São Paulo, quinta-feira, 06 de maio de 2004

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TIROS EM HOLLYWOOD

Agente do diretor diz que motivo são interesses da empresa em Estado governado por irmão de Bush

Disney veta novo filme de Michael Moore

DA REDAÇÃO

A Walt Disney Company decidiu proibir a produtora Miramax, sua subsidiária, de distribuir o novo documentário de Michael Moore nos Estados Unidos. O filme, "Fahrenheit 9/11", faz severas críticas ao presidente George W. Bush.
"Eu esperava que a essa altura seria capaz de exibir meu trabalho ao público sem ter de passar pelos profundos obstáculos de censura que freqüentemente encontro", afirmou ontem em seu site Moore, vencedor do Oscar de melhor documentário de 2002 com "Tiros em Columbine".
De acordo com Ari Emanuel, agente do cineasta, a decisão foi tomada porque a Disney teme perder a concessão de incentivos fiscais na Flórida, Estado governado por Jeb Bush, irmão do presidente.
Emanuel disse que o presidente da Disney, Michael Eisner, manifestou preocupação de que a empresa viesse a perder vantagens para seus negócios no Estado (parques temáticos e hotéis, entre outros).
"Michael Eisner pediu-me que não vendesse o filme a Harvey Weinstein [um dos fundadores da Miramax, simpatizante do Partido Democrata]. Isso não quer dizer que eu tenha dado ouvidos a ele. Ele deu indicações seguras de que havia incentivos fiscais sendo dados à Disney e é por isso que ele não queria que eu vendesse à Miramax. Ele não queria uma empresa da Disney envolvida", afirmou Emanuel.
A direção da Disney nega essa acusação, mas admite ter se posicionado contra o negócio.
Moore diz que seu novo filme, uma das atrações do Festival de Cannes, que começa na semana que vem, expõe as conexões financeiras entre o clã Bush e famílias importantes da Arábia Saudita -entre elas a de Osama bin Laden, líder da rede terrorista Al Qaeda, responsável pelos ataques do 11 de Setembro. Também apresenta depoimentos de soldados americanos desiludidos com a Guerra do Iraque.
Um alto executivo da Disney afirmou que a empresa considera o filme contrário a seus interesses não em razão de seus negócios com o governo, mas porque tem como público-alvo famílias de todas as convicções políticas e que o documentário poderia desagradar a muitas delas. "Não interessa a nenhuma grande corporação ser arrastada para um debate político partidário de alta voltagem", declarou o executivo.
A Disney, que comprou a Miramax há mais de uma década, tem um acordo com a produtora pelo qual pode proibir a distribuição de filmes em algumas circunstâncias -se a produção tiver um orçamento caríssimo ou se for proibida para menores.
Executivos da Miramax não acreditam que o filme de Moore se encaixe nessas categorias. Pessoas envolvidas na produção afirmam que, se não houver um acordo, o caso poderá ir para a Justiça.
"Estamos discutindo o assunto com a Disney. Estamos examinando todas as nossas opções e desejamos resolver isso de forma amigável", disse Matthew Hiltzik, porta-voz da Miramax.
A Disney, no entanto, não parece disposta a voltar atrás em sua decisão. "Avisamos tanto o agente quanto a Miramax em maio de 2003 que o filme não seria distribuído pela Miramax. Essa decisão continua de pé", afirmou Zenia Mucha, porta-voz da Disney.
Na época, quando se anunciou que a Icon Productions, do ator Mel Gibson, estava desistindo do projeto e sendo substituída pela Miramax, a Disney foi alvo de muitas críticas de conservadores.
A decisão da Disney não impede a Miramax de fazer um acordo com outra distribuidora para exibir o filme nos EUA. Porém isso resultará na divisão dos lucros.
Na semana passada, já houve outra polêmica envolvendo organizações da mídia e o Iraque. O Sinclair Broadcast Group impediu que suas emissoras retransmitissem o programa "Nightline", da rede ABC (pertencente à Disney), que exibiu fotos dos soldados mortos no Iraque, sob o argumento de que se tratava de panfletagem partidária disfarçada de jornalismo.


Com "The New York Times" e agências internacionais


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