São Paulo, quinta-feira, 06 de maio de 2004

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DESAFIO

Aiatolá pede suspensão da exibição de "O Lagarto" , que ironiza clérigos

Filme anticlero faz sucesso no Irã

PARISA HAFEZI e PAUL HUGHES
DA "REUTERS", EM TEERÃ

Após passar com dificuldade pela censura iraniana, uma comédia premiada que zomba do clero conservador que lidera a República Islâmica do Irã está quebrando recordes de bilheteria no país.
Tanto que, ontem, o aiatolá Ahmad Jannati, chefe do conservador Conselho dos Guardiões, pediu seu banimento. "Filmes assim promovem corrupção social," disse Jannati, que admitiu não ter visto o filme.
"O Lagarto" narra as aventuras de um ladrão que foge da prisão disfarçado nas vestes e no turbante de um clérigo muçulmano. Os cinemas que exibem o filme têm esgotado seus ingressos com dias de antecedência.
Para fazer frente à grande demanda, passaram a oferecer sessões extras no final da noite. "É um fenômeno inusitado na história do cinema iraniano", disse Nasser Shabani, gerente da distribuidora Fardis-e Barin.
O lançamento do filme foi adiado em mais de um mês, enquanto os censores discutiam se deveria ou não ser proibido -destino reservado a muitos filmes nacionais e à maioria dos ocidentais, vistos como provocantes ou corruptores demais para o público iraniano. Mas "O Lagarto", que em fevereiro recebeu o prêmio do público em um festival internacional de Teerã, foi autorizado para exibição depois do corte de quatro cenas que totalizavam 1 minuto.
No filme, o ladrão Reza Marmoulak (Reza, o Lagarto) foge da enfermaria de uma prisão disfarçado de clérigo e passa a viver como tal. Adota um estilo irreverente como pregador, fazendo piadas. Com isso, leva às gargalhadas os iranianos, não acostumados a ver o clero ser alvo de brincadeiras. "Gostei do filme porque ele fala de coisas que nós, pessoas comuns, nem sequer ousamos pensar", disse Sanaz, 25 anos.
A linguagem direta usada pelo preso foragido faz sucesso enorme com os fiéis e os atrai de volta às mesquitas. Nesse processo, ele passa por uma espécie de transformação moral, dá as costas à vida criminosa e descobre Deus.
O diretor Kamal Tabrizi atribui o sucesso ao fato de ser a primeira comédia no Irã a tratar do clero. E vê uma mensagem mais profunda que deveria ser ouvida pelos clérigos. "O filme traz à tona, de algum modo, a distância que separa o clero do povo."


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