São Paulo, quarta, 6 de agosto de 1997.



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ORIENTE MÉDIO
Grupos falam em ataques
Hizbollah e Hamas fazem nova ameaça

CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Jerusalém


A guerra verbal entre israelenses e palestinos (e árabes em geral) subiu muito de tom ontem, ao mesmo tempo em que dois diferentes grupos radicais islâmicos renovavam ameaças de praticar, imediatamente, atentados contra o Estado judeu.
Iasser Arafat qualificou de "medidas criminosas, para matar de fome o povo palestino", as providências adotadas por Israel desde o atentado ao mercado.
Do lado israelense, devolve o premiê Binyamin Netanyahu: "A partir do momento em que uma autoridade não mostra vontade de enfrentar o terrorismo, se torna parceira do terrorismo".
Arafat contra-atacou: disse, na Jordânia, que seus assessores informaram que até a inteligência israelense tem indícios de que os terroristas do mercado vieram de áreas fora do controle da ANP.
"Que culpa tem, então, o povo palestino?", perguntou o presidente da ANP.
Netanyahu respondeu também a essa observação. Admitiu que a procedência dos dois terroristas ainda é desconhecida, mas acrescentou: "É razoável supor que, fossem de onde fossem os terroristas, foram ajudados pela infra-estrutura dos residentes e organizações locais, o que é decisivo".
Para o premiê, "a infra-estrutura é montada, organiza (atentados) e age dentro das áreas da Autoridade Palestina". Insiste: "Paz e terror não podem coexistir".
Retórica de fogo
Até a Autoridade Monetária Palestina, uma espécie de incipiente Banco Central, entrou na batalha verbal, em comunicado no qual detalha todos os problemas causados aos negócios e ao cotidiano palestinos pelo bloqueio israelense.
A lista termina com a afirmação de que "as repressivas ações de Israel só têm servido para fortalecer o desejo dos palestinos de conseguir um Estado palestino com Jerusalém como eterna capital".
Em uma só frase uma entidade supostamente técnica toca em dois pontos cruciais, ainda pendentes entre Israel e palestinos: o destino de Jerusalém, reivindicada como capital por ambas as partes, e a formação de um Estado palestino, hipótese que Israel recusa.
Idêntica retórica inflamada saiu de dois diferentes grupos extremistas islâmicos, o Hizbollah (Partido de Deus) e o Hamas (Movimento de Resistência Islâmico).
Na cidade libanesa de Nabatieh, o enterro de quatro dos cinco militantes do Hizbollah mortos anteontem por comandos israelenses transformou-se num comício, com 8.000 pessoas e gritos de "morte a Israel".
Já o Hamas emitiu um segundo comunicado cobrando a libertação de seus presos e prometendo atacar já, inclusive com "homens-bomba". O prazo inicial para Israel libertar os presos do Hamas venceu às 21h de domingo (15h em Brasília).
Outro enterro que virou comício foi o de Issa Missif, palestino morto a tiros, domingo, supostamente por colonos judeus. "Não nos renderemos", "morte aos judeus", eram os gritos.
Foi um ambiente exatamente igual a esse que precedeu os atentados do primeiro trimestre de 96, nos quais morreram 57 pessoas, o que desmoralizou o governo trabalhista de Shimon Peres.
Netanyahu elegeu-se nessas condições, prometendo paz com segurança. Agora, não há nem uma coisa nem a outra, mas Netanyahu não abranda: mais 11 prisões foram feitas ontem, elevando para 156 o número total de detidos desde o atentado ao mercado Mahane Yehuda, há uma semana.
Seguem, igualmente, as demolições de casas de palestinos. Ontem, foram três, na região de Hebron. São construções ilegais, diz o governo israelense.



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