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Favorito no Uruguai copia receita de Lula
Candidato à Presidência, ex-guerrilheiro se preocupa em melhorar a aparência e promete gestão econômica sem rupturas
Avesso a formalidades, Mujica, que vive sem luxos em uma chácara, já tem a simpatia dos mais pobres e busca a dos conservadores
GUSTAVO HENNEMANN
DA REDAÇÃO
Com a imagem atrelada à esquerda radical, sem curso superior e estilo informal, o candidato governista à Presidência
do Uruguai, José Mujica, 75, reproduz hoje estratégias usadas
pelo presidente brasileiro, Luiz
Inácio Lula da Silva, para atenuar a rejeição do eleitorado
conservador.
Ex-guerrilheiro do Grupo de
Libertação Nacional Tupamaros e representante da extrema
esquerda da coalizão governista Frente Ampla (FA) -que
tem setores de centro e de esquerda-, Mujica vem enfatizando que não provocará rupturas na economia caso vença e
vem cuidando mais da aparência e do vestuário.
Em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, com
45%, o uruguaio tenta vencer o
pleito de 25 de outubro sem
precisar de segundo turno -se
houver, seus adversários dos
tradicionais partidos Nacional
e Colorado devem unir forças.
"A centro-direita [Partido
Nacional] tem feito a política
do medo, explorando a veia um
pouco conservadora de um país
que quer mudança, mas não
muita, algo suave. Por isso, nos
apresentam como mensageiros
da velha guerrilha, como um
perigo aos investidores, mas temos garantido a maior estabilidade possível", diz Mujica.
Em cartas publicadas durante a campanha -assim como
Lula em 2002 na "Carta ao Povo Brasileiro"-, o uruguaio
promete uma gestão econômica sóbria, mantendo a equipe
do governo Tabaré Vázquez,
seu correligionário que, em
2005, levou a FA ao poder, mas
é ligado a setores de centro.
À Folha Mujica disse que
Lula é o seu modelo e que buscará transformar as contradições sociais de maneira "política, negociada, mantendo a estabilidade e, sobretudo, favorecendo o investimento".
Senador mais votado na última eleição, Mujica também
exerceu o cargo de ministro de
Agricultura e Pecuária no atual
governo, mas nunca se acostumou a usar terno e gravata.
Dono de um discurso permeado de gírias e metáforas, leva uma vida sem luxo em uma
chácara perto de Montevidéu,
o que provoca empatia e forte
apoio da classe mais pobre.
Antes de ir a Brasília, em
agosto, mandou fazer um traje
especialmente para encontrar-se com Lula, completando a
mudança estética. Assim como
o brasileiro, já havia dedicado
maiores cuidados ao cabelo e à
barba no início da campanha.
"Não consigo imaginá-lo todos os dias de terno, mas o que
ele quer dizer é: fiquem tranquilos, uruguaios, quando precisar andar pelo mundo, me
reunir com presidentes, vou
estar bem vestido, vou deixar
uma boa imagem do nosso
país", diz o cientista político
Adolfo Garcé, da Universidade
da República do Uruguai.
Para Garcé, quando Mujica
fala no modelo Lula, quer dizer: "Venho de longe, fui um revolucionário, tenho pensamento socialista, mas agora estou disposto a fazer alianças
com o centro ou com a direita".
Foco na agropecuária
Apesar de ter entregue, em
troca de apoio, o comando da
economia a seu candidato a vice, o ex-ministro da Economia
Danilo Astori -com características mais liberais-, Mujica defenderá políticas de suporte
principalmente ao setor agropecuário, segundo Garcé.
"Ele diz o tempo todo que o
campo precisa mais de laboratórios do que de vacas. Seu sonho é que o Uruguai vire uma
Nova Zelândia, onde universidades cooperam com o campo.
Já Astori é mais partidário da
não interferência no mercado",
diz o cientista político.
Em outubro, Mujica enfrentará o ex-presidente Luis Alberto Lacalle (1990-1995), do
Partido Nacional, que tem 34%
das intenções de voto, e Pedro
Bordaberry, candidato do tradicional mas enfraquecido Partido Colorado, que tem 9%.
Em busca dos votos que lhe
faltam para vencer no primeiro
turno, Mujica agora pede a seus
partidários que invistam nos
7% de indecisos.
"Não tem sentido falar com
quem já está convencido, é como dançar com a irmã", disse à
maneira de Lula na semana
passada em um comício no interior do país.
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