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análise
Regime militar fraco não é solução
QUENTIN PEEL
DO "FINANCIAL TIMES"
A declaração de estado de
emergência no Paquistão foi
precedida por uma terrível
sensação de inevitabilidade
que se arrastou por meses. A
causa é a fraqueza crescente
do regime de Pervez Musharraf, mais do que qualquer
força nova de seus adversários -quer sejam os partidos
políticos tradicionais ou os
grupos fundamentalistas.
Nos oito anos passados
desde que Musharraf primeiro tomou o poder do governo civil de Nawaz Sharif,
o general prometeu repetidas vezes conduzir seu país
de volta à democracia plena,
e repetidas vezes deixou de
fazê-lo. Em lugar disso, Musharraf permitiu que o setor
militar se fortalecesse, reforçando seu papel de Estado
dentro do Estado; permitiu o
crescimento dos grupos fundamentalistas, em parte para
servir de contrapeso aos partidos políticos estabelecidos,
que vê com desconfiança, e
presidiu sobre uma queda
contínua no poder e na autoridade do governo central,
acompanhada de reivindicações de autonomia maior de
regiões no norte do país.
Do lado positivo, buscou
avançar nas conversas com o
governo indiano sobre o futuro da Caxemira e presidiu
sobre uma recuperação econômica, mas os benefícios do
crescimento não chegaram à
maioria da população.
Quando subiu ao poder,
em 1999, Musharraf foi visto
como potencial salvador do
país da corrupção do governo civil e como adversário
firme do fundamentalismo
muçulmano. Acabou fracassando nos dois quesitos.
Os governos civis anteriores de Sharif e Benazir Bhutto foram marcados pela corrupção, e, em 1999, a comunidade internacional sentiu-se tentada a dar um voto de
confiança ao general Musharraf, apesar de, formalmente, ter condenado a derrubada da democracia.
Agora o líder paquistanês
tenta repetir a manobra, embora desta vez não como alguém que se propõe a acabar
com a corrupção, mas como
bastião contra o fundamentalismo e aliado vital dos
EUA na "guerra ao terror".
Ao lançar um segundo golpe de Estado, Musharraf
causa constrangimento agudo aos EUA e outros aliados.
Todas as evidências sugerem
que sua ação foi voltada mais
contra os juízes da Suprema
Corte que contra os grupos
fundamentalistas.
Não existe solução fácil para resolver a instabilidade do
Paquistão, e poucos acreditam que a realização de eleições democráticas, por si só,
seja a resposta. Nenhuma estabilidade será possível sem
o envolvimento estreito dos
establishments militar e de
segurança. Mas os últimos
oito anos levam a crer que
um governo militar fraco e
indeciso tampouco representa uma resposta.
Tradução de CLARA ALLAIN
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