São Paulo, quarta-feira, 06 de novembro de 2002

Próximo Texto | Índice

EUA

Terror e economia não motivaram eleitor, mas resultado será interpretado como aprovação ou reprovação a Bush nessas áreas

Americano vota de olho em questões locais

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Ao votarem ontem nas eleições gerais, os americanos não pensaram na guerra ao terror nem no desempenho na área econômica. Pesquisas indicam que os eleitores foram às urnas motivados por questões locais ou pela liderança pessoal dos candidatos.
Os eleitores definiram os candidatos para 34 das 100 cadeiras do Senado, todas as 435 na Câmara dos Representantes (deputados), milhares de cargos legislativos estaduais e a disputa pelo governo em 36 dos 50 Estados.
Antes do fechamento das urnas, as TVs americanas cancelaram a divulgação das pesquisas de boca-de-urna. O Voter News Service, consórcio entre as emissoras que errou projeções nas eleições presidenciais de 2000, decidiu não divulgá-las por considerar sua própria metodologia "não confiável".
Assim, o resultado das disputas mais acirradas -que definirão o controle do Congresso- deverá sair somente hoje. Em pelo menos oito Estados, as eleições para o Senado estavam empatadas.
A Casa Branca e a oposição prometem usar o resultado das eleições para o debate nacional sobre os caminhos da política externa americana e da economia.
"Bush usará uma eventual vitória dos republicanos como um carimbo de aprovação às suas medidas de segurança e à sua política externa", disse James Thurber, diretor do Centro de Estudos Congressistas e Presidenciais. "Já os democratas, se ganharem, dirão que a população reprova o desempenho de Bush na economia. Os dois estarão errados, mas é assim que funciona a política."
Num país onde menos de 40% dos eleitores votam em eleições como a de ontem (na metade do mandato presidencial), é grande a diferença entre a motivação dos eleitores e o significado dado a seus votos pela classe política.
Os democratas precisam de mais dez cadeiras para assegurar, sem a ajuda de nenhum independente, a maioria na Câmara. No Senado, basta aos republicanos adicionar um único senador à sua bancada para retomar o controle.
Bush votou por volta das 8h locais (12h de Brasília) no quartel dos bombeiros da cidade de Crawford, no Texas, onde tem um rancho. Vestia jeans e estava acompanhado de sua mulher, Laura. Ele quase implorou aos americanos que votassem, deu autógrafos e lembrou que completou ontem 25 anos de casado.
Com o voto, Bush concluiu uma maratona eleitoral que o levou a cerca de 70 eventos para arrecadar fundos para republicanos.
Sozinho, o presidente levantou US$ 140 milhões, um volume inédito para presidentes em eleições em que a Casa Branca não está em jogo. Bush também viajou a 16 Estados durante cinco dias, participando de comícios em que usou sua popularidade de 60% e o desempenho da guerra contra o terror para convencer os eleitores.
"Não houve um tema nacional que tenha monopolizado os debates, como o impeachment em 1998", disse Thurber, referindo-se ao fracassado processo para afastar o presidente Bill Clinton.
Um dos poucos Estados afetados pelo jogo de poder nacional foi a Flórida. O governador Jeb Bush tentava reeleger-se dois anos depois de ter ajudado seu irmão George a conquistar a Casa Branca, rejeitando pedido dos democratas para recontar milhares de votos parcialmente perfurados por máquinas de votação antiquadas. Com 25% dos votos apurados, ele tinha 59% dos votos. O democrata Bill McBride, que é apoiado por Clinton, tinha 40%.


Próximo Texto: Referendos vão de maconha a briga de galo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.