|
Próximo Texto | Índice
Presos no Paquistão podem ser 3.500
Número é de analistas; regime diz que total de detidos sob estado de emergência "é apenas a metade"
Protestos eclodem e são contidos pela polícia com gás e espancamento; dúvida sobre as eleições gerais de janeiro segue sem resposta
DA REDAÇÃO
Novos protestos da população contra a imposição do estado de emergência no Paquistão
no último sábado levaram a
confrontos violentos com a polícia e a milhares de prisões ontem. Armados com bombas de
gás lacrimogêneo e bastões de
madeira, policiais atacaram advogados que protestavam contra o decreto e a suspensão da
Constituição em três das maiores cidades do país -Lahore,
Karachi e Rawalpindi.
Relatos sobre o número de
detidos desde o fim de semana
variam. Para o jornal "New
York Times", que cita fontes do
governo paquistanês, ao menos
150 advogados só em Lahore e
500 opositores em todo o país
foram presos. Já a agência Associated Press estima que há
3.500 detidos, segundo analistas, e metade deste número, de
acordo com dados oficiais.
O ditador paquistanês, general Pervez Musharraf, impôs o
estado de emergência há três
dias e o justificou pela crescente oposição no Judiciário, na
mídia e entre grupos políticos
-que, segundo ele, "prejudicam o combate ao terrorismo".
Estudantes universitários e
jornalistas também participaram de protestos ontem, e o
maior grupo de mídia do Paquistão, Jang Group, afirmou
ter recebido ordens para não
imprimir um jornal vespertino
-mas desobedeceu. Desde sábado, Musharraf impede a
transmissão de canais privados
e internacionais de TV.
Especula-se que o estado de
emergência tenha sido instituído para evitar que a Suprema
Corte anule a recente reeleição
do ditador, em outubro -a
Constituição impede que o presidente acumule o cargo de
chefe das Forças Armadas. A
decisão deveria sair nesta semana, mas os juízes da Suprema Corte foram destituídos.
Eleições
Acusado de dar um segundo
golpe no Paquistão -ele tomou
o poder em 1999-, Musharraf
sofre intensa pressão internacional para deixar a farda e convocar eleições gerais, sobretudo por seus aliados em Washington. Ele afirmou ontem
que mantém seus planos de se
tornar civil.
A dúvida sobre as eleições,
porém, permanecem. Com o
decreto, o governo sugeriu que
a votação, prevista para janeiro,
poderia ser adiada por um ano.
Ontem, nem o premiê do
país, Shaukat Aziz, nem o próprio Musharraf citaram a data
prevista para a realização das
eleições em suas declarações.
Segundo Aziz, casos em análise na Suprema Corte -incluindo a reeleição do ditador-
deverão ser resolvidos antes da
votação. Apenas o procurador-geral do país, Malik Abdul Qayyum, deu sinais de que as eleições serão mantidas. Segundo
ele, "ficou decidido que não haverá adiamento da eleição".
"Em 15 de novembro as assembléias [nacional e provinciais]
serão dissolvidas e as eleições
deverão ocorrer após 60 dias."
Pressão internacional
Ainda ontem, o presidente
dos EUA, George W. Bush, afirmou esperar que Musharraf
"restaure a democracia o mais
rápido possível". Washington
informou ter suspendido negociações anuais sobre defesa
com o país, mas não foram
anunciados cortes na ajuda financeira -o Paquistão é o
maior aliado dos EUA na região
em sua "guerra contra o terror"
e desde 11 de setembro de 2001
recebeu US$ 10 bilhões.
O Reino Unido também se
estuda mantém ou não a ajuda.
A Holanda foi o primeiro país a
suspender o fluxo financeiro
devido ao estado de emergência, bloqueando o envio de 15
milhões.
Com agências internacionais
Próximo Texto: Análise: Regime militar fraco não é solução Índice
|