São Paulo, quinta-feira, 06 de junho de 2002

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ORIENTE MÉDIO

Carro-bomba mata 17 israelenses; em resposta, Exército toma parte do complexo presidencial palestino

Israel invade QG de Arafat após atentado

Reuters
Funcionário do serviço de resgate israelense observa o que restou do carro-bomba usado no atentado suicida, perto de Meguido


DA REDAÇÃO

Tropas israelenses atacaram e reocuparam parcialmente o quartel-general do líder palestino Iasser Arafat, em Ramallah, no início da madrugada de hoje. A operação veio em resposta a um atentado palestino.
Um suicida detonou ontem um carro-bomba, lançando-o de encontro a um ônibus lotado que deixara Tel Aviv rumo a Tiberíades, norte de Israel. Pelo menos 17 passageiros, além do terrorista, morreram no ataque, de autoria reivindicada pelo Jihad Islâmico.
Ao menos 13 dos mortos eram soldados. Cerca de 40 pessoas ficaram feridas, dez gravemente.
Horas mais tarde, cerca de 50 veículos militares -entre eles seis buldôzeres- foram vistos invadindo Ramallah. Segundo a rede CNN, dispararam contra edifícios do QG de Arafat -mesmo local onde ele ficou sitiado por 34 dias entre março e maio.
Um membro de sua guarda pessoal morreu, disse o Crescente Vermelho palestino. Pelo menos outras seis pessoas teriam ficado feridas após disparos de tanques e metralhadoras durante a invasão do complexo. O terceiro andar de um dos edifícios foi destruído.
O porta-voz da Chancelaria israelense Gideon Meir disse à CNN: "Arafat não é o alvo". "Essa resposta é o mínimo que os israelenses podem fazer em autodefesa, após esse enorme e cruel ataque a civis", completou. Tropas entraram também em Jenin, de onde teria saído o terrorista.
Saeb Erekat, conselheiro de Arafat, disse que o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP) estava "em segurança" -ele permanecia no QG durante o ataque. O líder palestino pediu intervenção da União Européia, EUA e ONU para frear Israel.
O governo de Ariel Sharon já debateu a possibilidade de exilar Arafat à força. Logo após o atentado, ele reuniu o gabinete de segurança e adiou para sábado viagem que faria amanhã aos EUA.
O atentado reforça as suspeitas de que os extremistas palestinos estejam buscando novas estratégias terroristas capazes de matar maior número de pessoas.
Nas últimas semanas, forças de segurança de Israel disseram que impediram um grande ataque com caminhão-bomba contra o segundo maior edifício do país, e uma ação com explosivos que poderia ter destruído um dos principais reservatórios de combustíveis, perto de Tel Aviv.
O atentado de ontem foi o mais letal desde o final, no início de maio, da operação Muro Protetor -lançada para destruir a "infra-estrutura do terror" na Cisjordânia. A comunidade internacional condenou o ataque. Europeus e americanos se empenhavam em promover conferência de paz.
A sua tarefa é dificultada cada vez que os extremistas palestinos atacam e o Exército israelense retalia, num círculo vicioso de violência que já dura 19 meses.
Segundo alguns analistas, a crescente impaciência do governo americano (leia texto ao lado) com a inatividade da liderança palestina poderia estimular Sharon -ciente de uma provável complacência de Washington- a lançar nova grande ofensiva.
A ANP também condenou a ação do Jihad Islâmico e rejeitou as acusações israelenses, que apontaram Arafat como responsável pelo terrorismo. O líder palestino dera ordens a suas forças de segurança para capturarem os responsáveis pelo ataque, numa aparente tentativa de evitar retaliações mais pesadas.
Israel diz que só volta a negociar após o fim do terrorismo e exige reformas institucionais e nos serviços de segurança da ANP.
O diretor da CIA (agência de inteligência dos EUA), George Tenet, encontrou Arafat anteontem para debater mudanças necessárias para tornar o aparato de segurança da ANP efetivo no combate ao terror. Ao menos 1.380 palestinos e 502 israelenses já morreram desde setembro de 2000.

Com agências internacionais

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