiita iraquiana, o aiatolá Ali al Sistani, também tem mantido distância da administração americana, mas aconselhou seus seguidores a evitar a violência.
A colaboração dos xiitas é crucial para os planos americanos de transferir a soberania do país em 30 de junho a um governo de transição que conduza o país até a realização de eleições.
Al Sadr não tem a autoridade religiosa de Al Sistani, mas chama a atenção de parte da população xiita devido a seus discursos inflamados.
Ele nega envolvimento na morte, em Najaf, de Abdul Majid al Khoei, filho de um outro importante aiatolá, em abril de 2003. Al Khoei, que tinha boas ligações com os EUA e o Reino Unido, foi morto numa das mesquitas mais sagradas para os xiitas logo após voltar do exílio.
No último sábado, as autoridades dos EUA prenderam um dos principais assessores de Al Sadr em conexão com o assassinato de Al Khoei.
A prisão do assessor e o fechamento, na semana passada, de um jornal criado por Al Sadr, por meio do qual ele realizava seus ataques verbais aos EUA, detonaram o levante contra as tropas de ocupação anteontem.
Ao anunciarem ontem que também possuem uma ordem de prisão contra Al Sadr, os EUA buscam isolá-lo e evitar que seu discurso radical ganhe adeptos.
Mas é cada vez mais comum identificar a foto do jovem líder radical em protestos públicos de xiitas contra a ocupação americana, ao lado de imagens de líderes mais velhos ou já mortos.


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