São Paulo, quinta-feira, 06 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GUERRA SEM LIMITES

Medidas devem atingir até 100 mil pessoas majoritariamente originárias de países do Oriente Médio

EUA tirarão impressão digital de visitantes

DA REDAÇÃO

O secretário da Justiça dos EUA, John Ashcroft, disse ontem que até 100 mil estrangeiros por ano que chegam ao país serão fotografados, terão suas impressões digitais tiradas e seus nomes registrados, num esforço de prevenção do terrorismo cujo alvo preferencial serão homens originários do Oriente Médio. A medida despertou a indignação de grupos árabes e de imigrantes.
Ashcroft disse que o governo resolveu invocar uma lei pouco usada do início dos anos 1950 e aplicá-la aos países identificados como "portadores do mais alto grau de risco de terrorismo".
"Estou anunciando hoje o Sistema Nacional de Registro de Segurança de Entradas e Saídas", disse Ashcroft. "Ele vai ampliar de maneira substancial a vigilância sobre os visitantes estrangeiros que possivelmente representem um motivo de preocupação para nossa segurança nacional. Além disso, vai fornecer uma linha de defesa vital na guerra ao terrorismo."
A mudança foi provocada pela preocupação suscitada pela ausência de registros relativos a turistas, estudantes e outros visitantes estrangeiros que chegaram aos EUA desde os ataques de 11 de setembro. Os 19 sequestradores dos aviões usados nos ataques entraram no país com vistos de entrada válidos, mas vários permaneceram após a data-limite estipulada.
Frank Sharry, diretor-executivo do Fórum Nacional de Imigração, disse que o plano "cheira como o tipo de tática" usada por regimes totalitários como o Iraque. "Centenas de milhares de homens vão ter que se registrar junto às autoridades. Acho isso lamentável. Vai desagradar a muita gente", disse.
James Zogby, presidente do Instituto Árabe-Americano, disse que a mudança vai onerar ainda mais um processo já complicado e não vai aumentar a segurança. Ele disse que o plano foi adotado apesar das ressalvas do Departamento de Estado e do Serviço de Imigração e Naturalização e o qualificou como iniciativa política adotada para transmitir a mensagem de que a administração está "fazendo alguma coisa" para combater o terrorismo.
A União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) criticou as medidas mais recentes anunciadas por Ashcroft, dizendo que são discriminatórias e provavelmente ineficazes. "A administração Bush está pouco a pouco isolando as comunidades muçulmana e árabe", disse Timothy Edgar, da ACLU. "Essa última iniciativa deve ser vista dentro do contexto maior de todas as ações voltadas contra pessoas originárias do Oriente Médio desde setembro."
Autoridades reconheceram que haveria acusações de que o plano equivaleria a traçar perfis discriminatórios, já que visa principalmente pessoas do Oriente Médio, mas disseram que a medida tornou-se necessária após os atentados de 11 de setembro.
O plano é o mais recente anunciado por Ashcroft a suscitar críticas de grupos de defesa das liberdades civis. Na semana passada, ele concedeu ao FBI amplos poderes para realizar espionagem doméstica em lugares como mesquitas, comícios políticos e internet.
Sob normas adotadas em 1998, apenas os visitantes de Iraque, Irã, Líbia e Sudão eram obrigados a passar por um processo que inclui o registro de seus nomes junto às autoridades federais, fotos e impressões digitais.
O novo plano pretende ampliar as medidas para abranger pessoas vindas dos países identificados como sendo os que representam o maior grau de risco de terrorismo contra os EUA. As autoridades se negaram a identificar os países, mas reconheceram que são, em sua maioria, do Oriente Médio.
A estimativa é que a mudança afetará cerca de 100 mil visitantes por ano. Nem todos os visitantes desses países terão que passar pelo processo, disseram as autoridades, precisando que o programa é voltado aos homens.
A mesma abordagem foi utilizada por Ashcroft, como parte do programa de contraterrorismo anunciado em março, para interrogar 3.000 estrangeiros que chegaram recentemente aos EUA, a maioria do Oriente Médio.
A lista inicial de pessoas que seriam interrogadas, em novembro, chegou a cerca de 5.000 homens de 18 a 33 anos que entraram nos EUA desde 2000 e que possuem passaportes de países nos quais a rede terrorista Al Qaeda, de Osama bin Laden, manteve ou mantém presença ativa.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Mídia: Jornalistas do "Washington Post" protestam
Próximo Texto: Arquiteto dos atentados pode ser kuaitiano
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.