São Paulo, terça-feira, 06 de novembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

análise

Regime militar fraco não é solução

QUENTIN PEEL
DO "FINANCIAL TIMES"

A declaração de estado de emergência no Paquistão foi precedida por uma terrível sensação de inevitabilidade que se arrastou por meses. A causa é a fraqueza crescente do regime de Pervez Musharraf, mais do que qualquer força nova de seus adversários -quer sejam os partidos políticos tradicionais ou os grupos fundamentalistas.
Nos oito anos passados desde que Musharraf primeiro tomou o poder do governo civil de Nawaz Sharif, o general prometeu repetidas vezes conduzir seu país de volta à democracia plena, e repetidas vezes deixou de fazê-lo. Em lugar disso, Musharraf permitiu que o setor militar se fortalecesse, reforçando seu papel de Estado dentro do Estado; permitiu o crescimento dos grupos fundamentalistas, em parte para servir de contrapeso aos partidos políticos estabelecidos, que vê com desconfiança, e presidiu sobre uma queda contínua no poder e na autoridade do governo central, acompanhada de reivindicações de autonomia maior de regiões no norte do país.
Do lado positivo, buscou avançar nas conversas com o governo indiano sobre o futuro da Caxemira e presidiu sobre uma recuperação econômica, mas os benefícios do crescimento não chegaram à maioria da população.
Quando subiu ao poder, em 1999, Musharraf foi visto como potencial salvador do país da corrupção do governo civil e como adversário firme do fundamentalismo muçulmano. Acabou fracassando nos dois quesitos.
Os governos civis anteriores de Sharif e Benazir Bhutto foram marcados pela corrupção, e, em 1999, a comunidade internacional sentiu-se tentada a dar um voto de confiança ao general Musharraf, apesar de, formalmente, ter condenado a derrubada da democracia.
Agora o líder paquistanês tenta repetir a manobra, embora desta vez não como alguém que se propõe a acabar com a corrupção, mas como bastião contra o fundamentalismo e aliado vital dos EUA na "guerra ao terror".
Ao lançar um segundo golpe de Estado, Musharraf causa constrangimento agudo aos EUA e outros aliados. Todas as evidências sugerem que sua ação foi voltada mais contra os juízes da Suprema Corte que contra os grupos fundamentalistas.
Não existe solução fácil para resolver a instabilidade do Paquistão, e poucos acreditam que a realização de eleições democráticas, por si só, seja a resposta. Nenhuma estabilidade será possível sem o envolvimento estreito dos establishments militar e de segurança. Mas os últimos oito anos levam a crer que um governo militar fraco e indeciso tampouco representa uma resposta.


Tradução de CLARA ALLAIN


Texto Anterior: Presos no Paquistão podem ser 3.500
Próximo Texto: Cooperação militar: Pequim e Washington vão ter linha direta para Defesa
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.