|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Grupo civil pró-Chávez promete impedir novo golpe
DA REDAÇÃO
Acusados pela oposição venezuelana de terem se transformado
em grupos paramilitares armados, os Círculos Bolivarianos,
grupos civis de apoio ao governo,
serão o principal sustentáculo do
presidente Hugo Chávez para repelir um eventual novo golpe de
Estado, segundo Freddy Bernal,
prefeito do Município Libertador
[distrito central de Caracas" e um
dos principais coordenadores
desses grupos.
Bernal, considerado um dos líderes políticos venezuelanos mais
próximos a Chávez, nega que tenha ajudado a armar os Círculos
Bolivarianos. Segundo ele, membros desses grupos eventualmente envolvidos com armas durante
os distúrbios de 11 de abril, que
antecederam o golpe que tirou
Chávez do cargo por dois dias, estavam agindo por conta própria.
"Quem deve ter armas são as
Forças Armadas nacionais, as forças policiais e os cidadãos que hoje legalmente já as tenham. Nem
os Círculos Bolivarianos nem a
oposição devem ter armas", disse
ele em entrevista por telefone à
Folha, de Caracas.
(ROGERIO WASSERMANN)
Folha - Passados mais de cinco
meses do golpe de Estado que tirou
o presidente Hugo Chávez do poder por dois dias, a situação política no país continua tensa. O sr. vê
riscos de um novo golpe?
Freddy Bernal - Os mesmos fatores que levaram ao golpe seguem
existindo no país, e isso não é segredo para ninguém. Os mesmos
militares que deram o golpe no
dia 11 de abril seguem se reunindo
para tentar outro golpe. E os mesmos fatores civis, como membros
da CTV (Confederação dos Trabalhadores Venezuelanos), da Fedecámaras (principal associação
empresarial da Venezuela) e donos dos grandes meios de comunicação, estão buscando uma saída não-institucional.
Folha - O governo tem algum plano de contenção de um eventual
novo golpe?
Bernal - Definitivamente, o que
aconteceu em 11 de abril não voltará a acontecer. Por ingenuidade
política e por uma extremada nobreza, não queríamos acreditar
que houvesse um golpe de Estado.
Atuamos talvez com muita lentidão. Mas, depois disso, trabalhamos fortemente com o povo, que
está preparado para rechaçar
qualquer golpe de Estado. Estamos preparados militarmente e
politicamente.
Folha - Essa organização do povo
que o sr. menciona significa a organização dos Círculos Bolivarianos?
Bernal - Sem dúvida alguma. Os
Círculos Bolivarianos são um modelo de organização social básico
de nosso processo revolucionário.
Ali está desde gente muito humilde até profissionais, evangélicos,
sacerdotes católicos, todos fazendo trabalhos nas comunidades.
Folha - A oposição diz que o sr. armou os Círculos Bolivarianos e os
transformou em grupos paramilitares de apoio ao governo.
Bernal - Efetivamente, os Círculos Bolivarianos começaram a se
formar há mais de um ano e meio
e são uma força muito importante
no país para o trabalho social. Os
Círculos Bolivarianos estão permanentemente, no setor camponês, reparando escolas, ambulatórios, recolhendo lixo, fazendo
campanhas de educação, combatendo a pobreza. A oposição vê os
Círculos Bolivarianos como forma de organização que segue
crescendo e trata de depreciá-los,
acusando-os de serem grupos armados, associados com os cubanos ou com terroristas. É uma
campanha sistemática, com a ajuda dos meios de comunicação,
com a intenção de satanizá-los.
Porém, até agora, ninguém conseguiu provar -nem conseguirá,
porque não é verdade- a conexão dos Círculos Bolivarianos
com alguma ação armada.
Folha - Que participação tiveram
os Círculos Bolivarianos no golpe e
no contragolpe de abril?
Bernal - Podemos dizer que graças aos Círculos Bolivarianos eu
posso lhe dar agora esta entrevista, porque após o golpe os círculos
começaram a baixar dos morros
de Caracas e a se mover na direção do centro de poder. Em poucas horas, havia na cidade de Caracas mais de 300 mil pessoas em
volta do Palácio de Miraflores,
200 mil pessoas em frente ao Forte Tiuna e outras 200 mil em frente ao forte da cidade de Maracay.
Se os Círculos Bolivarianos estivessem armados, a melhor ocasião para atuar seria o dia 13 de
abril, em defesa do presidente que
estava detido. Mas ninguém pode
dizer que houve uso de armas nos
dias 12 e 13 de abril.
Folha - As imagens das manifestações de 11 de abril mostram que
houve efetivamente confronto armado entre chavistas e opositores.
Eram membros dos círculos?
Bernal - Talvez, não posso dizer
com exatidão. Lamentavelmente,
houve gente simpatizante do governo e gente simpatizante da
oposição que fez uso de armas de
fogo. Nós ratificamos nossa posição de que qualquer pessoa que
tenha feito uso de armas de fogo
deve ser presa, como efetivamente alguns já foram. Já há seis pessoas presas processadas por uso
indevido de armas de fogo. Mas,
se alguma dessas pessoas pertencia a algum Círculo Bolivariano,
foi uma ação individual. Não foi
uma ação dos Círculos Bolivarianos.
Folha - A organização dos Círculos Bolivarianos é uma cópia de um
modelo cubano?
Bernal - Aqui na Venezuela a
oposição sonha com Cuba, não
sei por quê. Eles têm essa política
de nos satanizar e de confundir a
comunidade internacional tentando associar tudo a Cuba. Mas
os venezuelanos, por sua idiossincrasia, não aceitariam uma ditadura nem de direita nem de esquerda. Porque os venezuelanos
não gostamos que nos mandem,
os venezuelanos somos livres.
Não queremos um regime de controle ou de cerceamento de liberdades. E o comandante Hugo
Chávez já declarou várias vezes
que a democracia é o melhor sistema de governo, com suas falhas
e suas virtudes.
Os círculos são um modelo de
organização absolutamente venezuelano, criado por nós, para organizar as pessoas para o trabalho
social. Não têm nada a ver com a
defesa armada nem com movimentos armados. Ainda que digamos isso mil vezes, a oposição vai
dizer mil vezes o contrário.
Texto Anterior: Analistas descartam eixo Lula-Chávez-Fidel Próximo Texto: Crise fez Círculos Bolivarianos se destacarem Índice
|