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TIMOR LESTE
Mortos seriam mais de cem; Conselho de Segurança da ONU decide enviar missão à Indonésia
Grupos antiindependência tomam Dili
RENATO FRANZINI
enviado especial a Timor Leste
Grupos antiindependência tomaram ontem a capital de Timor
Leste, Dili, incendiaram dezenas
de casas e um hotel onde estavam
jornalistas, invadiram a casa do
bispo Carlos Ximenes Belo (Prêmio Nobel da Paz de 1996) e abriram fogo contra civis em diversos
pontos da cidade.
O Conselho de Segurança da
ONU convocou uma reunião de
emergência e decidiu enviar uma
missão a Jacarta para debater com
o governo indonésio medidas para conter a violência no local.
Segundo o CNRT (Conselho
Nacional de Resistência Timorense), pelo menos cem pessoas já
morreram desde o anúncio, no
sábado de manhã, do resultado
do plebiscito em que a população
da ex-colônia portuguesa votou
maciçamente (78,5%) pela separação em relação à Indonésia.
O CNRT acredita que o número
de mortes pode passar de 200.
A campanha de violência acontece sem a resistência da polícia e
do Exército indonésio, que deveriam garantir a segurança no território, segundo os acordos que
permitiram a realização do referendo na segunda passada.
O chanceler indonésio, Ali Alatas, disse ontem à Unamet (Missão das Nações Unidas para o Timor Leste) que os grupos armados antiindependência desconfiam da validade da votação.
Acreditam que a Unamet, encarregada da organização do pleito, fez campanha pró-independência. A Unamet disse que faria
hoje uma conferência para responder às reclamações.
A escalada da violência fez com
que o premiê português, António
Guterres, pedisse uma intervenção militar no território. A Austrália, vizinha de Timor, afirmou
que irá realizar hoje uma operação para retirar funcionários da
ONU e australianos da região.
Uma delegação de ministros do
governo indonésio, liderada por
Alatas, visitou ontem Dili numa
missão anunciada como tentativa
de impor "a lei e a ordem" no território. Não saiu do aeroporto.
Reuniram-se numa sala do aeroporto com líderes pró e contra
independência, com observadores militares da Unamet, com o
chefe da Unamet, Ian Martin, e
com o bispo Carlos Belo.
"O presidente Habibie disse que
devemos tomar todos os passos
necessários para garantir a lei e a
ordem. De agora em diante, elas
estarão garantidas no território
até a entrega da administração à
ONU", disse Alatas. O ministro
afirmou que a Indonésia reconhece a validade do plebiscito.
Os grupos armados antiindependência controlam o porto e
impedem a saída de embarcações
com milhares de refugiados.
A Cruz Vermelha diz que pelo
menos 25 mil pessoas fugiram de
suas casas desde sábado, refugiando-se em missões religiosas e
nas montanhas.
A ex-colônia portuguesa de Timor Leste foi invadida pelo Exército indonésio em dezembro de
1975 e anexada pelo país no ano
seguinte. Nos primeiros anos de
domínio indonésio, organizações
de direitos humanos dizem que
mais de 200 mil pessoas foram assassinadas ou morreram de fome
ou de doenças.
O jornalista Renato Franzini viajou à Indonésia a convite da Associação Nações Unidas
-Brasil.
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