São Paulo, quarta-feira, 06 de junho de 2001
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Cineasta aponta "vácuo" na esquerda britânica
DE LONDRES
Folha - Por que o sr. decidiu dirigir a propaganda de TV da Aliança
Socialista?
Ken Loach - Sempre apoiei os socialistas e creio que esse apoio seja
importante para articular uma
oposição de esquerda ao governo
Blair. Hoje, a política britânica
tem dois grandes partidos que governam para os empresários e para as grandes multinacionais. Há
um vácuo na esquerda britânica. Folha - Mas os trabalhistas sempre estiveram mais vinculados à esquerda do que os conservadores.
Loach - O Partido Trabalhista teve,
no passado, um perfil mais progressista. É inegável que, após a
Segunda Guerra Mundial, eles
montaram uma eficiente rede de
serviços sociais, que hoje se deteriora. Mas agora, com Blair, o partido assumiu uma posição de direita. Tudo o que o atual governo
faz está vinculado aos interesses
do setor privado. Trabalhistas e
conservadores têm hoje o mesmo
perfil, são muito semelhantes. Folha - Em sua opinião, quais as
chances reais da Aliança Socialista
nesta eleição?
Loach - Não acredito que venhamos a ganhar cadeiras no Parlamento, porque sei de muitas pessoas simpatizantes às nossas
idéias que votarão nos trabalhistas por medo dos conservadores.
O objetivo dos socialistas é mostrar que não faz muita diferença
votar em Blair ou em Hague. Mas
acho que, se o partido tiver uma
votação razoável, com cerca de
100 mil votos, teremos uma base
para trabalhar. Será o nosso primeiro passo. Folha - Qual a sua avaliação de
Tony Blair e de William Hague?
Loach - Acho que hoje todos vemos os políticos com reservas.
Eles só sabem reproduzir eufemismos, não há sinceridade nem
simplicidade no que falam. E o
eleitorado não aguenta mais esse
discurso. Por isso, há um desânimo tão grande na eleição britânica, uma sensação de apatia. Folha - Essa é a única razão para
essa apatia?
Loach - Com certeza não. Com o
mundo sendo controlado pelos
interesses de multinacionais, as
pessoas se sentem impotentes,
sem capacidade para interagir.
Aqui no Reino Unido, a situação é
um pouco pior, porque nenhum
partido grande representa uma
alternativa a essa estrutura. Isso
só fortalece essa apatia. Folha - E o que pode ser feito para
combater essa apatia?
Loach - Creio que a única forma
seja tentar reestruturar uma força
política que represente os empregados, não os empregadores. Os
socialistas têm uma proposta nessa linha. As ONGs que têm realizado protestos contra o capitalismo e suas consequências também
começam a exercer um papel importante como representantes de
uma oposição real. Mas essa oposição tem de ser mundial, não pode ficar restrita ao Reino Unido. Folha - O sr. tem planos de fazer
algum filme sobre o processo eleitoral britânico?
Loach - Não. Seria muito chato. |
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