São Paulo, segunda-feira, 06 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BOLÍVIA

Ex-ditador e ex-presidente havia renunciado em 2001, devido à doença

Hugo Banzer, 75, morre de câncer

DO "EL PAÍS'

O ex-ditador e ex-presidente da Bolívia Hugo Banzer morreu na madrugada de ontem aos 75 anos de idade, devido a um câncer no cérebro, em sua casa em Santa Cruz, leste do país. O governo decretou luto nacional de 30 dias e a suspensão de atividades no dia de seu enterro, previsto para hoje.
Banzer nasceu em Concepción, no Departamento de Santa Cruz, em 10 de maio de 1926. Governou como ditador de 1971 a 1978 e, como democrata, retornou à Presidência em 1997. Por causa do câncer, renunciou em agosto de 2001, um ano antes do fim do mandato.
Os esforços para apagar seu passado ditatorial não frearam a ação da Justiça, encabeçada pelo juiz federal argentino Rodolfo Canicoba, que em dezembro de 2001 emitiu uma ordem de prisão contra ele, declarada improcedente pela Suprema Corte da Bolívia. Banzer foi acusado por Canicoba de ter participado da Operação Condor, a vasta operação de repressão organizada nos anos 70 pelas ditaduras do Cone Sul.
A carreira de Banzer começou no Colégio Militar de La Paz e culminou durante o tempo em que viveu na Argentina. Seus vínculos políticos nasceram na Escola das Américas (Panamá) e foram reforçados em Washington, na embaixada boliviana. Foi ministro da Educação no governo de René Barrientos (1964-1968).
Durante o regime de Alfredo Ovando (1969) foi comandante do Colégio Militar de La Paz, cargo que abandonou após o golpe do general Juan José Torres, em 1971. Asilado na Argentina, voltou em agosto para destituir Torres.
Durante seu governo reprimiu duramente os militantes de esquerda, incluindo integrantes do Movimento da Esquerda Revolucionária (MIR), os mesmos com quem faria alianças 20 anos depois. O mandato durou sete anos, até ser obrigado a decretar anistia e a convocar eleições. A Associação de Familiares de Desaparecidos da Bolívia culpa Banzer pela morte de 73 dirigentes e pelo desaparecimento de outros 66.
Na política internacional, um dos capítulos centrais foi o "abraço de Charaña", com o ditador chileno Augusto Pinochet, com quem debateu mas nunca acordou uma saída para o Pacífico.
Fundou a Ação Democrática Nacionalista (ADN) em 1979 e se candidatou várias vezes à Presidência, até ser eleito em 1997.
Em seu governo erradicou 40 mil hectares de plantações de coca, embora o êxodo do dinheiro do narcotráfico tenha afetado consideravelmente a economia, assim como a recessão causada pela crise asiática. O perdão de US$ 1,5 bilhão de dívida externa tampouco foi suficiente para aliviar a pobreza do país.

Brasília
Em nota divulgada pelo Palácio do Planalto, o presidente Fernando Henrique Cardoso reafirmou "o apreço que sempre teve pela contribuição prestada pelo ex-mandatário ao fortalecimento das relações de amizade e cooperação entre o Brasil e a Bolívia" e ressaltou que trabalhou intensamente com Hugo Banzer pela integração energética entre os dois países.


Colaborou a Sucursal de Brasília


Texto Anterior: Justiça: EUA anunciam saída de tribunal internacional
Próximo Texto: Panorâmica: Dissidente é solto antes de visita de Carter
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.