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ANÁLISE
Bombas provam avanço no processo de paz
SÉRGIO MALBERGIER
da Redação
Por pior que pareçam, os atentados em Israel de ontem são
prova de que a paz avança entre
israelenses e palestinos. É a voz
dos extremistas, tentando impedir qualquer acomodação com a
"entidade sionista" e atrair os
excluídos pelo processo de paz.
Iniciada com os Acordos de
Oslo, em 1993, a paz trouxe alguns benefícios aos palestinos.
Eles quase não precisam mais
conviver em suas grandes cidades com a brutalidade da ocupação israelense, devem declarar
seu Estado até o final do ano que
vem, já têm um aeroporto, uma
bolsa de valores, terão um porto.
Mas, enquanto o presidente da
Autoridade Nacional Palestina
(ANP), Iasser Arafat, e boa parte
da liderança palestina voltaram
do exílio para uma vida confortável e até luxuosa em Gaza e na
Cisjordânia, a imensa maioria
dos palestinos pouco usufruiu
materialmente da paz.
A economia palestina engatinha, e o desemprego é crescente.
Os campos de refugiados de Gaza seguem sendo uma filial do
inferno na Terra, terreno fértil
para os pregadores de grupos
extremistas islâmicos como o
Hamas e a Jihad Islâmica.
É de lá que sai boa parte dos
"homens-bombas" que fazem
ecoar nas ruas de Israel o desespero e a revolta que, dentro da
ANP, são estritamente vigiados.
Segundo a ANP, de US$ 800
milhões em ajuda externa para
este ano prometidos pelos países
industrializados, apenas US$ 65
milhões chegaram.
A melhora das condições de
vida das massas palestinas seguramente diminuiria o apelo dos
grupos extremistas.
Mas não bastará para acabar
com o terrorismo, mais velho
que o Estado de Israel (de 1948) e
já usado pelos sionistas. Quando
assuntos como o futuro de Jerusalém e dos refugiados começarem a ser debatidos, alimentarão
mais frustrações e revolta.
A lógica inicial do processo de
paz, com otimismo exagerado,
previa que palestinos e israelenses estariam negociando o status
final da região já no ano passado, beneficiados por cinco anos
de progressos e melhor convivência.
A lógica agora é outra. O premiê israelense, Ehud Barak, quer
apressar as negociações do status final e a separação definitiva
entre Israel e palestinos para evitar que novos problemas dificultem o processo.
Mas os dois povos estão geograficamente "condenados" à
convivência, dividindo uma terra do tamanho de Sergipe. É garantia de mais confusão.
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