São Paulo, Segunda-feira, 06 de Setembro de 1999
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TIMOR LESTE
Mortos seriam mais de cem; Conselho de Segurança da ONU decide enviar missão à Indonésia
Grupos antiindependência tomam Dili

RENATO FRANZINI
enviado especial a Timor Leste

Grupos antiindependência tomaram ontem a capital de Timor Leste, Dili, incendiaram dezenas de casas e um hotel onde estavam jornalistas, invadiram a casa do bispo Carlos Ximenes Belo (Prêmio Nobel da Paz de 1996) e abriram fogo contra civis em diversos pontos da cidade.
O Conselho de Segurança da ONU convocou uma reunião de emergência e decidiu enviar uma missão a Jacarta para debater com o governo indonésio medidas para conter a violência no local.
Segundo o CNRT (Conselho Nacional de Resistência Timorense), pelo menos cem pessoas já morreram desde o anúncio, no sábado de manhã, do resultado do plebiscito em que a população da ex-colônia portuguesa votou maciçamente (78,5%) pela separação em relação à Indonésia.
O CNRT acredita que o número de mortes pode passar de 200.
A campanha de violência acontece sem a resistência da polícia e do Exército indonésio, que deveriam garantir a segurança no território, segundo os acordos que permitiram a realização do referendo na segunda passada.
O chanceler indonésio, Ali Alatas, disse ontem à Unamet (Missão das Nações Unidas para o Timor Leste) que os grupos armados antiindependência desconfiam da validade da votação.
Acreditam que a Unamet, encarregada da organização do pleito, fez campanha pró-independência. A Unamet disse que faria hoje uma conferência para responder às reclamações.
A escalada da violência fez com que o premiê português, António Guterres, pedisse uma intervenção militar no território. A Austrália, vizinha de Timor, afirmou que irá realizar hoje uma operação para retirar funcionários da ONU e australianos da região.
Uma delegação de ministros do governo indonésio, liderada por Alatas, visitou ontem Dili numa missão anunciada como tentativa de impor "a lei e a ordem" no território. Não saiu do aeroporto.
Reuniram-se numa sala do aeroporto com líderes pró e contra independência, com observadores militares da Unamet, com o chefe da Unamet, Ian Martin, e com o bispo Carlos Belo.
"O presidente Habibie disse que devemos tomar todos os passos necessários para garantir a lei e a ordem. De agora em diante, elas estarão garantidas no território até a entrega da administração à ONU", disse Alatas. O ministro afirmou que a Indonésia reconhece a validade do plebiscito.
Os grupos armados antiindependência controlam o porto e impedem a saída de embarcações com milhares de refugiados.
A Cruz Vermelha diz que pelo menos 25 mil pessoas fugiram de suas casas desde sábado, refugiando-se em missões religiosas e nas montanhas.
A ex-colônia portuguesa de Timor Leste foi invadida pelo Exército indonésio em dezembro de 1975 e anexada pelo país no ano seguinte. Nos primeiros anos de domínio indonésio, organizações de direitos humanos dizem que mais de 200 mil pessoas foram assassinadas ou morreram de fome ou de doenças.


O jornalista Renato Franzini viajou à Indonésia a convite da Associação Nações Unidas -Brasil.

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