São Paulo, terça-feira, 06 de novembro de 2007

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Presos no Paquistão podem ser 3.500

Número é de analistas; regime diz que total de detidos sob estado de emergência "é apenas a metade"

Protestos eclodem e são contidos pela polícia com gás e espancamento; dúvida sobre as eleições gerais de janeiro segue sem resposta

DA REDAÇÃO

Novos protestos da população contra a imposição do estado de emergência no Paquistão no último sábado levaram a confrontos violentos com a polícia e a milhares de prisões ontem. Armados com bombas de gás lacrimogêneo e bastões de madeira, policiais atacaram advogados que protestavam contra o decreto e a suspensão da Constituição em três das maiores cidades do país -Lahore, Karachi e Rawalpindi.
Relatos sobre o número de detidos desde o fim de semana variam. Para o jornal "New York Times", que cita fontes do governo paquistanês, ao menos 150 advogados só em Lahore e 500 opositores em todo o país foram presos. Já a agência Associated Press estima que há 3.500 detidos, segundo analistas, e metade deste número, de acordo com dados oficiais.
O ditador paquistanês, general Pervez Musharraf, impôs o estado de emergência há três dias e o justificou pela crescente oposição no Judiciário, na mídia e entre grupos políticos -que, segundo ele, "prejudicam o combate ao terrorismo".
Estudantes universitários e jornalistas também participaram de protestos ontem, e o maior grupo de mídia do Paquistão, Jang Group, afirmou ter recebido ordens para não imprimir um jornal vespertino -mas desobedeceu. Desde sábado, Musharraf impede a transmissão de canais privados e internacionais de TV.
Especula-se que o estado de emergência tenha sido instituído para evitar que a Suprema Corte anule a recente reeleição do ditador, em outubro -a Constituição impede que o presidente acumule o cargo de chefe das Forças Armadas. A decisão deveria sair nesta semana, mas os juízes da Suprema Corte foram destituídos.

Eleições
Acusado de dar um segundo golpe no Paquistão -ele tomou o poder em 1999-, Musharraf sofre intensa pressão internacional para deixar a farda e convocar eleições gerais, sobretudo por seus aliados em Washington. Ele afirmou ontem que mantém seus planos de se tornar civil.
A dúvida sobre as eleições, porém, permanecem. Com o decreto, o governo sugeriu que a votação, prevista para janeiro, poderia ser adiada por um ano.
Ontem, nem o premiê do país, Shaukat Aziz, nem o próprio Musharraf citaram a data prevista para a realização das eleições em suas declarações.
Segundo Aziz, casos em análise na Suprema Corte -incluindo a reeleição do ditador- deverão ser resolvidos antes da votação. Apenas o procurador-geral do país, Malik Abdul Qayyum, deu sinais de que as eleições serão mantidas. Segundo ele, "ficou decidido que não haverá adiamento da eleição". "Em 15 de novembro as assembléias [nacional e provinciais] serão dissolvidas e as eleições deverão ocorrer após 60 dias."

Pressão internacional
Ainda ontem, o presidente dos EUA, George W. Bush, afirmou esperar que Musharraf "restaure a democracia o mais rápido possível". Washington informou ter suspendido negociações anuais sobre defesa com o país, mas não foram anunciados cortes na ajuda financeira -o Paquistão é o maior aliado dos EUA na região em sua "guerra contra o terror" e desde 11 de setembro de 2001 recebeu US$ 10 bilhões.
O Reino Unido também se estuda mantém ou não a ajuda. A Holanda foi o primeiro país a suspender o fluxo financeiro devido ao estado de emergência, bloqueando o envio de 15 milhões.


Com agências internacionais


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