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DESAFIO
Aiatolá pede suspensão da exibição de "O Lagarto" , que ironiza clérigos
Filme anticlero faz sucesso no Irã
PARISA HAFEZI e PAUL HUGHES
DA "REUTERS", EM TEERÃ
Após passar com dificuldade
pela censura iraniana, uma comédia premiada que zomba do clero
conservador que lidera a República Islâmica do Irã está quebrando
recordes de bilheteria no país.
Tanto que, ontem, o aiatolá Ahmad Jannati, chefe do conservador Conselho dos Guardiões, pediu seu banimento. "Filmes assim
promovem corrupção social,"
disse Jannati, que admitiu não ter
visto o filme.
"O Lagarto" narra as aventuras
de um ladrão que foge da prisão
disfarçado nas vestes e no turbante de um clérigo muçulmano. Os
cinemas que exibem o filme têm
esgotado seus ingressos com dias
de antecedência.
Para fazer frente à grande demanda, passaram a oferecer sessões extras no final da noite. "É
um fenômeno inusitado na história do cinema iraniano", disse
Nasser Shabani, gerente da distribuidora Fardis-e Barin.
O lançamento do filme foi adiado em mais de um mês, enquanto
os censores discutiam se deveria
ou não ser proibido -destino reservado a muitos filmes nacionais
e à maioria dos ocidentais, vistos
como provocantes ou corruptores demais para o público iraniano. Mas "O Lagarto", que em fevereiro recebeu o prêmio do público em um festival internacional
de Teerã, foi autorizado para exibição depois do corte de quatro
cenas que totalizavam 1 minuto.
No filme, o ladrão Reza Marmoulak (Reza, o Lagarto) foge da
enfermaria de uma prisão disfarçado de clérigo e passa a viver como tal. Adota um estilo irreverente como pregador, fazendo piadas. Com isso, leva às gargalhadas
os iranianos, não acostumados a
ver o clero ser alvo de brincadeiras. "Gostei do filme porque ele
fala de coisas que nós, pessoas comuns, nem sequer ousamos pensar", disse Sanaz, 25 anos.
A linguagem direta usada pelo
preso foragido faz sucesso enorme com os fiéis e os atrai de volta
às mesquitas. Nesse processo, ele
passa por uma espécie de transformação moral, dá as costas à vida criminosa e descobre Deus.
O diretor Kamal Tabrizi atribui
o sucesso ao fato de ser a primeira
comédia no Irã a tratar do clero. E
vê uma mensagem mais profunda
que deveria ser ouvida pelos clérigos. "O filme traz à tona, de algum
modo, a distância que separa o
clero do povo."
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