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CONFISSÃO
Admissão de Lionel Jospin, que mentiu para a mídia sobre o assunto, pode prejudicar sua candidatura em 2002
Premiê francês admite ter sido trotskista
DO THE INDEPENDENT, EM PARIS
O primeiro-ministro francês, o
socialista Lionel Jospin, 63, admitiu ontem pela primeira vez diante da Assembléia Nacional ter sido militante trotskista (esquerda
radical) durante os anos 60, contrariando suas afirmações anteriores, nas quais negava ter participado desse movimento.
A confissão do premiê socialista, a menos de um ano da eleição
presidencial na França, pode prejudicá-lo não só pelo fato de ele
ter se envolvido com o radicalismo de esquerda mas por ter mentido publicamente.
As revelações foram feitas pela
revista "Le Nouvel Observateur" e
pelo jornal "Le Monde" (ambos
de centro-esquerda). O jornal publicou ontem um dossiê apresentando evidências de que o premiê
francês pertenceu aos quadros de
uma seção do movimento trotskista -que pregava a idéia do revolucionário russo Leon Trótski
(1879-1940) de revolução permanente. A participação de Jospin
no "grupo lambertista", fundado
por Pierre Lambert, 81, teria ido
do começo dos anos 60 a meados
da década de 70, ou até 1987. Jospin teria até um pseudônimo: "camarada Michel".
Interrogado pelo "Le Monde"
em abril de 1995, antes da eleição
presidencial disputada com o
atual presidente, Jacques Chirac,
Jospin declarou ao jornal "nunca
ter sido trotskista".
O premiê dizia que os rumores
haviam surgido a partir de uma
"confusão com o irmão (de Jospin) Olivier", declaradamente militante trotskista até os anos 80.
Dois anos mais tarde, Jospin voltou a negar ao jornal ter se relacionado com a esquerda radical.
Segundo o "Le Monde", vários
trotskistas da época -entre eles
pesquisadores, jornalistas, professores e acadêmicos- confirmaram, com a condição de permanecerem anônimos, que Jospin fazia parte da célula.
Testemunha de "credibilidade
inegável" citada pelo "Le Monde",
o ex-líder do movimento lambertista na década de 60, o alemão
Boris Fraenkel, 80, disse ao jornal
ter "treinado" pessoalmente Jospin. "Eu era o seu guia."
Em entrevista para um documentário produzido por historiadores no ano passado, Fraenkel
confirmou ter se relacionado com
Jospin dentro da Organização Comunista Internacionalista (OCI),
hoje o Partido Comunista Internacionalista, entre 1958 e 1966.
Fraenkel também disse ter sugerido a Lambert que fosse concedido um status especial a Jospin
dentro do grupo. Como aluno da
Escola Nacional de Administração (ENA), estabelecimento de
ensino de prestígio na França, de
onde sai a elite da burocracia do
Estado, era evidente que Jospin
ocuparia cargos importantes dentro do governo. "Tendo alguém
da ENA pela primeira vez, nós
realmente tínhamos de nos comportar com seriedade", disse.
Nos anos 70, a militância de Jospin passou a ser mais discreta. Em
1971, ele teria ingressado no Partido Socialista para ser um "espião"
da OCI. Segundo o "Le Monde",
Jospin foi apenas um das dezenas
de trotskistas lambertistas que entraram no partido socialista nessa
década. O objetivo era "prepará-los" para ocupar postos de chefia,
forjar relacionamentos e montar
redes a fim de preparar o "grande
dia" da revolução.
Jospin começou a se afastar do
movimento e dos "camaradas extremistas" nos anos 80, quando,
em 1981, tornou-se secretário-geral do Partido Socialista. Mas, segundo o jornal, o rompimento
definitivo só aconteceu seis anos
mais tarde, em 1987.
Itinerário pessoal
Ao ser questionado ontem pelo
deputado de direita François
Goulard , Jospin disse: "É verdade
que durante os anos 60 eu mostrei
interesse pelas idéias trotskistas e
que tive relações com uma das
formações desse movimento".
O premiê, porém, defendeu-se
dizendo que "era parte de um itinerário pessoal, intelectual e político", do qual não tinha por que se
"envergonhar".
Ainda não estão claros os motivos pelos quais Jospin, que tem
uma reputação de honestidade e
franqueza, mentiu. Na França, a
ligação de um político com movimentos de esquerda não é considerada prejudicial.
O atual presidente francês, Jacques Chirac, do partido de direita
Reunião pela República (RPR) e
principal adversário de Jospin na
eleição presidencial do ano que
vem, foi revolucionário de esquerda durante um breve período
de sua juventude .
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