São Paulo, quinta-feira, 06 de julho de 2000


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Cenário é de cautela e ceticismo

DEBORAH SONTAG
DO "NEW YORK TIMES", EM JERUSALÉM

Israelenses e palestinos reagiram com cautela à declaração feita na segunda-feira por dirigentes palestinos, na qual foi anunciada a criação de um Estado palestino em meados de setembro. Não se sabe se o gesto deve ser interpretado como uma promessa, uma ameaça, ou somente um novo prazo que poderá ser prorrogado.
Nas ruas de Ramallah, os palestinos tentavam controlar seu entusiasmo frente às manchetes que exaltavam: "Estado palestino no dia 13 de setembro!". Muitos afirmaram que estariam dispostos a derramar seu sangue para que o projeto se realizasse, mas, ao mesmo tempo, disseram que não dão grande crédito ao anúncio, uma vez que outras datas supostamente sagradas para o futuro Estado palestino passaram sem nenhuma realização gloriosa.
Mas existem alguns que afirmam que os líderes palestinos seriam irresponsáveis se declarassem um Estado de maneira unilateral, uma vez que a medida provocaria certamente uma severa resposta israelense, causando sofrimento aos palestinos.
"Isso traria mais controle nas fronteiras, outra vez a separação da Cisjordânia e da faixa de Gaza, dificuldades econômicas, mais assentamentos israelenses e nenhuma nova libertação de prisioneiros palestinos. Nossos líderes deveriam ser mais racionais", disse um comerciante de 26 anos.
Em Israel, até mesmo os dirigentes mais moderados, como o ministro da Justiça, Yossi Beilin, rechaçaram a idéia de que os palestinos possam abandonar os esforços de paz e proclamar um Estado independente. O ministro advertiu que um Estado palestino não teria significado sem o reconhecimento de Israel.
Na segunda-feira, o Conselho Nacional Palestino expressou inesperadamente seu compromisso de declarar um Estado palestino em 13 de setembro, sem considerar se um acordo de paz com os israelenses poderá ser firmado até a data. É muito pouco provável que o limite estabelecido seja respeitado.
Não se esperava que o conselho, integrado por membros da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), conferisse tamanha importância ao prazo.
Pensava-se que a entidade apoiaria a idéia de estabelecer um Estado palestino no final do ano, com o objetivo de diminuir os temores sobre a possibilidade de um grande aumento da violência no país, caso a paz não seja alcançada até setembro.
Em lugar disso, os membros do conselho palestino tomaram uma decisão arriscada, que impõe um prazo reduzido para o dirigente palestino, Iasser Arafat, tomar decisões importantes e faz crescer as esperanças dos árabes.
A uma rádio israelense, Bassam Sayeh -um membro do Fatah, facção da OLP- disse que, ao mesmo tempo que os palestinos preferiram conquistar seu Estado por meio do diálogo, eles também estavam preparados para um conflito militar, caso isso se fizesse necessário.
Muitos homens entrevistados anteontem em Ramallah disseram estar prontos para uma luta armada. Um palestino idoso disse: "Esperamos mais de 50 anos . Ninguém pode mais aceitar o adiamento disso. Iniciamos a Intifada (revolta popular ocorrida entre 1987 e 1993) com pedras. Agora já estamos preparados para usarmos pedras e rifles".


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