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ANÁLISE
As respostas de Putin à crise escurecem o cenário político
STEVEN LEE MYERS
DO "NEW YORK TIMES"
O presidente Vladimir Putin
quebrou seu silêncio de dois dias
sobre os acontecimentos na escola em Beslan, uma pequena cidade no sul da Rússia, quando voou
para lá, anteontem. Suas primeiras observações públicas -"Hoje
toda a Rússia sofre por vocês"-
feitas de forma breve, antes do
anoitecer, foram dirigidas para o
presidente da região e para os líderes das agências de segurança
locais, não para aqueles que sofriam mais que todos.
Suas observações e as ordens
que deu-fechar as fronteiras da
região, achar os terroristas envolvidos, organizar ajuda para as vítimas- tinham a intenção de
projetar novamente a imagem de
Putin, cuidadosamente cultivada,
como a de um líder de aço, decidido, à frente de um país em necessidade. Ele falou outra vez mais
tarde, do Kremlin, dirigindo-se,
como faz raramente, em cadeia
nacional à população, e admitiu,
numa afirmação ainda mais rara,
a fragilidade da Rússia em combater o terror -mesmo tendo depois prometido firmeza em enfrentar o que ele chamou de "um
ataque a todos nós".
Sob o despertar de mais uma
crise que parece não ter fim, a
imagem de Putin parece cada vez
menos persuasiva para aqueles
que esperam resposta. "Onde ele
estava antes?", perguntou um homem em Beslan, Valery Dzatiyev,
enquanto continuava sua busca,
cada vez mais desesperada, por
seu irmão de 8 anos, que estava
entre os seqüestrados ainda não
contabilizados após o final caótico do evento.
O seqüestro, parte de uma série
de ataques que deixou quase 500
mortos em pouco mais de dez
dias, tornou-se a evidência de
uma verdade feia, que atravessou
o controle do Kremlin sobre o noticiário da TV estatal e sobre o resto da mídia oficial, que vinham
mostrando que a vida na Tchetchênia era uma marcha diária em
direção à paz e à prosperidade.
Do que se sabe até agora, os ataques foram perpetrados por terroristas ligados ao movimento separatista tchetcheno, e grande
parte da raiva da população dirige-se a eles. Mas a maneira como
o governo lidou com os ataques e
a resposta que Putin deu à população também provocaram uma
fumaça de descontentamento rara. Pela primeira vez, surgem fissuras no antes sólido poder político de Putin e em sua alta popularidade.
"Este é o pico da crise de Putin",
disse Aleksei Malashenko, um
analista do Carnegie Moscow
Center, numa entrevista realizada
na sexta-feira, antes do início das
explosões que deram fim ao seqüestro na escola e causaram a
morte de centenas de pessoas.
"Ele está perdendo o controle da
situação, não sabe o que fazer."
Mesmo assim, a evidente situação de desconforto político não
impõe ameaça real ao cargo presidencial. Putin apenas iniciou seu
segundo ano de mandato, e, mais
ainda, há poucas figuras políticas
proeminentes que poderiam reunir descontentes ao seu redor.
"Nós não temos outros líderes",
disse Liliya Shcevtsova, também
analista no Carnegie Moscow.
Mas os recentes eventos que
aconteceram nas últimas semanas expuseram Putin de uma forma inédita. "O grande mito foi
quebrado", afirmou Schcevtsova.
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