São Paulo, Segunda-feira, 06 de Setembro de 1999
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ANÁLISE
Bombas provam avanço no processo de paz

SÉRGIO MALBERGIER
da Redação

Por pior que pareçam, os atentados em Israel de ontem são prova de que a paz avança entre israelenses e palestinos. É a voz dos extremistas, tentando impedir qualquer acomodação com a "entidade sionista" e atrair os excluídos pelo processo de paz.
Iniciada com os Acordos de Oslo, em 1993, a paz trouxe alguns benefícios aos palestinos. Eles quase não precisam mais conviver em suas grandes cidades com a brutalidade da ocupação israelense, devem declarar seu Estado até o final do ano que vem, já têm um aeroporto, uma bolsa de valores, terão um porto.
Mas, enquanto o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Iasser Arafat, e boa parte da liderança palestina voltaram do exílio para uma vida confortável e até luxuosa em Gaza e na Cisjordânia, a imensa maioria dos palestinos pouco usufruiu materialmente da paz.
A economia palestina engatinha, e o desemprego é crescente. Os campos de refugiados de Gaza seguem sendo uma filial do inferno na Terra, terreno fértil para os pregadores de grupos extremistas islâmicos como o Hamas e a Jihad Islâmica.
É de lá que sai boa parte dos "homens-bombas" que fazem ecoar nas ruas de Israel o desespero e a revolta que, dentro da ANP, são estritamente vigiados.
Segundo a ANP, de US$ 800 milhões em ajuda externa para este ano prometidos pelos países industrializados, apenas US$ 65 milhões chegaram.
A melhora das condições de vida das massas palestinas seguramente diminuiria o apelo dos grupos extremistas.
Mas não bastará para acabar com o terrorismo, mais velho que o Estado de Israel (de 1948) e já usado pelos sionistas. Quando assuntos como o futuro de Jerusalém e dos refugiados começarem a ser debatidos, alimentarão mais frustrações e revolta.
A lógica inicial do processo de paz, com otimismo exagerado, previa que palestinos e israelenses estariam negociando o status final da região já no ano passado, beneficiados por cinco anos de progressos e melhor convivência.
A lógica agora é outra. O premiê israelense, Ehud Barak, quer apressar as negociações do status final e a separação definitiva entre Israel e palestinos para evitar que novos problemas dificultem o processo.
Mas os dois povos estão geograficamente "condenados" à convivência, dividindo uma terra do tamanho de Sergipe. É garantia de mais confusão.


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