São Paulo, quarta-feira, 06 de setembro de 2006

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Bush e oposição elevam tom de debate sobre terror

Relatório da Casa Branca faz autocrítica; democratas divulgam estudo próprio

Em discurso, presidente compara Bin Laden a Hitler e cita Irã como financiador do terror; texto diz que ameaça terrorista está disseminada

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

O novo relatório da Casa Branca sobre a situação do combate ao terrorismo, um estudo divulgado por membros do Partido Democrata (oposição) e um discurso feito à tarde pelo presidente George W. Bush elevaram a temperatura do debate político nos EUA às vésperas do quinto aniversário dos ataques do 11 de Setembro e a poucas semanas das eleições legislativas que renovam parte do Congresso.
"Bin Laden e seus aliados terroristas deixaram suas intenções tão claras quanto as de Lênin e Hitler antes dele", disse Bush, na Associação dos Oficiais Militares da América, em Alexandria, cidade vizinha de Washington, diante de soldados e diplomatas de países que sofreram ataques terroristas. "A questão é: Vamos ouvir? Nós vamos dar atenção ao que esses homens malignos dizem?"
Seu discurso reforçou o relatório de 23 páginas divulgado de manhã pela Casa Branca, que revisa e atualiza a estratégia da administração na chamada "guerra ao terror".
Segundo a "Estratégia Nacional para Combater o Terror", feita pela primeira vez em 2003, os Estados Unidos "estão mais seguros mas ainda não totalmente seguros".
Os principais pontos do documento são a pulverização dos grupos terroristas, o enfraquecimento da Al Qaeda e sua adaptação rápida à reação norte-americana e o crescente papel do Irã como "Estado patrocinador" de organizações extremistas. De tom em geral positivo, o relatório faz certa autocrítica. "Embora o governo dos EUA e seus aliados tenham conseguido frustrar muitos ataques, não fomos capazes de evitar todos", afirma o texto. "Os terroristas atacaram em muitos lugares no mundo, de Bali a Beslan e Bagdá."
Analistas se dividiram quanto ao relatório. Houve quem enxergasse uma saudável auto-avaliação; houve, porém, quem detectasse o uso da mesma retórica do medo que de que a Casa Branca lançou mão nas últimas eleições presidenciais -com resultados positivos entre o eleitorado.
O documento oficial e as palavras de Bush foram atacados por estudo próprio divulgado logo em seguida pela oposição. Citando dados da organização Memorial Institute for the Prevention of Terrorism, apartidária e sem fins lucrativos, os democratas disseram que o número de membros da Al Qaeda pulou de 20 mil para 50 mil nos últimos cinco anos e o número de ataques da insurgência iraquiana passou de 200 em 2004 para 600 em 2006 até agora.
"Todos os discursos do mundo não vão mudar o que está acontecendo no Iraque", disse Harry Reid, líder da minoria democrata no Senado. "Sob a administração de Bush e desse Congresso republicano, a América está menos segura, encara ameaças maiores e está despreparada para o perigoso mundo em que vivemos."
Com ele concordaram seus companheiros de partido Thomas Carper, para quem "a verdade é que as políticas desse presidente não funcionaram e não nos deixaram mais seguros", e John Murtha, um dos mais fervorosos apoiadores da Guerra do Iraque, que agora defende a retirada das tropas norte-americanas no país árabe.

"Tiranos"
Bush voltou a bater na tecla do "fascismo islâmico" e na comparação entre os que são contra a Guerra do Iraque, principal bandeira da oposição democrata nessas eleições, e os que foram complacentes ou condescendentes com o nazismo antes da Segunda Guerra. Os dois motes vêm sido repetidos nos últimos dias pelo secretário da Defesa, Donald Rumsfeld (leia texto ao lado), e pelo vice-presidente, Dick Cheney.
O presidente norte-americano citou cartas, depoimentos colocados na internet, fitas de áudio e de vídeo divulgadas nos últimos meses por terroristas e documentos achados em esconderijos ao redor do mundo para dizer que, apesar de os EUA não terem sido atacados novamente desde 11 de setembro de 2001, o perigo terrorista continua forte. "Os terroristas que nos atacaram no 11 de Setembro são homens sem consciência, mas não são loucos", disse Bush. "Eles matam em nome de uma ideologia clara e focada, um conjunto de crenças malignas mas não insanas."
O republicano fez ainda um de seus mais duros discursos contra o Irã, no momento em que um ex-presidente daquele país, Mohammad Khatami, visita os Estados Unidos. "Assim como a Al Qaeda e os extremistas sunitas, o regime iraniano tem alvos claros. Eles querem tirar a América da região, destruir Israel e dominar o Oriente Médio de maneira mais abrangente. Pois a América não se curvará diante de tiranos."
A polarização das eleições legislativas em torno do tema "segurança interna" encontra eco nas pesquisas de opinião. Segundo estudo recente do instituto Ipsos para a agência de notícias Associated Press, um terço dos americanos ouvidos crê que os terroristas estejam ganhando a "guerra ao terror". E 37% acreditam que um Congresso dominado pelos democratas faria uma trabalho melhor nessa questão, ante 32% que favorecem os republicanos.


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