São Paulo, terça-feira, 06 de abril de 2004

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Datas da transição não mudam, afirma Bush

RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK

O presidente dos EUA, George W. Bush, disse ontem que pretende manter o cronograma e dar soberania ao Iraque até 30 de junho.
A transmissão de poder foi questionada no último fim de semana por senadores dos partidos Republicano (situação) e Democrata (oposição). Richard Lugar, presidente republicano do Comitê de Relações Exteriores do Senado, disse que o problema de segurança no Iraque poderia tornar o prazo previsto "não-realista".
Nos últimos dias, dois eventos fomentaram reações como a de Lugar. Primeiro, o assassinato brutal de quatro civis americanos em Fallujah. Anteontem, um levante xiita em sete cidades do Iraque, liderado pelo clérigo radical Moqtada al Sadr, provocou a morte de pelo menos 33 pessoas, incluindo militares dos EUA.
O episódio de Fallujah e os problemas enfrentados pelos EUA no Iraque reduziram o apoio dos americanos ao modo como Bush está administrando o pós-guerra.
Segundo uma pesquisa do Pew Research Center, feita entre 1º e 4 de abril, 40% aprovam a condução do presidente -19 pontos percentuais abaixo do registrado em meados de janeiro. Apenas 32% acham que Bush tem um plano claro para a situação, e 57% não crêem nisso.
Lugar afirmou ainda que não há clareza sobre como a transmissão de poder se dará. "Minha intenção é garantir que o prazo determinado permaneça o mesmo", disse Bush. "Sobre esse incidente em particular, Al Sadr é uma pessoa que decidiu que, em vez de deixar a democracia se desenvolver, vai praticar atos de força, e simplesmente não podemos deixar que isso aconteça", afirmou.
"Um Iraque livre tornará o mundo mais pacífico. Um Iraque livre tornará a América mais segura", afirmou Bush.

Guerra civil
Para Rachel Bronson, diretora de estudos sobre o Oriente Médio do Council of Foreign Relations -um dos principais centros americanos de pensamento estratégico e diplomático-, no entanto, não se trata apenas do ato isolado de um homem e de seus seguidores.
Ela diz que há risco de guerra civil no Iraque após a transferência de soberania no final de junho, com confrontos entre os diferentes grupos políticos e religiosos. Mais ainda, "haveria chances de guerra civil mesmo se os EUA permanecessem lá", afirmou.
Bronson se diz favorável à entrega do poder aos iraquianos na data marcada, "porque três ou quatro meses a mais não farão diferença". O processo de construção de instituições políticas no país, ela afirma, durará bem mais que isso.
No início da ocupação, Bronson defendia uma ocupação associada à ONU de pelo menos dois anos. Dado que o acertado foi a transferência de poder em junho, o melhor que há a fazer agora, defende a especialista, até pensando na credibilidade das instituições democráticas, é cumprir o prometido.


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