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Bush e oposição elevam tom de debate sobre terror
Relatório da Casa Branca faz autocrítica; democratas divulgam estudo próprio
Em discurso, presidente compara Bin Laden a Hitler e cita Irã como financiador do terror; texto diz que ameaça terrorista está disseminada
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
O novo relatório da Casa
Branca sobre a situação do
combate ao terrorismo, um estudo divulgado por membros
do Partido Democrata (oposição) e um discurso feito à tarde
pelo presidente George W.
Bush elevaram a temperatura
do debate político nos EUA às
vésperas do quinto aniversário
dos ataques do 11 de Setembro e
a poucas semanas das eleições
legislativas que renovam parte
do Congresso.
"Bin Laden e seus aliados terroristas deixaram suas intenções tão claras quanto as de Lênin e Hitler antes dele", disse
Bush, na Associação dos Oficiais Militares da América, em
Alexandria, cidade vizinha de
Washington, diante de soldados e diplomatas de países que
sofreram ataques terroristas.
"A questão é: Vamos ouvir? Nós
vamos dar atenção ao que esses
homens malignos dizem?"
Seu discurso reforçou o relatório de 23 páginas divulgado
de manhã pela Casa Branca,
que revisa e atualiza a estratégia da administração na chamada "guerra ao terror".
Segundo a "Estratégia Nacional para Combater o Terror",
feita pela primeira vez em
2003, os Estados Unidos "estão
mais seguros mas ainda não totalmente seguros".
Os principais pontos do documento são a pulverização dos
grupos terroristas, o enfraquecimento da Al Qaeda e sua
adaptação rápida à reação norte-americana e o crescente papel do Irã como "Estado patrocinador" de organizações extremistas. De tom em geral positivo, o relatório faz certa autocrítica. "Embora o governo
dos EUA e seus aliados tenham
conseguido frustrar muitos
ataques, não fomos capazes de
evitar todos", afirma o texto.
"Os terroristas atacaram em
muitos lugares no mundo, de
Bali a Beslan e Bagdá."
Analistas se dividiram quanto ao relatório. Houve quem
enxergasse uma saudável auto-avaliação; houve, porém, quem
detectasse o uso da mesma retórica do medo que de que a Casa Branca lançou mão nas últimas eleições presidenciais
-com resultados positivos entre o eleitorado.
O documento oficial e as palavras de Bush foram atacados
por estudo próprio divulgado
logo em seguida pela oposição.
Citando dados da organização
Memorial Institute for the Prevention of Terrorism, apartidária e sem fins lucrativos, os democratas disseram que o número de membros da Al Qaeda
pulou de 20 mil para 50 mil nos
últimos cinco anos e o número
de ataques da insurgência iraquiana passou de 200 em 2004
para 600 em 2006 até agora.
"Todos os discursos do mundo não vão mudar o que está
acontecendo no Iraque", disse
Harry Reid, líder da minoria
democrata no Senado. "Sob a
administração de Bush e desse
Congresso republicano, a América está menos segura, encara
ameaças maiores e está despreparada para o perigoso mundo
em que vivemos."
Com ele concordaram seus
companheiros de partido Thomas Carper, para quem "a verdade é que as políticas desse
presidente não funcionaram e
não nos deixaram mais seguros", e John Murtha, um dos
mais fervorosos apoiadores da
Guerra do Iraque, que agora defende a retirada das tropas norte-americanas no país árabe.
"Tiranos"
Bush voltou a bater na tecla
do "fascismo islâmico" e na
comparação entre os que são
contra a Guerra do Iraque,
principal bandeira da oposição
democrata nessas eleições, e os
que foram complacentes ou
condescendentes com o nazismo antes da Segunda Guerra.
Os dois motes vêm sido repetidos nos últimos dias pelo secretário da Defesa, Donald Rumsfeld (leia texto ao lado), e pelo
vice-presidente, Dick Cheney.
O presidente norte-americano citou cartas, depoimentos
colocados na internet, fitas de
áudio e de vídeo divulgadas nos
últimos meses por terroristas e
documentos achados em esconderijos ao redor do mundo
para dizer que, apesar de os
EUA não terem sido atacados
novamente desde 11 de setembro de 2001, o perigo terrorista
continua forte. "Os terroristas
que nos atacaram no 11 de Setembro são homens sem consciência, mas não são loucos",
disse Bush. "Eles matam em
nome de uma ideologia clara e
focada, um conjunto de crenças
malignas mas não insanas."
O republicano fez ainda um
de seus mais duros discursos
contra o Irã, no momento em
que um ex-presidente daquele
país, Mohammad Khatami, visita os Estados Unidos. "Assim
como a Al Qaeda e os extremistas sunitas, o regime iraniano
tem alvos claros. Eles querem
tirar a América da região, destruir Israel e dominar o Oriente
Médio de maneira mais abrangente. Pois a América não se
curvará diante de tiranos."
A polarização das eleições legislativas em torno do tema
"segurança interna" encontra
eco nas pesquisas de opinião.
Segundo estudo recente do instituto Ipsos para a agência de
notícias Associated Press, um
terço dos americanos ouvidos
crê que os terroristas estejam
ganhando a "guerra ao terror".
E 37% acreditam que um Congresso dominado pelos democratas faria uma trabalho melhor nessa questão, ante 32%
que favorecem os republicanos.
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