São Paulo, sábado, 06 de outubro de 2001

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Com provas, Taleban processaria Bin Laden

DA REDAÇÃO

O Taleban, grupo extremista islâmico que controla o Afeganistão, está disposto a processar o saudita Osama bin Laden caso os EUA apresentem provas de seu envolvimento nos atentados contra Nova York e Washington.
O embaixador do Taleban em Islamabad, capital do Paquistão, Abdul Salam Zaeef, disse que seu país buscaria uma solução islâmica para processar Bin Laden, se as provas dos EUA forem verídicas. A hipótese de entregar o saudita para os EUA foi descartada. "Um país islâmico não pode entregar um muçulmano para um país que não seja (dessa religião)", disse.
Até agora, os norte-americanos apresentaram supostas provas da implicação de Bin Laden nos atentados do dia 11 de setembro a seus aliados da Otan (aliança militar ocidental) e ao Paquistão. Porém nada foi enviado ao Taleban.
Os Estados Unidos e seus aliados ameaçam atacar o Taleban, caso o grupo continue se negando a entregar Bin Laden, radicado no Afeganistão desde que o grupo conquistou o poder, há cinco anos. Exigem também o desmantelamento da rede terrorista al Qaeda, liderada por Bin Laden. Para evitar a ação dos EUA, Zaeef vem insistindo em uma solução negociada. "Necessitamos ajuda, alimentos, proteção e reconstrução, não de uma guerra" afirmou.

Oposição
O ex-rei do Afeganistão, Zahir Shah, pretende enviar alguns assessores ao Paquistão para começar a articular o seu papel no Afeganistão, caso o Taleban seja derrubado, atendendo a convite feito pelo presidente paquistanês, Pervez Musharraf. "Estaremos enviando alguém o mais cedo possível e esperamos poder explicar que buscamos a paz para trazer de volta o bem-estar ao Afeganistão e aos países vizinhos", disse Hedayat Amin Arsala, que foi chanceler no período em que Shah reinou no país (1933-73).
O convite de Musharraf ao ex-rei abre uma possibilidade de um envolvimento de Shah, de 86 anos, em um governo de transição caso o Taleban seja derrubado. O monarca ainda goza de popularidade entre a população afegã, mas sua idade praticamente exclui a possibilidade de ele retornar ao poder definitivamente.
Opondo-se ao encontro de aliados de Shah com o governo paquistanês, a principal força opositora do Afeganistão, a Aliança do Norte, que ocupa uma parcela minoritária do país, alertou o Paquistão para que não interfira no futuro afegão caso o Taleban seja derrubado.
O ministro das Relações Exteriores da Aliança do Norte, Abdullah Abdullah, afirmou que "o Paquistão não pode esquecer a sua responsabilidade pela situação atual do Afeganistão, porque foram os paquistaneses que apoiaram o regime Taleban".
A Aliança do Norte ocupou o governo afegão até 1996, quando rachas internos levaram a coalizão a uma crise e o Taleban chegou ao poder, após enfrentamentos, que ainda prosseguem.
Apesar dos avanços na frente militar, com a conquista de cidades no norte afegão, e diplomática, com o apoio de países estrangeiros, a Aliança do Norte sofreu um revés ontem.
Um funcionário da ONU afirmou que a Aliança do Norte se tornou o responsável pela maior parcela da produção de ópio no Afeganistão, após o Taleban combater com medidas repressivas o plantio da papoula em outras regiões do país.
O grupo produziu 150 toneladas da droga este ano, de acordo com Mohammad Amirjizi, conselheiro do escritório da ONU para o controle de drogas.
O Afeganistão produziu 75% do ópio mundial em 1999, 70% em 2000. Mas em 2001, até agora, saiu do país o equivalente a 10% da produção mundial. A queda é uma consequência das medidas restritivas impostas pelo Taleban.


Com agências internacionais


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